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Estado de Minas

Tatuadores de BH se especializam e investem alto para lucrar

Depois de amargar séculos de preconceito, desenhos no corpo viram tendência e conquistam clientes das mais variadas idades


postado em 04/07/2015 06:00 / atualizado em 04/07/2015 15:15

O tatuador Luck Bala tatua seu aprendiz, Simão Pedro Moreira, em seu estúdio, na Pampulha(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
O tatuador Luck Bala tatua seu aprendiz, Simão Pedro Moreira, em seu estúdio, na Pampulha (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)

Bem articulado para contar a história do setor, paciente na arte de decifrar o desejo do cliente, cuidadoso nos detalhes do traço, na escolha das cores, e com a agenda lotada, Luck Bala é um dos tatuadores pioneiros no mercado de Belo Horizonte. No setor há 30 anos, ele fez fama, desenhou para gerações, e acompanha de perto a evolução do segmento, da fase underground – quando as tattoos eram feitas por poucos profissionais, “quando ainda não era um mercado” – aos dias atuais, em que a atividade inspira novos profissionais e os estúdios se multiplicam para atender clientes, que estão entre os que mais se tatuam no mundo.



Depois dos Estados Unidos e do bloco europeu, o Brasil ocupa o terceiro lugar entre as regiões que mais fazem tatuagens, segundo a Associação Brasileira de Tatuadores e Perfuradores do Brasil (ATPB). A evolução dos materiais e das tintas, deixou as tattoos mais bonitas. O segmento saiu de um negócio de nichos para entrar em todas as classes sociais e faixas etárias. Surfando na boa fase, em Belo Horizonte, tatuadores ganham o status de artistas e chegam a receber clientes estrangeiros, que vêm à cidade exclusivamente pela originalidade do traço de determinados profissionais. A região da Savassi se tornou um polo importante e concentra, hoje, segundo cálculos da Associação de Tatuadores e Piercers de Minas Gerais, mais de 70 estúdios de tatuagens e body piercing. No país, a ATPB, estima que são 200 mil lojas.

“No Brasil, o mercado, que já estava crescendo, explodiu depois que Gisele Bündchen, em 2000, apareceu com uma tatuagem”, lembra Luck Bala. Ele, que começou a desenhar aos 5 anos de idade e firmou seu talento nas tatuagens elaboradas e de grandes dimensões, diz ter perdido a conta do número de estrelinhas que fez, iguais às da top model mais bem paga do mundo. Uma tatuagem na capital custa a partir de R$ 150, mas trabalhos como desenhar uma parte inteira do corpo, como as costas, podem superar os R$ 5 mil.

A argentina Natália Ferreyra, de 35, acabou de fazer sua terceira tatuagem. Vivendo no Brasil há um ano, ela disse que pesquisou vários mercados, do Nordeste ao Rio de Janeiro, e escolheu fazer sua tattoo em Minas Gerais. O terceiro desenho é o maior de todos, uma coruja colorida que cobre quase toda a área das costas. Ela fez cinco sessões, de aproximadamente R$ 400 cada, com a tatuadora Carina Alok, do estúdio Original Dragão. “Aqui em BH, as tatuagens são mais caras, mas são mais bonitas”, disse.

Designer gráfica, Carina começou a tatuar há cerca de cinco anos e tem agenda lotada todos os dias da semana. Antes de se dedicar ao negócio, ela também trabalhou com desenhos para bandas de rock, como o Tianastácia. “Sempre desenhei, mas fazer tatuagens é um trabalho de muita responsabilidade. Não dá para errar e tem que ficar bonito.” Sócio no estúdio Original Dragão, Frederico Stefani já foi professor de pintura e desenho, mas há 15 anos se dedica exclusivamente à atividade.

Fred, como é conhecido, foi incentivado pelos amigos, que foram seus primeiros clientes. “Nada me deu o retorno da tatuagem. Divulgamos o trabalho nas redes sociais e por indicação. Atendo de terça a sábado e estou muito satisfeito com a demanda, inclusive no inverno, quando tende a cair um pouco.”

O mercado em alta estimula também novos profissionais. Ser um tatuador não é tarefa fácil. É preciso gostar da atividade, ter habilidade, paciência para aprender e coragem para encarar o desafio, que é para sempre. Simão Pedro Moreira é professor de reforço escolar e aprendiz de tatuador. Ele está investindo R$ 7 mil em uma tattoo que vai cobrir as costas. Empolgado com o segmento, ele estuda as escolas que marcaram época e, em breve, vai começar a ensaiar os primeiros traços. “Decidi ser um tatuador pela admiração que desenvolvi pelo setor. A tatuagem se desenvolveu muito. Não é um produto, é uma arte.”

COVER UP A tatuagem deve ser bonita, mas nem sempre é o que ocorre. A evolução do mercado com novas tintas e equipamentos pode fazer desenhos antigos parecerem ultrapassados, e isso esquenta e dá novo viés ao mercado. O segmento de cobertura (cover up) para transformar uma tatuagem em outra, ou cobrir um desenho que o consumidor não gosta mais, também movimenta o caixa do setor. “É um trabalho legal de se fazer, porque a pessoa chega frustrada e sai feliz”, observa Luck.

Um dos mais novos estúdios da Savassi, o Classic Tattoo e Body Piercing, foi aberto há pouco mais de um mês. Anna Luiza Coelho, trabalha há 10 anos no setor, mas decidiu seguir carreira solo na região. Ela considera que o setor seja promissor e calcula que, nos últimos anos, seu negócio tenha crescido perto de 10% ao ano.

Cuidados também evoluem


No momento de escolher a tatuagem ou o piercing, vale tomar alguns cuidados, indicados pelos próprios profissionais do segmento. Existe um projeto de lei em tramitação em regime de urgência na Câmara dos Deputados (PL 2104/07) que prevê a formação dos profissionais em cursos de primeiros socorros, biossegurança e controle de infeção, que já são procurados por alguns profissionais. No entanto, até o momento os estúdios precisam contar apenas com alvará da Vigilância Sanitária.

“Antes de escolher um estúdio, o cliente deve verificar se ele tem alvará para funcionamento”, alerta Ronaldo Sampaio (o Snoopy), vice-presidente da Associação Brasileira de Tatuadores e Perfuradores do Brasil (ATPB). Segundo ele, o próximo passo é verificar a qualificação do profissional para prestar o serviço e ainda ficar atento aos materiais utilizados. Hoje, muitos profissionais utilizam produtos e tintas descartáveis e máquinas importadas, mas há também produtos nacionais. O maior problema, segundo Snoopy, são as falsificações, material sem garantia de procedência. A China por exemplo, fabrica piercings com garantia e outros sem a procedência. A presença de metais pesados ou metais irregulares pode causar danos à saúde”, alerta.

André Matozinhos é tatuador há 30 anos e ensinou a profissão aos filhos, que trabalham juntos no estúdio New Look. Segundo ele, que é presidente da Associação dos Tatuadores e Piercers de Minas Gerais (ATAP), a profissão experimenta forte crescimento e os profissionais se multiplicaram rapidamente, sendo impossível calcular o número em atividade no estado.

Ele assegura que em Belo Horizonte são mais de 250 estúdios, sendo que cada um pode chegar a ter dois ou mais tatuadores. A meta agora, segundo Matozinhos, é buscar a regulamentação da profissão para qualificar e garantir segurança. Apesar de alguns não gostarem muito da expressão, a tatuagem deixou de ser arte de poucos para se popularizar como mercado promissor. "É a profissão do futuro", diz Matozinhos. (MC)


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