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Estado de Minas

Pagamento das contas estrangula o orçamento familiar

Com reajuste das tarifas de luz e água, 7,1% das famílias brasileiras deixaram de pagar em dia as concessionárias. Dos devedoress, 69% estão inadimplentes há mais de um ano


postado em 11/03/2015 06:00 / atualizado em 11/03/2015 07:25

Joana Martins, sócia da TR, diz que cliente desconhece consumo de aparelhos(foto: Pedro Vilela/Sebrae/Divulgação)
Joana Martins, sócia da TR, diz que cliente desconhece consumo de aparelhos (foto: Pedro Vilela/Sebrae/Divulgação)
Brasília – Os brasileiros estão enfrentando dificuldades cada vez maiores para pagar, em dia, as contas de água e de luz. Dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) mostram que 7,1% das famílias deixaram de honrar os compromissos em dia em fevereiro com as prestadoras de serviço. Dos que estão com a fatura em atraso, 69% devem às concessionárias há mais de um ano. Os números, segundo os especialistas, tendem a piorar muito a partir de agora, pois entrará o período de maior reajuste nas tarifas. Apenas em março, o aumento médio da conta de energia será em 23,4% no país. Em Minas Gerais, a conta de luz ficou, em média, 23,8% mais cara.

O que chama a atenção dos técnicos do SPC é que estão aumentando, de forma expressiva, os atrasos em todas as contas superiores a 90 dias. Isso mostra que os consumidores não estão conseguindo resolver as pendências financeiras, devido à disparada da inflação e à queda da renda. Para piorar, o desemprego voltou a subir. Apenas em janeiro, avançou um ponto percentual, para 5,3%, apenas nas seis principais regiões metropolitanos do país. Os mais pessimistas prevêem que a taxa de desocupação deverá fechar o ano entre 6,5% e 7%. Será um incentivo a mais para o calote.

No mês passado, de acordo com a pesquisa do SPC Brasil, houve crescimento de 2,33% da inadimplência no país, em comparação com o mesmo período do ano passado. É a menor variação desde 2011, mas, segundo os economistas do órgão, essa redução não tem qualquer relação com o pagamento de dívidas em atraso e sim com a dificuldade de consumo.

“A queda no estoque de crédito tornou mais restrita a concessão de empréstimos. Como consequência, esse fenômeno tem provocado uma redução na base de dívidas a serem pagas”, afirmou Marcela Kawauti, economista da SPC Brasil. “O cenário, contudo, está longe de ser positivo. A disparada da inflação, a alta dos juros, o avanço do desemprego e a queda na confiança das famílias brasileiras, diante de um cenário de recessão, continuam a corroer o poder de compra do consumidor”, acrescentou.

Inadimplentes

Em fevereiro, 53,6 milhões de pessoas estavam com restrição no nome, número equivalente a 36,9% da população acima de 18 anos. Entre o número de devedores, a variação de inadimplentes entre 18 a 29 anos registrou queda, enquanto na faixa etária de 30 a 64 anos o calote subiu. “Os mais jovens estão adiando a entrada no mercado de trabalho e consumindo menos. Já os com mais de 30 anos têm mais despesas, e acabam acumulando dívidas com maior peso no orçamento”, afirmou Marcela.

A quantidade de inadimplentes com contas entre três a cinco anos de atraso tiveram aumento de 8,05%, a maior variação, tendo uma participação de 37% do calote total. “Muitos acreditam que, quando as dívidas chegam na fase dos cinco anos, não precisam ser pagas. As pendências saem dos bancos de dados de proteção ao crédito, mas ainda podem ser executadas pela Justiça”, ressaltou a economista. A solução é renegociar os débitos. A inadimplência perdeu fôlego, mas isso não significa melhorias, e sim o arrocho do crédito. O crédito é para o varejo o que o sangue é para o corpo humano. Sem ele fica difícil operar”, afirmou.

Tem como economizar

Em tempo de aumento médio de dois dígitos na conta de luz – desde o mês passado o consumidor mineiro paga, em média, 28% a mais –, toda economia com energia elétrica é válida. Afinal, a alta na tarifa residencial compromete o orçamento doméstico e, no caso da indústria e do comércio, reflete na redução da margem de lucro e na diminuição da produção e venda. Diante desse cenário, que vem acompanhado do aumento de impostos nas boletas das distribuidoras, algumas empresas do estado lançam no mercado serviços e mercadorias voltadas à economia na conta de luz. Algumas fazem parte do Projeto Coletivo, apoiado pelo Sebrae, em parceria com a Universidade Federal de Itajubá (Unifei), que incentiva o desenvolvimento e a competitividade mo setor de smart grid .

Na prática, trata da criação de equipamentos e serviços que usam redes e dispositivos inteligentes com foco no consumo mais intenso da tecnologia em todo o ciclo da produção de energia. “O objetivo é que até o final já do próximo ano, as micro e pequenas empresas (MPEs) participantes conquistem um aumento de faturamento de até 50% e incremento de 5% de produtos de alto impacto de inovação que possam ser lançados no mercado, estimulando, assim, o desenvolvimento de novas soluções”, explica Elaine de Fátima Rezende, analista do Sebrae Minas.

