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Estado de Minas

Incertezas reduzem previsão de crescimento do PIB

Um dos fatores que tiveram influência nas previsões foi a greve dos caminhoneiros. As revisões para baixo não param


postado em 06/08/2018 06:00 / atualizado em 06/08/2018 08:34

Protesto na rodovia MG-30, proximo ao km 15, em Nova Lima, Região Metropolitana de BH(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Protesto na rodovia MG-30, proximo ao km 15, em Nova Lima, Região Metropolitana de BH (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

A greve dos caminhoneiros, que parou o país em maio, puxou o freio de mão da retomada da economia brasileira neste ano. Desde então, as previsões caíram pela metade em meio à maior instabilidade no mundo emergente e ao aumento de incertezas no cenário doméstico, principalmente, no eleitoral.

O ritmo esperado de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2018, que no início do ano estava em torno de 3%, hoje está mais perto de 1% para alguns analistas, enquanto a mediana das expectativas computadas no Boletim Focus, do Banco Central, é de 1,5%. Com isso, a economia praticamente andaria de lado, pois repetiria a taxa de 2017.

E as revisões para baixo não param. Na sexta-feira, foi a vez de o Bradesco cortar novamente a expectativa dos atuais 1,5% para 1,1%. O banco iniciou o ano prevendo alta de 2,8%. Essa redução ocorreu um dia depois de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ter divulgado crescimento de 13,1% na produção industrial de junho, na comparação com maio, dado comemorado por técnicos do governo. Integrantes da equipe econômica apostam que o pior já passou e que haverá uma estabilidade do PIB no segundo trimestre e em um avanço “acima de 1%” no terceiro trimestre do ano, que encerrará com alta de 1,6%.

Pelas contas de Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, contudo, o terceiro trimestre ainda será bem fraco, com alta de apenas 0,3%. Ele e vários analistas ouvidos pelo Estado de Minas avisam que o dado positivo da produção, assim como em outros indicadores antecedentes, como venda de embalagens e papel ondulado, produção de veículos e movimento nas estradas, estão contaminados com o represamento da produção em maio, que teve queda de dois dígitos. Portanto, como a base foi baixa, o crescimento em junho acabou sendo também de dois dígitos, algo que não deve se sustentar nos meses seguintes.

“O represamento é o efeito de curto prazo, mas foi devolvido e não muda muito a trajetória de PIB fraco. O problema é que a confiança do consumidor e do empresário continua baixo. Ela vinha subindo no primeiro trimestre e, depois do choque da greve e das pesquisas eleitorais, deve ficar em compasso de espera, porque o mercado de trabalho não deve apresentar uma recuperação forte e não vai dar o impulso esperado na economia”, explica Honorato, que reduziu sua previsão de abertura de 1,2 milhão de vagas formais neste ano para 600 mil. “No fundo, é isso, o emprego está mais fraco e um fenômeno à parte é a inadimplência, que ainda segue baixa. Quem conseguiu manter-se empregado está reduzindo sua dívida”, explica.

CAUTELA

Fabio Bentes, chefe do Centro de Pesquisas Econômicas da Confederação Nacional do Comércio e Serviços (CNC), apesar de prever 1,6% de crescimento do PIB neste ano, ainda está mais pessimista em relação ao mercado de trabalho. Para ele, o país vai criar, no máximo, 500 mil novas vagas formais. E, por conta disso, ele não demonstra otimismo de o consumo voltar a ser o grande motor de crescimento, como no passado. “As incertezas são grandes e a confiança ainda está muito baixa. E ela só deve voltar quando o governo sinalizar que vai recuperar o equilíbrio fiscal, algo que não vemos isso claro nas propostas dos pré-candidatos”, avisa, demonstrando preocupação com o aumento desenfreado do tamanho da dívida pública.

Sem a volta do superávit primário (economia para o pagamento da dívida pública), analistas destacam que a trajetória continuará ascendente, confirmando as projeções mais pessimistas, que apontam para 90% do PIB até 2019, o que beira a insolvência e, consequentemente, abriria a porta para a volta do maior imposto que esse país já teve: a hiperinflação. “O grande problema hoje é o fiscal. Enquanto a reforma da Previdência não começar a andar e o governo der sinal de que está realmente comprometido em entregar o superávit primário, a confiança não volta a crescer”, afirma Bentes.

