Diante de um mercado imobiliário desaquecido pela crise econômica, o governo federal vai elevar o limite de valor de imóveis financiados com dinheiro do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para até R$ 1,5 milhão neste ano – montante variável de acordo com a cidade. Poderão ser usados recursos depositados em contas inativas, a ser liberadas para saque a partir do mês que vem, e ativas. A medida foi anunciada nessa quinta-feira pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles e vai beneficiar, especialmente, a classe média alta.
Em novembro do ano passado, o Conselho Monetário Nacional (CMN) já havia elevado o valor do imóvel que pode ser comprado com recursos do FGTS ou pelo financiamento dentro das regras do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) – modalidade de crédito com juros mais baixos. Na ocasião, o limite passou de R$ 750 mil para R$ 950 mil em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal. Nos demais estados, o valor aumentou de R$ 650 mil para R$ 800 mil. Esses valores não eram reajustados desde setembro de 2013.
O mercado imobiliário, – construtoras e corretoras de imóveis –, comemora a ampliação do teto dos imóveis. A expectativa é de que o novo limite aqueça o mercado, promovendo redução de estoques e, consequentemente, novos lançamentos. Levando-se em conta uma cadeia produtiva que inclui cimento, aço, vidros e projetos, o resultado final é geração de emprego, renda e mais movimentação nas contas do FGTS com um maior número de trabalhadores na ativa, avaliam empresas e governo.
“Uma medida como essa (aumento do valor do imóvel para compra com o FGTS) impacta toda a economia. Você cria um círculo positivo que desarmaria qualquer desequilíbrio nas contas do fundo”, afirma o economista e dirigente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon), Daniel Furletti. Para ele, esse tipo de medida é importante no momento em que o país enfrenta queda da atividade econômica em torno de 4% pelo segundo ano.
O aumento do limite no valor dos imóveis também repercute diretamente nas taxas de financiamento disponibilizadas no mercado. Isso porque, atualmente, imóveis acima de R$ 950 mil entram na faixa SBPE (cujas taxas de juros giram em torno de 12%). Por meio do FGTS, os encargos ficam entre 9,1% e 9,3%. “A partir do momento em que você tem essa nova regra, quem queria comprar um imóvel acima de R$ 1 milhão passará a ter vários benefícios, como a redução da taxa de juros”, explica o vice-presidente de Corretores da Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI-Cecovi), Breno Donato.
demanda Para se ter uma ideia, em um financiamento de um imóvel de R$ 1 milhão, o comprador economizaria em torno de R$ 30 mil por ano com o pagamento de juros. Ao longo de 30 anos – tempo médio dos contratos de financiamento –, representaria economia de R$ 900 mil. “No financiamento, o comprador paga geralmente de três a quatro vezes o valor do imóvel ao fim dos 30 anos. A economia seria significativa”, alerta Breno Donato, que acredita na existência de uma demanda reprimida nesse segmento.
Ele não tem dúvida de que, se a medida for implementada pelo governo, será um alento para o mercado imobiliário e para as classes média e média alta – ainda que o percentual de imóveis com valores superiores a R$ 950 mil não seja tão alto. Segundo a CMI, 80% dos imóveis negociados estão abaixo de R$ 500 mil. “É um percentual baixo, mas significativo. Esse é uma forma de o banco conseguir atender uma população que precisava dessa ajuda e pega uma fatia de mercado que não estava muito ativa”.
NA MESA
120,7 mil
Era, no fim de novembro de 2016, o estoque de imóveis novos disponíveis para comercialização no Brasil
10,5%
Foi a elevação do estoque em relação a novembro de 2015
Fonte: Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias