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Estado de Minas

Entrevista: Olavo Machado Júnior fala sobre impacto da crise na indústria

"Qualquer empresa que cometer erros assim quebra", diz o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Sufocada pela recessão, indústria pede medidas urgentes para recuperação da economia


postado em 19/06/2016 06:00 / atualizado em 19/06/2016 07:44

"Cobramos medidas há 30 anos e o governo aproveita para criar mais um imposto aqui, um CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) ali e nada muda" (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press - 4/4/16)
A um ministro que reconheceu desconhecer a realidade das fábricas brasileiras – Marcos Pereira, titular da pasta da Indústria, Comércio Exterior e Serviços –, o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Olavo Machado Júnior, pediu atitude e compromisso do novo governo. O recado foi de que as empresas não aguentam mais conviver com a crise financeira e da produção, sem medidas efetivas para a recuperação da economia. “A grande dificuldade que vejo é que cobramos o óbvio. Cobramos do governo maior eficiência e isso não se concretiza. Cobramos que ele distribua melhor os recursos arrecadados e ele insiste em distribuí-los de uma maneira predatória, criando grupos de privilegiados”, critica o industrial. Propostas em nove áreas essenciais para que o país volte a crescer, consolidadas pela Fiemg, indicam que a maioria das dificuldades a vencer surgem do lado de fora das linhas de produção. “Não se cria as condições para que as empresas produzam e então a saída tem sido recolher mais impostos. São erros primários, qualquer empresa que cometer erros assim, quebra”, critica Machado Júnior.

 

O Sr. entregou ao ministro Marcos Pereira um documento contendo propostas para a retomada do crescimento do país e já defende a reforma da Constituição. A situação do Brasil, hoje, comportaria essa iniciativa?
Tenho dito que chega de insistir em reformas isoladas. Fizemos tanta estripulia com as nossas leis e regras que não adianta mais reformar – seja reforma política, tributária, trabalhista, seja fiscal. Temos é que fazer uma nova Constituição. Não defendo a retirada de nenhum benefício previsto hoje. A primeira condição, para mim, é que os políticos que participarem de um novo conjunto de leis não possam exercer nenhum cargo público por 10 anos, para que não defendam nenhum interesse particular. Vamos ampliar benefícios, se possível, mas vinculados a metas e precisamos nos preocupar com os recursos para pagá-los.

Qual é a viabilidade de implantação das medias que a Fiemg propõe?

Todas elas são factíveis. Priorizar, tudo bem, mas nada aqui envolve qualquer absurdo, desde as sugestões relacionadas à agenda fiscal, como o fomento à previdência fechada para elevar a poupança doméstica à revisão do papel do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Cobramos medidas há 30 anos e o governo aproveita para criar mais um imposto aqui, uma CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) ali e nada muda. Não alteramos em nada o nosso discurso sobre atualizações nas leis trabalhistas ou na Previdência. Vamos ver como o resto do mundo faz. Não precisamos fazer nada diferente disso A grande dificuldade que vejo é que cobramos o óbvio. Cobramos do governo maior eficiência e isso não se concretiza. Cobramos que ele distribua melhor os recursos arrecadados e ele insiste em distribuí-los de uma maneira predatória, com grupos de privilegiados. Criamos um monte de vantagens para funcionários públicos, principalmente para os inativos, e vários estados não conseguem pagar a folha. Os empresários não agüentam mais recolher a carga tributária exigida. Não se cria as condições para que as empresas produzam e então a saída tem sido recolher mais impostos. São erros primários, qualquer empresa que cometer erros assim, quebra.

O sr. tem defendido foco numa política desenvolvimentista, à moda de Juscelino Kubtischek, que, no entanto, entra em choque com o discurso atual contra políticas de auxílio às empresas. Qual seria a solução?
Existem áreas em que é necessária a participação do governo para criar as condições do desenvolvimento, do contrário perdemos arrecadação e empregos. Precisamos arrecadar mais e para isso temos de produzir em condições de mercado, inclusive para que as empresas possam vender no exterior. É disso que o Brasil precisa. Saber o que se pode e deve produzir aqui e o que não se deve fabricar, ainda que a empresa tenha competência para fazer esse produto. Este é o papel que se espera do governo.

Algo que vai além do fim dos criticados incentivos recentes à produção automobilística, por exemplo...
Tem de haver clareza no que o país quer fazer. O governo pode dizer que nós nunca mais vamos produzir automóveis. É uma política determinada, então o que vamos fazer no lugar desse produto? Na hora que temos uma indústria automobilística, importante em qualquer lugar do mundo, não é possível que ela não seja assim encarada no Brasil. Mas, então, quais são as regras?

Seria o mesmo entendimento que serve de base para uma lei geral das agências reguladoras que a Fiemg propõe?
Sim. Temos de fazer regras claras, simples e que sejam respeitadas, para dar segurança ao investidor. Não há como cada governo que chega achar que o passado está todo errado e mudar as condições do investimento. Passado ninguém muda. É preciso haver governança e isso está permeando todos os mercados.

O problema central da competitividade não estaria dentro da empresa?
Não há incompetência produtiva. Da porta da fábrica pra fora é que se retira a competitividade do nosso produto. Incentivos, se tiverem de ser concedidos, devem ser muito bem avaliados. Não se trata de fechar mercado aqui, mas saber a dosagem certa da carga tributária e conhecer as dificuldades na área trabalhista. O governo tem o dever de ser também empreendedor, imaginar onde consegue ousar um pouco mais nas concessões de maneira que podemos aumentar a produção e, com isso, não só a arrecadação como também as oportunidades de quem está investindo. Na parte de infraestrutura, por exemplo, se não criarmos uma forma de as PPS (Parcerias público-privadas) funcionarem e a gente possa com alguma velocidade dotar o país de boa logística, produzimos  e não transportamos. O governo pode arrumar parceiros que durante algum tempo de concessão vão explorar um serviço e, sim, vão ganhar dinheiro – isso significa que o país está funcionando. Ganhar dinheiro faz parte do mundo capitalista; o que não pode é desviar recursos ou receber pelo serviço que não se prestou.

Com o agravamento da crise política, o Sr. vê algum sinal de reversão do cenário para a economia?

Apesar de tudo eu vejo sinais de que podemos ter esperança. Não vi nenhum estrangeiro saindo do Brasil porque o país não presta e nem grandes companhias desistirem de investir por isso. Aliás, os estrangeiros estão é querendo comprar ativos aqui, que se tornaram baratos. Prova disso está no interesse dos chineses. Esses são os sinais que nós, brasileiros, no meio do furacão, não percebemos, diferentemente de quem está lá fora. O Brasil ficou barato e o investidor estrangeiro está capitalizado.


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