Na avaliação do analista de Políticas e Indústria da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo Azevedo, as chances de o PIB ficar mais próximo de 1% este não são grandes, mas é pouco provável que a taxa fique abaixo disso. Isso porque o fato de a economia ter avançado 1%, em 2017, traz uma taxa de carregamento de 0,5% para 2018. “Como o PIB do primeiro trimestre avançou 0,4%, a economia já tem uma taxa de 0,9% para este ano e, portanto, ela dificilmente ficará abaixo de 1%, a não ser que não haja crescimento algum no segundo semestre, o que é improvável”, explica. Azevedo, no entanto, engrossa o coro de que os dados mais positivos de junho e julho não devem ser motivos de comemoração, devido ao represamento da produção em maio.

Desempenho depende do resultado das eleições

A economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, reconhece que a retomada da economia perdeu a tração, mas também não acredita que vá ter desempenho pior neste ano, em relação ao ano passado. “O terceiro trimestre pode aproveitar um pouco dessa volta do crescimento depois da greve, mas como novembro e dezembro ainda estão em aberto, por conta das incertezas eleitorais, estamos com 1,7% de previsão ainda, mas o balanço dos riscos é mais negativo do que positivo”, explica ela, lembrando que os dados mais recentes da indústria ainda não levam em conta a retração da economia da Argentina, que já vem mostrando queda na venda de veículos no país vizinho. Isso pode impactar não apenas na produção daqui pra frente como também nas exportações brasileiras. “Nos primeiros cinco meses, 90% da exportação de veículos nacionais teve como destino a Argentina, que sofreu com a desvalorização cambial superior a 30%, o que inibe as importações. Portanto, vai ser difícil que o ritmo de vendas de automóveis no início do ano se repeta neste semestre”, avisa.

As chances de a economia perder ainda mais fôlego no segundo trimestre, uma vez que o principal motor do crescimento do PIB em 2017, a agricultura, não deve ter o mesmo desempenho, são crescentes, na avaliação de José Ronaldo Castro Souza Júnior, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Ele prevê queda de 1% no PIB agrícola em 2018 e deve anunciar novos dados desse setor nesta semana. “Apesar de a safra ter sido muito boa, ela é menor do que a do ano passado”, explica.

GUERRA COMERCIAL

Para Mauricio Nakahodo, economista do Banco MUFG Brasil, a retomada da economia pode ser mais forte no último trimestre, mas isso dependerá do resultado das eleições e de como isso afetará as expectativas e a confiança, principalmente, do setor produtivo. “A agricultura não deve puxar o PIB este ano, apesar de algumas previsões de crescimento. Elas podem não se concretizar, mas a indústria e serviços podem ajudar um pouco”, afirma ele, que prevê queda de 0,3% no ano na produção agrícola e avanços de 2,1% na indústria, e de 1,5% em serviços, neste ano.

“O consumo das famílias, apesar de a inflação estar mais moderada em relação aos padrões brasileiros, está abaixo do centro da meta este ano (de 4,5%), e, mantendo os juros no patamar atual (de 6,5%), o Banco Central fica no ambiente expansionista”, avalia. Contudo, ele não descarta que o consumo das famílias ainda não deve se recuperar, apesar de os juros estarem mais baixos, porque o crescimento de emprego está ocorrendo na informalidade.

Outro fator de risco neste segundo semestre e no ano que vem, que ainda não está totalmente contabilizado, é a guerra comercial entre Estados Unidos e China. Para os analistas, o impacto será maior a partir de 2019, e negativo tanto no curto prazo quanto no longo. O consenso é que o Brasil tem mais a perder nesse cenário de aumento do protecionismo do que a ganhar. No curto prazo, o país nem conseguiria aumentar os embarques de soja para a China, porque a safra já foi colhida quase totalmente.

“O Brasil ainda corre o risco de importar soja, dependendo do cenário. A Argentina mais fraca é um dos principais destinos dos produtos do país e pode afetar negativamente os embarques de veículos neste ano”, avisa o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro.

Estratégia de desenvolvimento

Em busca de tentar deixar algum legado para o próximo administrador, o governo abriu consulta pública para um estudo denominado Estratégia Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que está sendo preparado com as principais diretrizes que precisam ser tomadas para garantir taxa de crescimento média de 2,3%, entre 2019 e 2031. Nesse cenário, denominado básico, são consideradas as reformas da Previdência e Administrativa, e revisão das despesas obrigatórias, que crescem em ritmo mais acelerado do que a receita e, por isso, são os grandes responsáveis pelos déficits consecutivos das contas públicas. Já num cenário mais avançado, ou transformador, com taxa média de expansão de 3,9% ao ano, o país precisará dessas reformas e melhorar o ambiente de negócios para garantir aumento da produtividade, que inclui a reforma Tributária e estímulos à inovação tecnológica e aos investimentos privados em infraestrutura. A consulta pública termina no próximo dia 15 e pode ser acessada no site do Ministério do Planejamento: https://consultapublica.planejamento.gov.br/.


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