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Estado de Minas FINANÇAS E VAREJO

Brasileiro quer quitar dívidas antes de comprar

Diante da perspectiva de um ano mais estável para a economia em 2019, trabalhadores pretendem se livrar de contas antigas para poder voltar a gastar, afirma estudo do SPC


postado em 28/11/2018 05:05 / atualizado em 28/11/2018 09:01

Comércio comemora resultado da pesquisa: com menos dívidas, consumidor pagará menos juros e, assim, terá mais dinheiro no bolso (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press - 8/12/16 )
Comércio comemora resultado da pesquisa: com menos dívidas, consumidor pagará menos juros e, assim, terá mais dinheiro no bolso (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press - 8/12/16 )

São Paulo – O Natal de 2018 promete ser melhor do que nos últimos anos, mas não será fácil para os empresários que esperam aumentar suas vendas. Estudo realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostra que, antes de sair às compras, mais brasileiros querem utilizar o 13º salário para se livrar de dívidas antigas antes de voltar a comprar.

 Esse é o caso de 86% dos entrevistados, percentual 1,18% superior aos 85%, em 2017. Em 2016, esse índice foi de 81%. Já a fatia dos que planejam gastar o salário extra com a compra de presentes caiu de 6%, há dois anos, para os atuais 5%. O maior percentual de trabalhadores dispostos a tirar dos ombros o peso de contas em atrasos reflete, segundo o estudo, a redução da atividade econômica nos últimos anos, o desemprego maior e taxas de juros elevadas.

"Deixar que receitas e, principalmente, despesas sigam sem acompanhamento e controle faz com que a perspectiva de um futuro financeiro fique à mercê da sorte%u201D

Edson Moraes, executive coach e consultor financeiro

 A cautela se explica pela dolorosa experiência deixada pela crise dos últimos anos no orçamento doméstico. O 13º salário é, historicamente, visto pelos consumidores como a chance de reorganizar as finanças pessoais. “O dinheiro deveria ser primeiramente pensado para pagar dívidas atrasadas, empréstimos ou investir. Se o consumidor tem só uma dívida em aberto, é mais fácil resolver o problema. Caso exista mais de uma, o ideal é escolher aquela que está atrasada ou optar pela que tem juros altos, como cheque especial e cartão de crédito”, afirma José Vignoli, educador financeiro do SPC.

 Ele considera importante avaliar os gastos no começo do ano, como IPTU, mensalidades escolares e IPVA. “Assim como a quitação de dívidas atrasadas, a formação de uma reserva para saldar compromissos típicos também deve ser prioridade. Todos os anos eles aparecem, mas muitos só deixam para pensar nessas despesas quando elas chegam”, garante.

 A decisão de quitar seus débitos antes de voltar a comprar é, no médio prazo, uma ótima notícia para o varejo, na avaliação da economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti. A razão é simples: com menos dívidas, o consumidor pagará menos juros e, por consequência, terá mais dinheiro no bolso para comprar ou poupar. “O trabalhador que quita as parcelas em atraso pode começar o ano no azul e voltar a comprar, de forma consciente”, diz Kawauti. “O consumidor deve tomar cuidado para nunca comprometer mais do que 30% do próprio rendimento com parcelamentos. Dessa forma, fica mais fácil manter o controle das contas e não entrar em superendividamento.”

 Ter de lidar com um consumidor mais cauteloso na hora das compras não significa que o Natal será ruim para o comércio. Pelo contrário. A estimativa da Confederação Nacional do Comércio (CNC) é de que, em meio à queda da inflação e dos juros, a data movimentará R$ 34,5 bilhões na economia, um avanço de 2,8% em relação ao mesmo período do ano passado, ante previsão anterior de alta de 2,3%.

 O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) prevê, com o pagamento do 13º salário, mais R$ 211,2 bilhões em circulação na economia nacional até o final de dezembro, o que representará 3% do Produto Interno Bruto (PIB).

 O otimismo sobre o futuro econômico do país e a queda na insatisfação com a situação atual também levaram a confiança do consumidor brasileiro a registrar, em novembro, o melhor nível em quase quatro anos e meio, de acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV). O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) saltou 7,1 pontos em novembro, atingindo 93,2 pontos, o maior patamar desde julho de 2014.

 “Há uma série de fatores que indicam uma melhoria do ambiente econômico, assim como é evidente que hoje existe um otimismo mais saudável, com o pé no chão”, diz o presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Hilgo Gonçalves (leia mais na entrevista abaixo).

 A combinação entre consumidores calejados pelas dívidas e um ambiente mais estável para a economia forçará as empresas a adotar uma nova postura para seduzir clientes. “Existe um novo consumidor no Brasil. Ele é mais cauteloso e planeja mais porque não sabe o que o espera no futuro. A crise é muito dura e moldou esse novo comportamento”, afirmou o diretor do Painel de Consumidores da Nielsen Brasil, Ricardo Alvarenga. “As recentes oscilações da economia moldaram um novo padrão de consumidor, mais disposto a trocar de marcas, a buscar rendas alternativas e a se adaptar a um orçamento restrito”, disse.

 A palavra-chave deste fim de ano, ao que tudo indica, será planejamento. Segundo Edson Moraes, executive coach e consultor financeiro, a solução para evitar que as festas terminem em endividamento e inadimplência é fazer contas. “É fundamental acompanhar periodicamente as receitas e despesas, seja para a gestão financeira do dia a dia ou para atingir objetivos de médio ou longo prazo”, recomenda o economista. “Deixar que receitas e, principalmente, despesas sigam sem acompanhamento e controle faz com que a perspectiva de um futuro financeiro fique à mercê da sorte.”

Entrevista

 

Hilgo Gonçalves
presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi)

“Estamos entrando na era do crédito saudável”


(foto: Reprodução/YouTube )
(foto: Reprodução/YouTube )
A maturidade do consumidor abre novas possibilidades para o mercado brasileiro, já que há uma tendência de uso mais consciente do crédito, segundo Hilgo Gonçalves. Para ele, quanto menor o endividamento e a inadimplência, maior será o consumo e menor será o custo dos empréstimos. “Estamos entrando na era do crédito saudável”, afirma.

A cautela do consumidor pode atrapalhar as vendas do comércio neste ano?
Não, porque estamos entrando na era do crédito saudável. O endividamento e a inadimplência não são bons para ninguém. Perde o trabalhador, perdem as empresas, perdem os bancos. Por isso, estamos otimistas, mas com o pé no chão. O crédito com recursos livres para pessoa física deve crescer 7% em 2018, e de 9% a 12%, no ano que vem. Um estudo que fizemos concluiu que 66% das pessoas estão confiantes com a recuperação brasileira. Desde 2015, é a primeira vez que o índice fica acima de 60%.

Os juros vão cair?
Já estão caindo. Os juros médios no mercado geral de crédito caíram de 42%, em 2016, para 30,4%, atualmente. A redução dos juros está relacionada à queda da inadimplência. E isso vai ficar melhor com a aprovação do chamado Cadastro Positivo no Congresso, que espero que aconteça ainda neste ano ou começo de 2019. A concorrência entre os bancos também deve ajudar a diminuir o custo do dinheiro.

Mas a economia voltará aos patamares pré-crise?
O crescimento é gradual, e é bom que seja. Sempre digo que o otimismo cauteloso vale mais do que otimismo exagerado. Pessimismo demais é ruim, mas otimismo demais também. Estamos apostando em uma recuperação gradual, constante e sustentável.


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