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Estado de Minas

'É fundamental unir a sociedade', diz cofundador da Natura

Integrante do Você Muda o BrasiL, empresário defende construção de prioridades e consensos


postado em 29/08/2018 06:00 / atualizado em 29/08/2018 07:36

Pedro Luiz Barreiros Passos, cofundador da Natura(foto: Mario Castelo / Divulgação)
Pedro Luiz Barreiros Passos, cofundador da Natura (foto: Mario Castelo / Divulgação)

São Paulo – O paulistano Pedro Luiz Barreiros Passos não gosta de dar entrevistas. Cofundador da Natura, Pedro Passos – é assim que ele ficou conhecido – evita os holofotes desde que ajudou a transformar uma pequena indústria na Grande São Paulo na maior fabricante de cosméticos do Brasil. Nos últimos anos, suas raras aparições públicas foram em defesa da ética nos negócios, discurso até pouco tempo atrás incomum no ambiente empresarial. A seu modo, Pedro sempre foi um inovador. A Natura foi uma das primeiras empresas do Brasil a levantar a bandeira da sustentabilidade e, mais recentemente, se tornou uma das pioneiras do movimento Capitalismo Consciente, segundo o qual as companhias devem gerar valor para a sociedade e não buscar apenas o lucro.

Pedro esteve por trás dessas duas iniciativas, o que foi suficiente para associar a sua imagem à de um profissional atento às novas demandas da sociedade. Ex-presidente da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), ele decidiu agora se dedicar a um novo propósito. É um dos integrantes do movimento “Você Muda o Brasil”, formado por empresários e executivos como Rubens Menin (MRV), Luiza Helena Trajano (Magazine Luiza), Paulo Kakinoff (Gol) e Walter Schalka (Suzano) e que nasceu com a ambição de debater alternativas concretas para mudar o país.

Não será uma tarefa fácil. “O Brasil precisa de mudanças urgentes e profundas, mas elas só serão possíveis se contarem com a participação de toda a sociedade.”, disse o atual copresidente do conselho de administração da Natura em evento realizado na segunda-feira e que marcou o lançamento oficial do movimento. Durante sua apresentação, Pedro traçou um cenário sombrio. “Temos um Executivo sem legitimidade, um Legislativo distante da sociedade e um Judiciário que toma decisões de difícil entendimento para a população”, afirmou.

O executivo não se limitou ao diagnóstico, mas receitou o remédio também. “Precisamos de uma agenda de mudanças para enfrentar a balbúrdia que vivemos nas contas públicas. Falo da reforma previdenciária, que pode eliminar distorções e privilégios. Falo da reforma tributária, que possa ser simplificadora e fazer com que a carga tributária seja menos regressiva. E falo de uma reforma política, que pelo menos nos possa dar o sentimento de sermos mais bem representados.”

Passado o calor da apresentação, Pedro Passos recebeu a equipe do Estado de Minas para revelar o que o motivou a participar do movimento “Você Muda o Brasil” e aprofundar as ideias defendidas durante o seminário. No habitual tom de voz baixo, e com seu jeito tímido de ser, ele disse que espera por mudanças profundas no país. Confira na entrevista a seguir.



Quem é Pedro Passos

Um dos fundadores da Natura, Pedro Passos atualmente é copresidente do conselho de administração da companhia. O empresário se formou em engenharia de produção pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e em administração pela Fundação Getulio Vargas. Ainda na faculdade, fez estágio em uma metalúrgica e depois trabalhou por dois anos da antiga Ferrovia Paulista, a Fepasa. Enquanto atuava em uma multinacional, foi convidado pelo amigo Guilherme Leal a se tornar sócio de uma empresa de cosméticos que pertencia a um pequeno grupo. Era a Natura.



Por que você decidiu participar de um movimento como o “Você Muda o Brasil”, que busca unir empresários e a sociedade civil com o objetivo de pressionar por avanços no país?
Eu sou mais um brasileiro que está incomodado com toda essa situação e quer ver mudanças. Conheci as ideias por meio de uma rede de amigos e de conversas com essa turma que começou o movimento. Depois decidi aderir ao “Você Muda o Brasil”. Essa angústia que está nos assolando acaba por ajudar a incentivar a mobilização e a tentar fazer alguma coisa.

Como tirar essas ideias do papel e minimizar o descontentamento?
Nós sabemos que neste momento é preciso construir algumas prioridades, alguns consensos para o país. É fundamental tentar unir o que está fragmentado na sociedade, trazendo uma visão mais inovadora. Infelizmente, nós ainda vivemos muito com o pensamento de curto prazo, mas isso tem de mudar.
Movimentos como esse ajudam?
Essa é não só uma convocação importante, mas um alerta. É muito fácil falar para os convertidos, em um ambiente protegido, onde você tem tudo a seu dispor. Há conexões que têm de ser incentivadas e melhoradas para que isso ganhe intensidade em toda a sociedade. Elementos de liderança são fundamentais para sinalizar que rumo devemos tomar. Muitas vezes, o único jeito de avançar para esse engajamento é quando há alguém que dê esse rumo para dizer para onde estamos indo, para resgatar um pouquinho da nossa autoestima, que está muito ferida. O desalento é grande. Apesar de não saber no que vai resultar esse tipo de iniciativa, esse é um esforço válido para resgatar uma visão de país para todos os brasileiros.

