A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, alertou ontem que o PIB global pode sofrer uma queda devido à guerra comercial em curso. Declaração foi feita em Buenos Aires, antes da reunião dos ministros de finanças do G20. “No pior cenário, as atuais medidas (comerciais) podem ter um impacto de 0,5 ponto (de queda) no PIB global” em 2020, afirmou Lagarde em uma coletiva de imprensa conjunta com o ministro da Fazenda da Argentina, Nicolás Dujovne, cujo país exerce a presidência rotativa do grupo.
Os responsáveis pela política econômica do G20, composto por países ricos e em desenvolvimento como Brasil, Argentina, México e Índia, vão discutir os mecanismos para enfrentar os potenciais impactos sobre a economia global das crescentes tensões comerciais e reforçar a proteção do multilateralismo incorporado por uma Organização Mundial do Comércio (OMC) paralisada.
Na sexta-feira, o presidente Donald Trump jogou ainda mais lenha na fogueira da guerra comercial com a China sugerindo que pretende taxar todos os produtos do país. “Estou pronto para chegar a 500”, garantiu, em entrevista à CNBC, referindo-se ao total de US$ 505,5 bilhões em importações da China registrados em 2017. Após a adoção das tarifas de importação sobre aço e alumínio, um gesto que afeta diretamente a China, Washington adotou tarifas suplementares para US$ 34 bilhões de máquinas, enquanto analisa um pacote extra para US$ 16 bilhões.
Ao mesmo tempo, o Departamento de Comércio já admitiu que estudos estão sendo desenvolvidos para definir uma lista de produtos chineses que poderiam ser precificados e que chegariam a US$ 200 bilhões. Pequim denunciou que são os primeiros passos da “maior guerra comercial na história da economia” e deixou claro que aplicará medidas retaliatórias a cada tarifa dos EUA.
CRÍTICAS NO TWITTER
Trump acrescentou outra questão difícil a uma agenda já sobrecarregada do G20. Se a presidência argentina do grupo pretendia abordar questões como o futuro do trabalho, o financiamento de infraestruturas ou a transparência fiscal, agora deverá abordar também a espinhosa questão das moedas e das taxas de câmbio. “A China, a União Europeia e outros vêm manipulando suas moedas e taxas de juros”, criticou Trump no Twitter na sexta-feira, reclamando da força do dólar que está prejudicando a “vantagem competitiva” de seu país.
O presidente dos EUA também incluiu o Fed entre seus criticados, por sua política de aperto monetário que fortalece o dólar. Para conter o avanço da inflação na maior economia do mundo, o Fed elevou as taxas de juros sete vezes desde 2015 e considera pelo menos mais dois aumentos este ano. Essa prática aumenta o custo do dinheiro e pode ter impacto no crescimento, mas, ao mesmo tempo, impede o superaquecimento da economia.
A retirada dos EUA do acordo nuclear com o Irã e seu impacto sobre os preços do petróleo, a subida do dólar e a alta das taxas de juros dos EUA, que aumenta o capital retração das economias menos desenvolvidas – US$ 14 bilhões entre maio e junho de 2018 –, está atingindo países como Brasil e Argentina, que continuam apostando no G20 para fazer ouvir a voz dos países emergentes.