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Estado de Minas

Embraer está sob pressão de empregados e clientes

Fabricante brasileira de aviões, que poderá passar para as mãos da Boeing, ainda precisará encarar resistência dos sindicatos, com os quais se reúne amanhã, e reverter desconfiança


postado em 12/07/2018 06:00 / atualizado em 12/07/2018 09:32

Sindicatos de trabalhadores da companhia aérea preveem demissões e tentarão apelar também ao governo para que os empregos sejam mantidos(foto: Embraer/Divulgação)
Sindicatos de trabalhadores da companhia aérea preveem demissões e tentarão apelar também ao governo para que os empregos sejam mantidos (foto: Embraer/Divulgação)

Empregados têm agenda amanhã no gabinete de Paulo Cesar Souza(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press - 9/11/17)
Empregados têm agenda amanhã no gabinete de Paulo Cesar Souza (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press - 9/11/17)
São Paulo – A Embraer ainda tenta se recuperar e ajeitar a casa depois da confirmação do acordo que prevê que o seu controle passe para as mãos da americana Boeing. Na Bolsa de Valores paulista, as ações da companhia têm apresentado performance ruim desde o dia 5, data em que a negociação entre as duas companhias foi anunciada formalmente. Um dia antes, a empresa brasileira valia R$ 19,770 bilhões.

No primeiro pregão após a confirmação da parceria, o valor da Embraer caiu para R$ 16,945 bilhões e de lá para cá não para de recuar. Ontem, seus papéis fecharam em nova baixa, de 4,34%, segundo levantamento feito por Einar Rivero, da consultoria Economatica. Com isso, a avaliação da empesa mingou para R$ 15,830 bilhões. Já a Boeing terminou a quarta-feira valendo US$ 198,4 bilhões.

Amanhã, será a vez de encarar outro problema. Os sindicatos que representam os trabalhadores começaram uma campanha contra a venda da Embraer para a Boeing e vão se encontrar no escritório da companhia em São Paulo, na Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, Vila Olímpia, com o presidente Paulo Cesar de Souza e Silva.

A reunião, que servirá para detalhar itens do acordo, deve ser tensa, já que os sindicatos preveem redução do quadro de pessoal e devem pressionar o executivo para que haja a manutenção de postos de trabalho. Participam do encontro sindicalistas das cidades paulistas de São José dos Campos, Botucatu e Araraquara. Por meio de nota, a Embraer informou que não comentaria o assunto, evitando assim confirmar se conversará com os representantes das entidades.

GOVERNO
Ao mesmo tempo em que tentarão pressionar o presidente da companhia, os sindicatos esperam conseguir agenda com o presidente da República, Michel Temer, na tentativa de convencer o governo, ex-dono da Embraer e detentor do poder de veto no caso da joint-venture firmada com a Boeing, a impedir que o negócio avance. O fato é que essa decisão poderá ficar nas mãos da própria União, já que faltam cinco meses para terminar o atual mandato presidencial e segundo o que foi divulgado até agora as duas companhias poderão levar até um ano e meio para finalmente baterem o martelo da negociação.

Para Marcos Barbieri, professor da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp e especialista no setor de atuação da Embraer, ainda há muitos pontos abertos nessa aproximação com a Boeing. Na sua avaliação, a venda do controle para a fabricante americana não é o melhor caminho.

“Não é uma saída para a Embraer, mas sim uma não-saída. Ao fazer esse acordo a empresa vai deixar de existir como a conhecemos. A solução para se manter é deixar de existir? Isso é um contrassenso”, critica. O acadêmico critica o fato de estar à venda, conforme mostra o acordo com a Boeing, justamente a parte mais rentável dos negócios, a de jatos comerciais.

ALIANÇAS
No seu entendimento, a Embraer poderia ter buscado alianças estratégicas, a exemplo do que tem feito outras empresas do setor. Esse tipo de acordo, explica, poderia manter o controle da fabricante de aeronaves sem alterações. Barbieri lembra que a companhia está bem posicionada nos mercados em que atua, principalmente no de aeronaves comerciais.

Além disso, tem mantido investimentos em avanços tecnológicos. Em abril passado, lançou o E2, uma nova família de jatos. Na divisão militar, está lançando o modelo KC390. “A Embraer tem elevado grau de competitividade internacional e a expectativa era de que isso se mantivesse ao menos no médio prazo”, destaca.
Dados referentes ao primeiro trimestre de 2018 mostram que a Embraer tem carteira de pedidos firmes de US$ 19,5 bilhões. Agora, deverá haver baixa nas encomendas, com o anúncio que acaba de ser feito pela americana JetBlue, que vai trocar sua frota de jatos fabricados pela Embraer pelos da marca Airbus. A JetBlue tem entre os seus fundadores David Neeleman, criador da Azul e sócio da portuguesa TAP.

Golpeada pelo concorrente

A cada 10 jatos regionais em operação, seis saem do Brasil e o mercado vai demandar 7 mil aeronaves(foto: Embraer/Divulgação)
A cada 10 jatos regionais em operação, seis saem do Brasil e o mercado vai demandar 7 mil aeronaves (foto: Embraer/Divulgação)

O maior cliente da Embraer anunciou que vai substituir toda sua frota de E190s pelos A220-300 da Airbus, empresa francesa líder no mercado da aviação comercial —derrota que sublinha a posição frágil da companhia brasileira no negócio dos jatos regionais, que caminha para o duopólio. A ordem, que foi anunciada pela JetBlue depois do fechamento do mercado, totaliza 60 jatos avaliados em US$ 5,4 bilhões, e mostra que a Airbus está atacando clientes da concorrente tupiniquim em momento de indefinições na Embraer.

Os primeiros cinco aviões do modelo A220-300 serão entregues até 2020, quando a frota E190 da empresa começará a ser gradualmente aposentada, em um processo que deve durar até 2025. A JetBlue terá opções para outras 55 unidades. A programação é de entrega de 24 aeronaves do modelo E190s em 2020 (10), 2021 (7) e 2022 (7). Com o anúncio desta semana, analistas do Bradesco estimam que a JetBlue provavelmente cancelará este pedido, reduzindo os pedidos confirmados da Embraer em 6%.

A Embraer também havia recebido encomendas da AirCosta para 50 aeronaves da família E2, mas a empresa indiana faliu. Somando-se a perda da JetBlue e da AirCosta, o Bradesco estima que os pedidos confirmados da Embraer cairão em até 23%. “O evento desta quarta-feira mostra que o poder de barganha nas negociações para criar a joint-venture na aviação comercial está se inclinando em direção à Boeing e não à Embraer, diminuindo a possibilidade de renegociação material dos termos do acordo,” escreveu o analista do Bradesco Victor Mizusaki em nota a clientes. Ele manteve seu preço-alvo para as ações da Embraer em US$ 31, e uma recomendação neutra.

AIRBUS E BOMBARDIER
Paralelamente à decisão da JetBlue de trocar a Embraer pela Airbus, a companhia francesa está anunciando um ‘rebranding’ dos jatos regionais CSeries da Bombardier: agora eles se chamam A220, adotando a nomenclatura característica da fabricante europeia.

Até o fim do ano, a Airbus planeja assegurar 100 novas encomendas dos jatos regionais. O anúncio da empresa francesa — feito na terça-feira em Toulouse — mostra que enquanto Boeing e Embraer estão apenas começando a discutir os detalhes de sua joint-venture, a concorrência se apressa para ganhar participação de mercado.

Desde o lançamento do programa, em 2009, os dois jatos da família A220 contam com 402 pedidos. Para efeito de comparação, desde que lançou o programa E2 e começou a aceitar pedidos, em 2013, a Embraer vendeu 180 unidades dos modelos E190-E2 e E195-E2, além de firmar contratos de opção de compra de mais 187 unidades. Esses são os modelos que brigam de frente com o A220-100 e A220-300 na categoria até 150 assentos. A Embraer tem ainda mais 200 pedidos – entre firmes e opções – para o jato E175-E2.

A Airbus, que pagou preço simbólico (US$ 1) para adquirir o programa CSeries, tampouco precisará investir em fábricas para ampliar a produção, hoje centrada em Quebec, no Canadá. Parte dos jatos sairão da fábrica da Airbus no Alabama, nos Estados Unidos.

Para os próximos 20 anos, a Airbus quer abocanhar metade do mercado de jatos regionais, hoje dominado pela Embraer: de cada 10dez jatos regionais em operação, seis são fabricados no Brasil. Pelas contas da Airbus, 7 mil jatos de até 150 lugares devem ser vendidos nos próximos 20 anos.

A Airbus adquiriu 50,01% da família CSeries da Bombardier em outubro do ano passado, livre de dívidas. A Embraer, por sua vez, ainda não informou ao mercado qual parte de sua dívida será transferida à joint-venture com a Boeing, dificultando a tentativa dos investidores de avaliar a empresa.

A operação da Airbus com a Bombardier evitou o fracasso do projeto CSeries, que custou mais de US$ 5 bilhões, US$ 2 bilhões a mais que o previsto. Na época da associação com a Airbus, a Bombardier devia quase US$ 9 bilhões, dependendo de subsídios do governo canadense para sobreviver.

 


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