
Um trabalhador americano produz, em média, o mesmo que quatro brasileiros. Segundo estudo da Conference Board divulgado no fim do ano passado, cada brasileiro produziu, em média, US$ 30.265 em 2016. Já um americano, US$ 121.260.

No começo do ano, havia a expectativa de que o indicador subisse, impulsionado pela recuperação econômica, pela queda dos juros a mínimas históricas e pela aprovação de reformas, como a trabalhista, e a Lei de Responsabilidade das Estatais. Segundo Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências, três fatores justificaram a revisão da projeção para 2018. Todos eles estão ligados à redução da projeção do PIB (Produto Interno Bruto, a soma da produção de bens e serviços no país), que deve crescer 1,2% nas contas da consultoria, ante 2,8% na projeção inicial.
O primeiro fator é o cenário eleitoral bastante incerto. A indefinição a respeito do possível ganhador – e qual será a política econômica do futuro presidente –, adia os investimentos das empresas e, consequentemente, afeta o PIB e a produtividade.
O segundo fator é o cenário externo ruim para os negócios. A despeito da alta do dólar, a crise em países que importam produtos brasileiros, como a Argentina, impacta negativamente no PIB e na produtividade. Por fim, a greve dos caminhoneiros também provocou efeitos perversos. Além do impacto no nível de produção durante a greve, as medidas adotadas para debelar as manifestações, como o tabelamento de preço do frete, criaram um ambiente de incertezas para economia, inibindo ainda mais os investimentos.
"O governo precisa cuidar da agenda macroeconômica para estabelecer as bases para a retomada da economia"
Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências
Para 2019, as projeções da Tendências variam conforme a agenda a ser adotada pelo próximo presidente. Se o eleito adotar a agenda de reformas para equilibrar as contas públicas, como a previdenciária, e mantiver a lei do teto de gastos, a produtividade pode avançar 0,5%. Mas, se a intensidade das reformas for menos ambiciosa, o índice pode avançar 0,1% ou 0,2%. “Acreditamos que, independentemente de quem for eleito, o pragmatismo vai imperar e, bem ou mal, alguma reforma será feita”, diz Alessandra.
Ajustar as contas públicas é o passo fundamental para a retomada da produtividade. “O governo precisa cuidar da agenda macroeconômica para estabelecer as bases para a retomada da economia, pois diminui a percepção de risco por parte dos investidores”, diz a sócia da Tendências.
Por si só o ajuste não tem potencial para recuperar os níveis da produtividade. Em 2012, por exemplo, as contas públicas fecharam o ano com superávit de R$ 91 bilhões, ou 2,39% do PIB. E a produtividade caiu 0,7%. Naquele momento, especialistas já diziam que, para crescer de forma robusta, o país precisaria impulsionar a eficiência da economia, que mostrava sinais de esgotamento da oferta. “Já se vislumbrava que, para continuar crescendo, o país precisaria melhorar a produtividade”, diz Maurício Molon, economista-chefe do banco Santander. “Infelizmente, deixamos essa discussão de lado e o país regrediu.”
Ambiente desfavorável de impostos
O crescimento da produtividade depende do que os economistas chamam de “agenda microeconômica”, que tem o potencial de destravar gargalos do ambiente de negócios. Fazem parte dessa agenda avanços institucionais que aumentem a segurança jurídica, a reforma tributária, além de investimentos em educação e infraestrutura.
“O ambiente de negócios no Brasil é hostil às empresas e prejudica a produtividade”, diz Marco Stefanini, presidente da empresa de serviços de tecnologia Stefanini, que atua em 40 países. O que isso significa na prática? “Aqui perdemos muito tempo lidando com questões como ações trabalhistas, burocracia e mudanças de leis”, diz.
Alguns exemplos: no Brasil, a Stefanini precisa de seis vezes mais funcionários do que nos Estados Unidos para elaborar a folha de pagamentos – e quatro vezes mais pessoas dedicadas a lidar com a burocracia tributária. “São recursos que poderiam ser direcionados para gerar valor à empresa se o ambiente de negócios fosse melhor”, diz Stefanini.
Segundo o Santander, o crescimento potencial do país, isto é, quanto o PIB cresce sem que a inflação aumente, está em 2%. Para subir 4% de forma consistente, a produtividade precisa crescer a uma taxa média de 2,3% ao ano, e os investimentos saírem de cerca de 16% para 21% do PIB. Como se vê, não é uma tarefa simples – mas é fundamental para que o país supere o ritmo de “voo de galinha” com que costuma crescer: baixo e com curta duração.
Aposta em tecnologia
Quando se discute produtividade, é comum os especialistas usarem os termos “da porteira para dentro” e “da porteira para fora”. Isso quer dizer que a produtividade depende do que as empresas fazem internamente e do ambiente de negócios fora delas. No segundo caso, as melhorias dependem das políticas governamentais. No primeiro, das empresas – que, claro, precisam de previsibilidade para investirem.
Na fabricante de elevadores, esteiras e escadas rolantes Altas Schindler os investimentos em produtividade se dão em três frentes: melhoria de processos, adoção de novas tecnologias e treinamento de pessoas.
No primeiro caso, se encaixa o projeto para otimização das funções dos técnicos que fazem a manutenção dos equipamentos dos clientes. A criação de um “checklist” associada ao trabalho deles melhorou a produtividade em 20%. Outro projeto é o E-Log, que aumentou em 28% a eficiência dos almoxarifados das filiais após um trabalho de melhoria na reposição das peças em estoque.
A empresa também investe em tecnologias digitais como internet das coisas, que aumenta a eficiência no trabalho de manutenção das máquinas. No ano passado, foram capacitados 20 mil profissionais, que passaram por 131 mil horas de treinamentos técnicos. “Os últimos anos foram duros para a economia brasileira e nos levaram a repensar nossos processos”, diz Flavio Silva, presidente da Atlas Schindler. “Aumentar a produtividade nesse contexto é um imperativo para as empresas.”
A CPMC Celulose, com sede no Rio Grande do Sul, investe na otimização dos processos industriais para aumentar a eficiência e redução de desperdícios. Após essa primeira etapa, os investimentos serão focados na implantação de novas tecnologias digitais, como internet das coisas e inteligência artificial. “A produtividade é importante para as empresas serem mais competitivas e para que o país cresça com distribuição de renda”, diz Maurício Harger, presidente da CPMC.
GANGORRA
Evolução da produtividade
da economia brasileira
(em %)
2000 0
2001 1,2
2002 1
2003 -0,9
2004 0,8
2005 0,4
2006 1,6
2007 2,8
2008 1,7
2009 1
2010 2,1
2011 1,7
2012 -0,7
2013 0
2014 -1,5
2015 -2,2
2016 -1,9
2017 0
2018 -0,4*
Fonte: Tendências Consultoria
(*) previsão
CORRIDA
Quanto cada trabalhador produz por ano (em US$)
1º Emirados Árabes 168.454
2 º Catar 165.004
3º Arábia Saudita 150.052
4º Kuwait 146.503
5º Luxemburgo 145.645
6º Cingapura 134.268
7º Irlanda 132.564
8º Noruega 132.161
9º Estados Unidos 121.260
10º Hong Kong 112.534
77º Brasil 30.265
81º China 27.621
96º Índia 16.570
124º Congo 2.199
Fonte: The Conference Board