O Dia das Mães está chegando, e quem deixou para comprar o presente na última hora não deve escapar do dragão dos preços – a inflação que está corroendo o poder de compra do brasileiro –, principalmente aqueles consumidores que planejam presenteá-las com flores. A alta do custo de vida chegou também às floriculturas, e os clientes terão que desembolsar até 23,19% a mais, em Belo Horizonte, frente ao gasto no ano passado, para levar o mimo para as mães. O vaso plantado de lírios é o que teve a maior alta. O preço médio, que era de R$ 45,71 em 2014, agora alcança R$ 56,31, de acordo com levantamento divulgado ontem pelo site de pesquisas Mercado Mineiro. O vaso decorado de violeta encareceu 21,41%, ao passar de R$ 8,36 para R$ 10,15. Já a unidade de rosa embalada simples ficou 17,49% mais cara. Custa, em média, R$ 5,24, ante R$ 4,46, também na média, em maio de 2014.
A variação dos preços nas floriculturas supera o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrado na capital mineira, de 7,39%nos últimos 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para evitar um rombo maior no bolso, a ornamentadora Maria Elisabete Silva Araújo pretende comprar as flores e ela mesma preparar o arranjo para presentear a mãe. A intenção dela é reduzir a despesa pela metade, comprando vaso separadamente do laço e do papel de seda. “Pretendo gastar cerca de R$ 120 com dois arranjos para presentear minha sogra e minha mãe. Está tudo muito mais caro agora. No ano passado, gastei metade desse valor”, revela.
Para o diretor-executivo do site Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, até o dia das mães os preços sofrerão alteração, tendo em vista que boa parte das floriculturas poderão fazer ajustes baseados nos preços de compra, e a tendência é que os valores ainda subam. “Quem deixar para comprar na última hora vai pagar ainda mais caro pelas flores. O ideal é que as pessoas comprem com uns dois dias de antecedência e pesquisem o preço para não sair no prejuízo”, afirma. A teoria do diretor-executivo é confirmada por empresários do setor. Segundo eles, fornecedores seguraram as vendas na última semana para aumentar os preços na véspera da data e o consumidor que deixar para a última hora pode pagar até 50% mais caro em alguns casos.
O proprietário da Distribuidora de Flores, instalada no Bairro Santa Efigênia, Renê Pereira, confirma a estratégia dos fornecedores. No estabelecimento, a dúzia de rosas que era comercializada a R$ 20, sem arranjo, deve ser vendida no fim da semana a R$ 40. Já o preço do vaso de orquídea simples deve subir de R$ 40 para R$ 60 e o das plantas mais sofisticadas de R$ 60 para R$ 100. “Os fornecedores sabem que é um dos melhores períodos para vender e aumentam todos os preços. A gente tenta segurar, mas não há como deixar de repassar a alta para o consumidor final”, afirma. Renê admite que as variações não são boas nem para empresários, nem para o consumidor. “A inflação está corroendo a renda e todo mundo está com medo de gastar. Neste ano, estamos com a metade do estoque de rosas que mantínhamos no mesmo período do ano passado”, relata.
Na Floricultura Mangabeiras, a expectativa é de que as vendas pelo menos repitam o mesmo resultado de 2014, a despeito da alta dos preços. De acordo com a gerente Ana Carolina Guidi, para não assustar os consumidores, a empresa tenta diminuir a margem de lucro e congelar os preços. “A gente tenta ajustar os preços apenas uma vez por ano, mas às vezes não ha jeito. Hoje (nessa segunda) já tivemos que aumentar o preço da orquídea de R$ 135 para R$ 145, por conta da alta que os fornecedores repassaram para a gente”, completa.
A pesquisa elaborada pelo Mercado Mineiro aponta ainda que as flores apresentam grande variação de preços para o mesmo produto no comércio especializado de BH no. A diferença pode chegar até 837,5%, como no caso do crisântemo em vaso médio, que pode custar de R$ 8 até R$ 75. O arranjo de gérberas em vaso pode custar de R$ 15 até R$ 128, variando 753,33%. O arranjo em cesta de kalanchoe (com dois vasos) pode custar de R$ 12 até R$ 85, diferença de 608,33%. Já o tradicional buquê com doze rosas varia 202,22%, custando de R$ 45 até R$ 136.
Novas pressões
Pela terceira semana consecutiva, os analistas de bancos e corretores ouvidos regularmente pelo Banco Central para o boletim Focus, que acompanha as previsões para os principais indicadores da economia, elevaram a previsão para o IPCA, a inflação oficial do país, neste ano. A expectativa é de que 2015 termine com uma variação acumulada de 8,26% do custo de vida, ante 8,25% na semana anterior. O Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC-S), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), caiu em quatro das sete capitais pesquisadas na quarta quadrissemana de abril em relação à terceira leitura do mês. Na média da pesquisa, o IPC-S recuou de 0,71% para 0,61% entre os dois períodos.