"Essa angústia que está assolando  todos acaba por ajudar a incentivar a mobilização e a tentar fazer alguma coisa”

Você declarou ser favorável ao Estado se voltar mais à prestação de serviços. Isso quer dizer que você defende o esvaziamento do tamanho do Estado, por exemplo, por meio de privatizações?
Grupos de poder empresariais, de funcionários públicos e de corporativismos foram dominando o Estado, cada um se apropriando de um pedacinho, Enquanto isso, a voz do coletivo, do cidadão comum, perdeu representação. Nós precisamos de uma faxina grande para destruir as diferenças.

O que está errado na sua avaliação?
Precisamos tratar os iguais como iguais, como cidadãos. Isso passa por uma agenda enorme, de um Estado que tem diferenças enormes de tratamento tributário e, por que não dizer, de cidadania. Tem alunos da classe mais beneficiada que se apoderam da escola pública, enquanto que o aluno pobre não consegue entrar na escola. Essas diferenças estão martirizando o Brasil. O Estado vai ter de se concentrar naquilo que é fundamental, que são os temas conhecidos, como educação, segurança, saúde e emprego, gerando oportunidades iguais.

Como isso pode ser feito?
O Estado vai ter de diminuir sua atuação em diversas áreas em que ele entra como operador e nas quais não deveria assumir esse papel. No máximo, deveria ser um regulador.


"Apesar de não saber no que vai resultar esse tipo de iniciativa, esse é um esforço válido para resgatar uma visão de país para todos os brasileiros”


Isso se aplica ao setor financeiro, por exemplo?
Sim, o setor financeiro também. O Estado tem uma presença grande. Para mim, é preciso incentivar a competição, abrir a economia brasileira, trazer mais gente para brigar pelo nosso mercado.

O movimento, portanto, é basicamente uma defesa da agenda liberal?
É uma agenda liberal do ponto de vista econômico, mas com grande impacto social. Nós só vamos poder resolver os problemas sociais se equacionarmos essa confusão nas contas públicas. Por isso, teremos de dar mais atribuições ao setor privado e fazer o Estado focar naquilo que é essencial, que é a demanda de todo brasileiro que quer sair na rua sem ter medo de mandar o filho para a escola.

Quando a iniciativa privada leva esse tipo de proposta para a sociedade não pode surgir uma certa desconfiança?
A desconfiança é um problema em toda a sociedade brasileira. Há falta de confiança nas instituições de uma forma geral, no setor empresarial e no setor político. É crescente a percepção de que o Estado deve se concentrar naquilo que é prioritário. Isso está perpassando todas as classes sociais. Não é mais um discurso de um grupo de estudiosos ou acadêmicos. Hoje, a população sente que o Estado tem sido insuficiente para dar saúde, educação e segurança. Ao mesmo tempo, está cansada de ver o Estado operando grandes empresas e estatais, com todo esse hiperdimensionamento, inclusive com o favorecimento de grupos privados com os parcos recursos públicos. Será preciso fazer um reordenamento das prioridades do que o Estado faz e o que a iniciativa privada deve fazer.

"Grupos de poder empresariais, funcionários públicos e corporativismos foram dominando o Estado, cada um se apropriando de um pedacinho”


As pesquisas presidenciais mostram que os candidatos dos extremos estão na liderança. Eles traduzem esse anseio de mudança que você enxerga na sociedade?
Estamos diante de uma eleição perigosa justamente porque tem a força dos candidatos dos extremos nesse momento nas pesquisas. Um deles pode acarretar a descontinuidade institucional, o que eu acho perigosíssimo. Outro pode retornar uma agenda que está em involução.

Então você acredita que estamos vendo mudanças?
O Brasil está evoluindo porque os problemas reais estão sendo discutidos. Está se falando de reforma previdenciária, trabalhista, tributária e política. Esses são problemas que estão aí há muitos anos e que nós, da sociedade, estamos trazendo para a mesa de uma forma mais presente. Mesmo quando pegamos os discursos políticos de todos os partidos, esses temas estão em discussão. Eu temo pelos radicalismos, pelas soluções fáceis, pelas balas de prata, já que essas soluções devem partir de um processo coletivo.

Qual é a sua rotina de trabalho?
Hoje estou muito envolvido com a Natura, participando oficialmente nas reuniões do conselho, do qual faço parte, e extraoficialmente nas reuniões informais. Mas tenho muitas outras atividades também, como a participação em ONGs e em fundações.

"A voz do coletivo, do cidadão comum, perdeu representação. Nós precisamos de uma faxina grande para destruir as diferenças. Precisamos tratar os iguais como iguais, como cidadãos”


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