São Paulo – Envolvida em uma série de problemas nos últimos anos, que tiveram como efeito danos à imagem e ao seu valor de mercado, a BRF tem investido na reconstrução de sua marca para deixar para trás o período de crise e suas consequências no dia a dia da operação. Em meados do ano passado, a companhia de alimentos contratou Reynaldo Goto para o cargo de diretor de compliance. O executivo passou a estruturar uma estratégia para disseminar na companhia normas que garantam o controle interno e externo da operação, segundo padrões legais e éticos.
Esses embaixadores têm acesso a uma plataforma on-line de informações e receberão treinamentos constantes sobre práticas de compliance. Só em Minas Gerais são quatro funcionários no chamado “sistema de integridade” – nas unidades de Uberlândia e de Ribeirão das Neves.
Segundo Goto, esse programa tem como meta melhorar a prevenção, a detecção e a solução de desvios de conduta e de fraudes. “A BRF entendeu que essas questões da integridade, de segurança e de qualidade dependem da atitude e engajamento de cada um. No final do dia, quem vai estar exposto a uma situação desse tipo é o funcionário, que também vai tomar uma decisão”, explica o executivo.
Ainda de acordo com o executivo, a plataforma de engajamento regional foi desenvolvida com o objetivo de tornar a política da empresa mais conhecida entre os colaboradores e assim garantir mais engajamento nas localidades.
Como a adesão ao programa era voluntária, Goto conta que no começo chegou a ter medo de que poucos se interessassem. Na primeira fase, 30 funcionários procuraram a empresa para fazer parte do programa de compliance e hoje já são cerca de 50, de áreas como contabilidade e produção. A empresa tem em torno de 90 mil funcionários e cerca de três quartos deles não têm acesso a correio eletrônico, o que também serviu para motivar a adoção do programa, já que os embaixadores são responsáveis por ouvir queixas e esclarecer dúvidas de forma presencial.
“O pré-requisito é que tenham uma imagem de credibilidade e integridade reconhecida por todos os colegas e que não sejam pessoas muito desconhecidas em seus departamentos, já que é um ponto de contato entre os colegas e a empresa para esclarecer dúvidas sobre procedimentos. E, é claro, procuramos por quem queira aprender, já que oferecemos treinamento sobre nosso sistema de integridade”, explica o diretor.
Os interessados em fazer parte do programa e que se tornaram embaixadores tiveram que passar por um teste com perguntas relacionadas a situações do dia a dia. Por exemplo, se a empresa pode fazer doação para campanha política ou como agir se um fornecedor decide dar um presente para alguém do setor de compras.
Depois de selecionado, o embaixador passa por um treinamento sobre regras e procedimentos no ambiente de negócios. “É um ganha-ganha. Ganha a BRF, que passa a ter pessoas mais engajadas, mais educadas sobre compliance e mais prontas para lidar e conduzir assuntos ligados a integridade. E ganham os embaixadores que passarão por treinamentos e poderão, quem sabe, se interessar por uma nova área em suas carreiras”, opina o executivo.
Um dos embaixadores da BRF é Carlos Azevedo, que trabalha na área de logística na unidade do Recife, que atende à regional do Nordeste. “Chamou a atenção a forma como a empresa decidiu se engajar em temas como segurança, qualidade no que entrega e integridade. Achei que seria uma oportunidade de poder participar e levar adiante o que esse conceito de integridade representa e inspirar os colegas”, relata o funcionário, que trabalha na companhia há oito anos.
No treinamento, Azevedo teve acesso às políticas de integridade da BRF, apresentadas como se fossem receitas – já que se trata de uma empresa de alimentos. “Na rotina de trabalho, há procedimentos a serem seguidos e nessa preparação temos uma direção sobre aquilo que deve ser feito”, explica.