Brasília – Os juros básicos da economia (a chamada taxa Selic, que remunera os títulos do governo no mercado financeiro e serve de referência para as operações nos bancos e no comércio), atualmente de 8,25% ao ano, devem chegar perto da mínima histórica nesta quarta-feira, quando se espera que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) faça corte de 0,75 ponto percentual. É essa a expectativa predominante entre analistas de bancos e corretoras.
Entretanto, diante da redução significativa da inflação, que deve terminar o ano mais próxima do piso da meta, de 3%, do que do centro da meta, de 4,5%, além da demora no processo de recuperação da economia, alguns analistas avaliam que a taxa pode cair um pouco mais. Para integrantes desse grupo, a medida teria um simbolismo significativo para o país, que, apesar do atual ciclo de afrouxamento monetário, convive com juros reais bem acima dos existentes nas economias desenvolvidas.
Entretanto, as incertezas quanto à aprovação da reforma da Previdência e o reequilíbrio das contas públicas, o temor de instabilidade política no próximo ano diante das eleições para presidente e a falta de clareza sobre os rumos da economia internacional são riscos que poderiam obrigar o BC a elevar os juros ao longo de 2018. Não vale a pena, argumenta-se, baixar muito os encargos dos empréstimos e depois ter de aumentá-los, em meio a uma eleição presidencial, com toda a celeuma que isso poderá trazer.
Entre as exceções está a essa tese está o diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa. Para ele, o cenário benigno para a inflação e a retomada gradual da atividade econômica permitirão a continuidade dos cortes. Ele avalia que o BC reduzirá a Selic em 0,5 ponto percentual em dezembro e 0,25 ponto percentual em fevereiro de 2018. Com isso, o ciclo de cores terminaria, com a taxa em 6,75% ao ano.
A arrecadação de setembro, cita Barbosa, que cresceu 8,7% acima da inflação frente a setembro de 2016, continua mostrando recuperação. “A inflação segue controlada, os salários reais e a ocupação vêm crescendo; as famílias estão menos endividadas; os juros seguem caindo e os estoques na economia estão baixos. Por isso, mantemos nossas projeções de crescimento de 0,9% no PIB (Produto Interno Bruto, o conjunto da produção de bens e serviços do país) para 2017 e 2,8% em 2018”, comenta.
Possível recorde
Para o diretor do Bradesco, do ponto de vista do custo de vida, os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) deste mês, divulgados na sexta-feira, reforçaram as perspectivas positivas, com o resultado ligeiramente abaixo do esperado. Isso favorece a queda de juros. O economista-chefe do banco Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, entende que a política monetária comandada pela equipe de Ilan Goldfajn está em terreno estimulativo para a economia. Isso quer dizer que os juros no patamar atual já ajudam.
Alberto Ramos ressalta que a tendência é de que o BC faça apenas mais um corte de juros na reunião de dezembro e encerre o ciclo com taxa de 7%. “Isso levaria a taxa a um patamar claramente estimulativo para a economia e seria um novo recorde”, comenta.