Uma das empresas é a S.O. Esco, uma incubadora da Unifei que desenvolveu um sistema que permite tanto a residências quanto a indústrias economia de dois dígitos na conta de luz. A firma criou um aparelho que é acoplado ao quadro elétrico do imóvel e envia informações sobre o consumo para um software. Por meio do sistema, o morador ou empresário pode gerenciar qual o consumo deseja para determinado mês. Uma indústria de calçados, por exemplo, pode planejar a quantidade de energia consumida para produzir um lote de mil pares.

“No caso de uma residência que consome 300 kw hora por mês e deseja reduzir esse volume em 20%, por exemplo, pode ajustar o equipamento para que um alarme seja disparado quando o consumo estiver se aproximando de 240 kw hora por mês. Esse alarme pode ser por meio sonoro, pode ser por e-mail, pode ser por mensagem (no telefone celular) etc”, explicou Renato Swerts Carneiro, sócio da S.O. Esco.

O sistema da empresa deve começar a ser comercializado nos próximos dias. Em princípio, o custo para uma residência será em torno de R$ 250. Para empresas, porém, o valor levará em conta alguns diferenciais, pois a proposta da empresa é alugar o serviço, com recebimentos mensais. “Realizamos projetos de eficiência energética em que estudamos os principais consumos, as possibilidade de melhoria, o custo versus o benefício dessas melhorias etc. Por meio dessa consultoria é detectado o que realmente precisa ser monitorado, possibilitando uma melhor gestão do consumo”, esclarece Renato.

A TR Soluções, uma startup voltada para movimento de sistema do setor elétrico, criou um aplicativo, chamado Oráculuz, que permite às famílias projetarem diversos tipos de economia. “As pessoas compram novos eletrodomésticos, mas não sabem identificar como esses aparelhos influenciam sua conta mensal de luz. Atualmente, não existe no Brasil uma ferramenta que o consumidor possa avaliar o impacto financeiro que a substituição de um eletrodoméstico pode ocasionar no seu bolso, nem tampouco comparar a sua eficiência relativa quanto ao seu consumo de energia em relação aos seus amigos”, explica Joana Martins, sócia e diretora da empresa.

O acesso ao programa é feito pelo www.oraculuz.com.br. O usuário responde questões sobre o perfil de consumo, os eletrodomésticos da residência e qual região do país o imóvel está localizado. Dessa forma, o sistema calcula o consumo de cada aparelho e compara com a demanda de outras pessoas. O sistema ainda dá dicas para economizar energia com o uso correto dos aparelhos domésticos. Outro ponto positivo é o fato de o Oráculuz calcular o custo-benefício de se investir na implantação de um sistema de placas fotovoltaicas. “Coloquei seis placas dessas em minha casa ao custo de R$ 11 mil. Esse equipamento dura de 25 anos a 30 anos e o retorno é em cinco anos. O sistema fez o cálculo: minha economia (quando precisar trocar as placas) terá sido de R$ 70 mil”, conta Paulo Steele, sócio da empresa. Antes do reajuste das tarifas, ele pagava, em média, R$ 210 na conta de luz. Agora irá pagar R$ 54.

Reajuste pesado na tarifa

Brasília – A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou ontem um reajuste médio de 42,14% nas tarifas da distribuidora Ampla, que atende 2,5 milhões de consumidores de 66 municípios do Rio de Janeiro. Os consumidores de alta tensão, como as indústrias, terão aumento de 56,15%, enquanto os de baixa tensão, na sua maioria residências e comércio, sofrerão elevação de 36,41%. De acordo com o diretor geral da Aneel, Romeu Rufino, o aumento a ser percebido pelos consumidores será de 42,19%. Os novos valores entram em vigor em 15 de março.

Os diretores da agência reguladora explicaram que a Ampla não foi contemplada com o reajuste extraordinário concedido a 58 distribuidoras do país há duas semanas e que resultou num aumento médio de 23,4%, em vigor desde 1º de março. Eles decidiram não incluir a concessionária do Rio de Janeiro porque o aniversário da revisão ordinária era bastante próximo. “O reajuste da Ampla é um ponto fora da curva porque foi a única distribuidora que conjugou a revisão extraordinária com o reajuste anual”, explicou Rufino.

O órgão regulador esclareceu que o impacto da Revisão Tarifária Extraordinária (RTE) nos 42,13% de aumento da Ampla foi de 28,46 pontos percentuais. Para o cálculo da RTE foram incluídas a cota do da Conta de Desenvolvimento (CDE) e a compra de energia de Itaipu. A eletricidade comercializada pela usina binacional sofre influência do dólar, que se valorizou muito diante do real nas últimas semanas, com grande impacto no preço da energia transmitida para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.

Os 13,73 pontos percentuais restantes do aumento de 42,19% são relativos ao reajuste anual normal da companhia, que contempla, entre outras coisas, o pagamento de empréstimos. Segundo Romeu Rufino, 11,23% da revisão ordinária são relativos ao parcelamento dos financiamentos feitos pelas distribuidoras em 2014 pela conta ACR.

No ano passado, as concessionárias do país ficaram descontratadas – sem eletricidade previamente adquirida em leilões – e tiveram que comprar energia no mercado de curto prazo, muito mais caro.

As companhias ficaram sem recursos para honrar as operações e a saída encontrada pelo governo, que decidiu não mais aportar recursos do Tesouro Nacional no setor, foi intermediar dois empréstimos junto a vários bancos, criando a conta ACR, administrada pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).


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