Para o economista-chefe da Opus Investimento, José Márcio Camargo, nenhum dos dois motivos teve força suficiente para derrubar o dólar. “A repatriação vai trazer pouco dinheiro. As pessoas vão declarar, mas o grosso vai ficar lá fora. Efetivamente, a queda ainda é resquício da aprovação da PEC 241, que estipula um teto para os gastos públicos”, afirmou.
Ivo Chermont, economista-chefe do Itaim Asset, concorda que o volume de recursos da repatriação é irrelevante. “O Banco Central ainda vai ter que esterilizar esse dinheiro. Além do mais, há um grau de incerteza muito grande com o debate no Congresso. Parte das pessoas que pretendem trazer dinheiro vai esperar as mudanças”, disse.
REFLEXOS Na opinião de Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso, o comportamento do dólar pela manhã ainda estava precificando a informação do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) da véspera, de que os EUA poderão aumentar juros ainda este ano. “Hoje (nessa quinta-feira), entretanto, outro diretor do Fed deixou claro que não está em cima da mesa a determinação de aumentar juros. Daí o dólar mudou o rumo”, explicou.
Segundo ele, o Fed só vai assumir a alta de juros quando houver pleno emprego, inflação acima de 2% e crescimento entre 2% e 3% nos Estados Unidos. “Difícil olhar parao cenário americano e dizer que está chegando lá. O país está endividado. Além disso, na hora que tomar esta decisão, vai ter que avaliar o impacto em outros países”, afirmou.
Galhardo também não acredita que a repatriação seja responsável pelo movimento dessa quinta-feira ontem do dólar. “A gente sabe que está entrando moeda por conta da repatriação, mas não são US$ 5 milhões ou US$ 10 milhões que vão entrar para derrubar mercado. O que a gente vê é um ambiente mais tranquilo, com a possibilidade de aprovação das medidas do governo, o que coloca o Brasil de volta na linha de tiro do investidor”, conclui.
A Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) subiu 0,16% aos 61.119 pontos. Conforme Camargo, da Opus, o mercado de capitais não se explica por nada de curto prazo. “O movimento faz parte da tendência de alta que já vem ocorrendo há algum tempo”, disse.
Fluxo cambial no vermelho
O fluxo cambial do ano até o dia 7 de outubro ficou no vermelho em US$ 15,226 bilhões, ante saldo negativo de
US$ 15,760 bilhões visto no ano até o fim de setembro, segundo o Banco Central (BC). Em igual período do ano passado, o resultado era positivo em US$ 9,012 bilhões.
A retirada de dólares pelo canal financeiro, no período avaliado pelo BC, foi de US$ 49,658 bilhões. Este resultado é fruto de entradas no valor de US$ 330,093 bilhões e de envios no total de US$ 379,751 bilhões. O segmento reúne os investimentos estrangeiros diretos e em carteira, remessas de lucro e pagamento de juros, entre outras operações.
Já no comércio exterior, o saldo anual acumulado até 7 de outubro ficou positivo em
US$ 34,432 bilhões, com importações de US$ 95,578 bilhões e exportações de US$ 130,010 bilhões. Nas exportações estão incluídos US$ 23,569 bilhões em Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC), US$ 35,341 bilhões em Pagamento Antecipado (PA) e US$ 71,101 bilhões em outras entradas.
Segundo o BC, o fluxo cambial da primeira semana deste mês ficou positivo em US$ 534 milhões. No período em questão, a saída líquida de dólares pelo canal financeiro foi de S$ 929 milhões, resultado de entradas no valor de US$ 7,550 bilhões e de envios no total de US$ 8,479 bilhões. Esse segmento reúne os investimentos estrangeiros diretos e em carteira, remessas de lucro e pagamento de juros, entre outras operações.
Já no comércio exterior, o saldo na semana ficou positivo em US$ 1,463 bilhão, com importações de US$ 2,335 bilhões e exportações de US$ 3,798 bilhões. Nas exportações, estão incluídos US$ 488 milhões em ACC,
US$ 1,925 bilhão em PA e US$ 1,386 bilhão em outras entradas.
GANHOS COM SWAP Apesar do fluxo cambial seguir negativo, o BC continua registrando ganhos com operações de swap cambial. No mês passado, elas renderam R$ 1,118 bilhão de lucro à instituição financeira. Neste mês, o Banco Central registrou resultado positivo de R$ 845 milhões até o dia 7 (primeira semana do mês) com esses leilões pelo critério caixa. Pelo conceito de competência, houve ganhos de R$ 1,078 bilhão. O resultado pelo critério de competência inclui ganhos e perdas ocorridos no mês, independentemente da data de liquidação financeira. A liquidação financeira desse resultado (caixa) ocorre no dia seguinte, em D+1. O estoque de swaps cambiais do BC está na casa de US$ 31 bilhões, mas já superou os US$ 100 bilhões no passado. Com a retomada dos leilões diários de swap cambial reverso pelo BC, esse saldo vem diminuindo.