(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Bazares avançam nas redes sociais e viram febre em BH

Grupos interessados em vender de roupa a apartamento proliferam no WhatsApp e Facebook em diversos bairros de BH. Troca entre vizinhos é frequente e até lojistas descobrem novo filão


postado em 19/11/2017 06:00 / atualizado em 19/11/2017 08:19

(foto: Reproducao/Faceboock )
(foto: Reproducao/Faceboock )

Os grupos de bazares no WhatsApp e Facebook se tornaram febre em Belo Horizonte. A antiga forma de comprar e vender mercadorias ganhou a tecnologia como aliada e avança em diversos bairros da cidade, a exemplo de Padre Eustáquio, Castelo, Sagrada Família, Buritis, Pampulha e Venda Nova. Faça você mesmo o teste. Basta digitar na internet o nome do bairro em que mora e palavras como bazar, desapego ou troca e a chance de um grupo aparecer é muito grande. Em vez de acumular roupas, brinquedos, aparelhos eletrônicos ou móveis em casa, milhares de pessoas estão oferecendo esses produtos para seus vizinhos por meio dos aplicativos e pelas redes sociais. Os participantes consideram o boca a boca – mesmo que no mundo virtual – o principal motivo para o sucesso dos bazares virtuais.


Nos grupos, surgem diariamente ofertas de preços variados, desde roupas e brinquedos que custam entre R$ 20 e R$ 30, até computadores e apartamentos. Participam, principalmente, pessoas interessadas em aumentar a renda com produtos que descartaram, mas algumas lojas de bairro já perceberam a oportunidade de conquistar clientes e passaram também a integrar os bazares.

A maioria dos grupos atua com regras que são enviadas aos participantes assim que eles são incluídos nos bazares. Temas polêmicos e que geram debate acalorado – política, futebol e religião, entre eles – são proibidos nesses grupos. Da mesma forma, um mesmo produto não pode ser ofertado várias vezes. Caso o participante não siga as regras, ele pode ser expulso do grupo.

O bazar do Bairro Sagrada Família, na Região Leste da capital mineira, surgiu no ano passado por iniciativa de amigas que perceberam uma boa oportunidade para fazer trocas de produtos. Hoje, são quase 300 membros no grupo abrigado no Facebook que negociam diariamente produtos e serviços com os vizinhos.

“Muitas vezes, encontrávamos bons produtos usados, principalmente produtos para bebês, com preço bom, mas em lugares muito fora de mão e acabávamos desistindo da compra pela distância. Conversamos com amigos próximos que tinham o mesmo problema e resolvemos criar o grupo aqui do bairro. Hoje, temos todo tipo de produtos e serviços ofertados, desde roupas até marmitex e sanduíches de restaurantes próximos”, conta Helen Pedrosa, uma das criadoras e administradora do grupo.

No bazar do Bairro Padre Eustáquio, na Região Noroeste, 160 mulheres negociam produtos e serviços por meio do WhatsApp. “Com essa crise financeira pela qual o país passa, as vendas caíram muito nas lojas, muito produto fica em estoque e muita gente procura uma forma de aumentar a renda. Tivemos a ideia de formar o grupo e cada uma foi convidando mais gente. Tudo na base do boca a boca mesmo”, conta Juliana Maria Motti.

Sem amadorismo Artigos infantis, como brinquedos e roupas, são os itens mais vendidos e trocados no bazar do Bairro Padre Eustáquio, grupo criado há um ano. A negociação sobre preços, forma de pagamento e entrega é feita em particular por vendedoras e interessados. “Não intervimos nas negociações, nem daria tempo para fazer isso. Depois que o vendedor apresenta seu produto, com a descrição, as fotos e o preço, cabe ao interessado procurá-lo no particular e combinar os detalhes”, explica Juliana.

Característicos de uma economia considerada ‘amadora’, os bazares estão em plena expansão nas redes sociais e se projetam como alvo dos grupos de vendas e trocas nas redes sociais. Exemplo disso é o grupo de Facebook Bazar de Venda Nova e Região, que contempla mais de 102 mil participantes e proporciona, atualmente, a venda de 236 mil itens.

