
A alta corresponde a mais que o dobro da inflação acumulada nos últimos 12 meses terminados em outubro, de 9,93%, medida no Brasil pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Diferentemente do que se esperava, os itens nacionais não escaparam do ataque do dragão e tiveram reajustes entre 5% e 15%, segundo estimativas do varejo, que já abasteceu os estoques.
A fórmula encontrada por Ana Cristina para comemorar o Natal em ano de crise na economia é repetida por uma multidão de brasileiros que estão controlando os gastos domésticos. “Com a crise e inflação, vamos ter um Natal com menos consumo e mais voltado para o espírito da celebração”, diz a empresária. Uma das estratégias são os presentes criativos e personalizados, como sobremesas feitas em casa.

O levantamento mais recente da empresa de pesquisas Mercado Mineiro, que comparou preços em novembro, apurou altas isoladas de até 54% dos produtos natalinos, como é o caso da ameixa importada. Outros produtos seguiram na esteira do câmbio. “Neste ano, os importados, como o bacalhau, encareceram com a pressão do dólar, mas como as vendas estão mais fracas que no ano passado, e a oferta está grande o consumidor tem muitas opções de escolha e assim consegue bons preços”, considera Antônio Sérgio Tavares, dono da delicatessen Império dos Cocos, instalada no Mercado Central, em Belo Horizonte.
Atuando há 54 anos nesse mercado, Tavares faz parte da segunda geração da família na atividade e acredita que neste Natal haverá uma retração de 10% no conjunto das vendas, frente a 2014. “O comércio também está sendo atingido pela crise”, diz. Segundo o comerciante, em uma espécie de compensação para o reajuste dos importados, os produtos nacionais, como a castanha de caju, do pará e amendoins, sofreram correções de preços abaixo da inflação. “O percentual foi de 5%”, garante.

A estratégia de Maria Teresa pode render gorda economia. Em uma rápida pesquisa, ontem, entre pontos de venda, a reportagem do Estado de Minas constatou que a diferença de preços por exemplo, da castanha do pará pode chegar a 37%. De acordo com o levantamento da empresa Mercado Mineiro em novembro as variações no caso da amêndoa laminada, por exemplo, chegaram a 68% e das nozes com casca, 62,5%.
PREÇO É QUE DEFINE Todos os anos, o casal de professores Cristiane e Wellington Rocha escolhe o bacalhau do porto para celebrar o Natal com a família. Eles têm o hábito de comprar sempre no mesmo local. “Fazemos questão da boa qualidade.” Neste ano, apesar da retração da economia, a tradição está mantida mas o casal considerou o bacalhau bem mais salgado que em anos anteriores. Nas contas do casal, a alta se aproxima de 30%. “No ano passado gastamos cerca de R$ 180. Neste ano, por uma quantidade bem semelhante, vamos desembolsar R$ 170.”
Leitão, pernil, peru ou chester. A escolha do consumidor está sendo pautada pelo preço. O comerciante Cícero Domingos, 52 anos, está na dúvida se compra um pernil ou um leitão para o Natal. “Gosto muito da leitoa, mas acho que vou ficar com o pernil, que está mais barato. Em comparação ao preço que paguei no ano passado, calculo que a leitoa encareceu 15%.”
