Depois de amargar prejuízo por quase três anos, a Usiminas, uma das maiores siderúrgicas do país, mostra que está conseguindo reverter as perdas, em meio ao conflito judicial vivido entre seus principais acionistas, o conglomerado japonês Nippon Steel & Sumitomo Metal Corporation e o grupo ítalo-argentino Ternium/Techint. A empresa mineira voltou a registrar lucro líquido no primeiro trimestre deste ano, de R$ 108 milhões. O presidente da empresa, Sérgio Leite, que reassumiu o comando da Usiminas no mês passado em lugar de Rômel Erwin de Souza, projeta crescimento da companhia entre 3% a 5% até o fim do ano, mas reconhece estar cedo para planejar aumento de produção.
O balanço da companhia teve boa repercussão. As ações preferenciais USIM5 apresentaram valorização de 2,02% ontem na Bolsa de Valores de São Paulo, cotadas a R$ 4,04 no término do pregão. Os papéis ordinários USIM3 subiram 1,62%, cotados a R$ 8,16, em dia de alta modesta de 0,56% do Ibovespa, índice das ações mais negociadas.
Se considerado o EBITDA ajustado (lucro apurado antes de juros, impostos, depreciação e amortização), a Usiminas obteve R$ 533 milhões, melhor resultado desde o segundo trimestre de 2014. De janeiro a março do ano passado, esse resultado havia sido de R$ 51,5 milhões, ou seja, agora a rubrica supera a cifra de 2016 em 10 vezes. Segundo Leite, a empresa viveu em 2016 seu “momento crítico” e agora começa a sentir a reação das medidas adotadas internamente para recuperar a companhia.
“Em junho de 2014, depois de quedas mensais sucessivas, chegamos ao fundo do poço. Trabalhamos numa frente de redução de custos em todos os nossos processos, mobilizamos um trabalho muito grande, com as usinas de Ipatinga e Cubatão. No campo da receita, implementamos aumento do preço do aço nos últimos meses”, reforça Leite.
Ainda segundo o presidente da siderúrgica, ainda não é momento para se falar em crescimento de produção. “Quando falamos em retomada de produção, estamos falando de mercado. Em 2017, a retomada será lenta. A perspectiva de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, a soma da produção de bens e serviços do país) é de 0,4%. No caso dos aços planos, a estimativa é de 3% a 5%”, afirma. Em 2015, a empresa desativou uma parte da coqueria de Cubatão, em São Paulo, setor responsável pela produção da matéria-prima para produção do aço. Desde o início da crise, a Usiminas demitiu cerca de 4 mil funcionários.
Os resultados da companhia no primeiro trimestre de 2017 mostram também que a empresa conseguiu aumentar em 11% sua receita líquida, que passou de R$ 2,12 bilhões no último trimestre de 2016 para R$ 2,35 bilhões entre janeiro e março deste ano. A elevação se deve à melhora dos negócios da área de siderurgia, mas também à Soluções Usiminas, empresa do grupo destinada a beneficiamento e distribuição de aço, e ao aumento do preço do minério de ferro, o que beneficiou a Mineração Usiminas.
Com a melhora nos resultados, o caixa da empresa engordou, passando de R$ 2,26 bilhões, no trimestre anterior, para R$ 2,42 bilhões., avanço de 7%. Apesar disso, a produção de aço bruto de janeiro a março caiu 5% em relação ao período de outubro a dezembro do ano passado, alcançando 737 mil toneladas. Em contrapartida, as vendas totais de aço somaram 930 mil toneladas, incremento de 4%.
Do total comercializado no primeiro trimestre de 2017, 89% foram destinados ao mercado interno, número estável frente ao quarto trimestre de 2016. Um total de 105 mil toneladas (11%) foram exportadas, elevação de 48% frente ao último trimestre, quando 71 mil toneladas foram enviadas ao mercado externo. Entre os braços da companhia, a mais impactada pela crise é a Usiminas Mecânica, que viu sua receita líquida ser reduzida em 22,3% nos três primeiros meses de 2017.
COMANDO
Sobre o fato de estar de novo no comando da empresa, Leite reforçou que a intenção é valorizar a força de trabalho da Usiminas. Não há perspectiva para contratações. Em março, o Conselho de Administração da companhia votou pela destituição da presidência de Rômel de Souza, nome de confiança do grupo japonês Nippon Steel, que assumiu o comando da companhia em setembro de 2014. Foi a segunda destituição dele, que foi retirado em maio de 2016 e retornou à presidência no começo de outubro. Naquele período foi substituído pelo executivo Sérgio Leite, nome apoiado pelo grupo Techint. Leite foi reconduzido à presidência em 23 de março último.
Produção da Vale bate novo recorde
Rio de Janeiro – A produção de minério de ferro da Vale somou 86,2 milhões de toneladas no primeiro trimestre, aumento de 11,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo a companhia, esse volume representa recorde de produção para o período de janeiro a março. Na comparação com o último trimestre de 2016, a produção caiu 6,7%, queda explicada especialmente pela sazonalidade do clima. Passados os primeiros meses de 2017, a Vale manteve sua meta de produção de minério de ferro para o ano, estimada entre 360 milhões e 380 milhões de toneladas.
Assim, a mineradora projeta que sua meta de produção de 400 milhões de toneladas anuais deverá ser alcançada a partir do fim de 2018. O chamado Sistema Norte, que consiste na reserva de Carajás (PA), respondeu no primeiro trimestre pela produção de 35,974 milhões de toneladas, aumento de 11,1% na variação anual, porém uma queda de 11,4% na base trimestral.
Já o Sistema Sudeste, que abrange as minas operadas em Minas Gerais, produziu 28,165 milhões de toneladas, avanço de 24,9% na comparação anual e de 1,4% na trimestral. A produção de pelotas, por sua vez, foi de 12,422 milhões de toneladas no primeiro trimestre do ano, aumento de 8,2% na relação anual, mas recuo de 1,6% em relação ao último trimestre do ano passado.