Criado e administrado pelo empresário e estudante de direito Hebert Oliveira, de 50 anos, a ideia inicial do bazar era completamente diferente do que ocorre hoje no grupo. “Criei o grupo em 2013 quando trabalhava numa oficina mecânica. O objetivo, no início, era que os carros usados que passavam pela oficina pudessem ser anunciados e, eventualmente, vendidos. Fui expandindo os serviços oferecidos no bazar pouco a pouco, primeiro abri para todo um leque de serviços relacionados a automóveis e acessórios e, posteriormente, percebi que havia uma demanda de que qualquer coisa pudesse ser ofertada”, conta.

Celular dá asas aos desapegos

A investida de Hebert Oliveira, criador do Bazar de Venda de Nova e Região, deu frutos e outro grupo acabou surgindo dessa iniciativa, uma feira livre que é realizada na comunidade Pedreira Prado Lopes. Para ele, o smartphone é o principal motivo da expansão desse tipo de comércio. “Agora estou mexendo com outro grupo, algo como um shopping social. É virtual, mas também é físico. Esse segundo grupo foi criado para que as pessoas da região possam anunciar produtos e participar da feira que, atualmente, contempla 60 espaços para vendedores. Hoje, quem manda na internet é o celular, né?”, observa. O desapego de produtos que ficariam guardados em casa é mais viável com o smartphone, segundo Hebert.

(foto: Lucas Ferreira/Arquivo Pessoal)
(foto: Lucas Ferreira/Arquivo Pessoal)

Grupos que reúnem entusiastas de diversos segmentos são comuns nas redes e, além de uma divisão regional e geográfica, há o agrupamento de uma economia baseada em determinados nichos de mercado. Exemplo disso são dois grupos administrados por Lucas Ferreira, estudante de economia da UFMG, de 24 anos. Com uma proposta diferente do costumeiro bazar de Facebook, o grupo Eu quero, Eu tenho (UFMG), que contempla quase 7,5 mil pessoas envolvidas com a universidade, se pretende como plataforma de trocas entre os participantes.

“Quando começou era basicamente um grupo de trocas entre alunos e pessoas que tinham alguma vivência próxima à universidade. Devido à crise econômica e com a galera ficando mais apertada, a gente desenvolveu um certo bom senso e começamos a aceitar mais as vendas dentro do grupo. Não que fosse proibído antes, mas é uma comunidade em que os valores costumam ser muito simbólicos e o que se oferta geralmente são coisas que iriam para o lixo ou seriam esquecidas em uma gaveta”, explica.

Além de administrar o grupo de trocas da UFMG, Lucas tem relacionamento profissional estreito com esse tipo de prática nas redes sociais e, a partir de um certo período de sua vida, os grupos tomaram conta de grande parte da sua renda mensal. “Comecei a me interessar por fotografia análogica e eu queria muito uma câmera, mesmo não tendo dinheiro para comprar. Foi aí que comecei a entrar em grupos de fotografia e comecei a trocar coisas com as pessoas que participavam deles. Comecei com R$ 100 e com a vontade de adquirir uma câmera e, depois que trocar e revender produtos se tornou parte da minha renda, consegui conquistar uma coleção que equivale a R$ 15 mil em equipamentos de fotografia”, conta.
(foto: Hebert Oliveira/Arquivo Pessoal)
(foto: Hebert Oliveira/Arquivo Pessoal)

Para o estudante de economia, a recente ascensão do ideal de empreendedorismo está fortemente relacionada com o fenômeno dos grupos de vendas. “A questão é que, nas redes, é possível reunir um nicho muito específico, uma comunidade que compartilhe interesses em comum”, diz Lucas. Ele tem contas em sites como o OLX e o Mercado Livre, mas 90% das vendas ocorrem por causa dos grupos de Facebook. Além disso, ele destaca a questão do empreendedorismo característico desses grupos. “As pessoas começaram a perceber que coisas que antes eram destinadas ao lixo ou seriam abandonadas na porta de casa podem se transformar em capital”, explica.

(*) Estagiário sob a supervisão de Marta Vieira


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)