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Estado de Minas

Recessão impõe cerco ao governo Dilma

Deteriorados, os principais índices que medem o vigor do país para crescer, entre eles renda, emprego e investimentos, alimentaram pressões políticas e encurralaram o governo federal


postado em 18/04/2016 06:00 / atualizado em 18/04/2016 09:12

Como uma indústria fantasma, empresa de Contagem, na Grande BH, revela marcas históricas de queda dos negócios do setor e alto desemprego(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Como uma indústria fantasma, empresa de Contagem, na Grande BH, revela marcas históricas de queda dos negócios do setor e alto desemprego (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)

O processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff ganhou espaço e cresceu em um ambiente de pessimismo na economia, agravado desde o ano passado pelo desequilíbrio nas contas públicas, que afeta também estados e municípios. O intenso aumento da dívida em 2015 turbinou indicadores vitais do cenário econômico, como a taxa de juros para pessoa física e para as empresas, acentuando a recessão. A inflação atingiu a casa dos dois dígitos em 2015 e deixou os brasileiros assustados.

No ano passado, o pessimismo derrubou expectativas, contendo os investimentos e a geração de empregos, tudo isso embalado pelas investigações da operação Lava-Jato e as denúncias sobre as chamadas pedaladas fiscais (prática do Tesouro Nacional de atrasar repasses aos bancos para melhorar, artificialmente, as contas públicas), que teriam maquiado o cenário de deterioração do balanço entre receitas e gastos federais. Ao mesmo tempo, a crise política impede o país de avançar com medidas importantes como as reformas, que poderiam devolver o ânimo e melhorar o humor da economia. Este ano começou com um país mergulhado na crise, e, de novo, à espera de queda do Produto Interno Bruto (PIB, a soma do que é  gerado pela produção de bens e serviços).


Como um problema mal resolvido do passado, que vai crescendo e ganhando espaço no presente, ameaçando o futuro, a política econômica iniciada em 2008 desandou. Em tempos de menor investimento pela iniciativa privada e menos consumo das famílias, os governos tendem a aumentar os gastos públicos e evitar a desaceleração, opção que o Brasil adotou naquela época. “Mas esse expediente, necessário em um determinado momento, se alongou muito”, analisa o economista e vice-presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-MG), Pedro Paulo Pettersen. Ele lembra que a política expansionista foi mantida em 2011 e 2012, alongando-se o período de gastos do governo.


Em 2015, quando o governo federal pisa no freio e adota contingenciamento de receita, a medida coincide com a crise política, a queda das expectativas na recuperação da economia, da arrecadação e o aprofundamento do déficit fiscal. A tentativa de se fazer uma transição entre a política de consumo e de investimento coincidiu com a paralisia gerada pela crise política e o país não conseguiu avançar, com a implementação de reformas consideradas importantes, a exemplo da reforma fiscal. A previsão para 2016 dos analistas de bancos e corretoras é de mais um ano de recessão, na casa de 3,7%, segundo o boletim Focus, divulgado pelo Banco Central.


A descida da economia brasileira por ladeiras que aceleram indicadores de mal-estar social, como o fechamento de vagas na indústria e no comércio e o aumento de preços – o desemprego já atinge 9,6 milhões de brasileiros, e a queda da renda abriram espaço para a crise política. Como em uma roda-viva, a instabilidade em Brasília contaminou, por sua vez, a economia e o resultado está na paralisia da atividade econômica no país. Os reflexos são vistos no freio de quase todos os setores, da indústria aos serviços, no ano passado, quando o PIB despencou 3,8%, e só o agronegócio escapou do resultado negativo.


O primeiro governo da presidente Dilma Rousseff começou a sentir o aprofundamento da crise econômica em 2014, ano em que a economia brasileira derrapou e parou de crescer. A estagnação veio depois de o país experimentar avanço do PIB na ordem de 3% em 2013.
O ano que se seguiu à eleição de 2014 foi também pressionado pela desaceleração de gigantes do consumo mundial e grandes consumidores de produtos brasileiros, como a China, que ajudaram a intensificar a tormenta tupiniquim. Em um gráfico descendente, o PIB fechou no vermelho, revelando tempestade maior do que a esperada. “A crise política foi âncora para o aprofundamento da crise econômica”, avalia Pettersen.


À medida que as denúncias de corrupção se estendem em repetidos escândalos, o país foi rebaixado pelas agências classificadoras de risco, perdendo o selo de bom pagador. A vida dos brasileiros ficou também mais dura, marcada pela volta da inflação à casa dos dois dígitos, crescimento da taxa de juros, encarecimento do crédito e crescimento do endividamento das famílias. Os fatos positivos ficaram com a produção do agronegócio brasileiro, a safra recorde e o superávit da balança comercial. Por fim, em 2015, o consumo das famílias, responsável por 60% do PIB, desacelerou, ajudando a explicar o resultado negativo da economia.

 

Novela repetida

Em um cenário de recessão, 2016 começou sem virar a página, arrastando os problemas instalados no país em 2015, como o agravamento do déficit brasileiro, da instabilidade causada pela crise política e da dificuldade do governo em implementar reformas que poderiam levar à retomada das expectativas. Como herança, o país convive com déficit nas contas públicas da ordem de R$ 115 bilhões, pior resultado em 19 anos. Assim, o ano-novo da economia tem gosto de ressaca.


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