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Estado de Minas QUANTO CUSTA A FELICIDADE HOJE

Governos e empresas se dedicam cada vez mais a medir o bem- estar

Trabalhador satisfeito eleva em até 12% a produtividade


postado em 24/12/2014 06:00 / atualizado em 24/12/2014 07:28

Brasília – A história pode ser vista sob o ângulo da transformação da natureza em riqueza. Começou com a busca do ser humano por conforto: carne, grãos e abrigo. Mas logo veio a ostentação, na forma de adornos, totens, pirâmides, templos e palácios. A ciência surgiu como instrumento para a busca de avanços e compreensão de nossa trajetória.

Pouco mais de dois séculos atrás, começou a se desenhar a vertente do conhecimento dedicada à prosperidade: a economia. Assumiu-se como desafio teórico mostrar como conquistar o máximo possível de tudo o que é bom. Fórmulas surgiram para garantir que a produção só tenha um viés, o de alta. Questionar o postulado de que o dinheiro faz as pessoas mais felizes era coisa de mesa de bar, sem espaço sério na academia.

Só que o jeito de ver as coisas está mudando. E num ritmo cada vez mais intenso. “Dedicamos excessiva atenção à renda”, alerta o professor Bruno Frey, do Departamento de Economia da Universidade de Zurique, um dos maiores expoentes dos estudos da busca pela felicidade. “As pessoas precisam valorizar a relação com os amigos, com a família”, recomenda Frey, que integra a seleta lista dos 50 economistas mais importantes do planeta.

Pode-se argumentar que, para perceber essas coisas, a ciência econômica é supérflua. No entanto, ela vem oferecendo uma grande ajuda, com releituras sobre o conhecimento que se acumulou até hoje. A ideia não é mais ter o máximo. É saber o quanto é preciso – e possível – ter, além de identificar a medida do esforço que vale a pena aplicar na empreitada.

Processo de escolha As novas teorias permitem destrinchar algumas formas de decisão de que as pessoas não se dão conta, e que, muitas vezes, são nocivas para elas. Do mesmo modo que se calcula o valor presente de uma empresa presumindo todo o lucro que ela terá em décadas, e descontando-se a taxa de juros, os economistas conseguem explicar, por exemplo, por que nós resistimos tanto a fazer exercícios físicos e seguir dietas que nos permitirão ter uma vida melhor e mais longa.

A diferença de morrer aos 80 ou aos 85 não aparenta ser um ganho de cinco anos aos olhos de um quarentão. Dá-se a essa deturpação o nome de desconto hiperbólico. A vantagem da descoberta é que se pode mostrar a coisa pelo lado inverso, destacando que um benefício que parece pequeno agora crescerá exponencialmente no futuro.

Tudo isso parece um pouco com outra área de ciência. E muitas vezes é. Em 2002, o Prêmio Nobel de Economia foi concedido a Daniel Kahneman, professor de psicologia da Universidade de Princeton que estudou os processos de escolhas financeiras. É como se tivéssemos dois cérebros, ele explica, um racional; outro, emocional. Ambos estão em diálogo e conflito. Foi um baque diante da racionalidade que se atribuía ao “Homo economicus”, o ser dentro de nós que decide sobre consumo e poupança.
Kahneman também mostrou que várias escolhas são equivocadas, porque as pessoas não conseguem prever o prazer que terão com determinada escolha. Gastam muito para comprar um carro zero, por exemplo, e acabam por descobrir que o cheiro de novo passa logo e que seria melhor usar o dinheiro de outra forma.

Amor e dinheiro Do Nobel de Kahneman para cá, o interesse pelo bem-estar das pessoas em suas decisões que envolvem dinheiro só cresceu. “Ninguém sabe por que a economia da felicidade tem ganhado tanto a atenção de pesquisadores, governos e público. Mas deve ser pelas crescentes demonstrações de que não estamos ficando mais felizes, embora sejamos muito mais ricos que os nossos avós”, pondera o professor Andrew Oswald, da Universidade de Warwick, na Inglaterra. “Eu gosto de pensar que isso ocorre também porque os economistas estão começando a ver as coisas como elas devem ser. O que poderia ser mais importante do que a felicidade humana? A única surpresa que cabe é não terem percebido isso antes”, emenda.

Um dos vários estudos de Oswald sobre a economia da felicidade mostra que trabalhadores satisfeitos conseguem elevar em 12% a produtividade. Mas, se é assim, por que há chefes que ainda acreditam mais na disseminação do medo e de ameaças para conseguir o máximo de suas equipes? “Muitas empresas ainda estão defasadas. Acham que os funcionários devem ser tratados na base da força, da ditadura, como se fossem soldados. Talvez isso funcionasse nos anos 1950, quando a indústria manufatureira era o que havia de mais importante. Mas não serve para o mundo de hoje, em que as pessoas trabalham em escritórios, usando o cérebro e a iniciativa”, ressalta.
No Brasil, o assunto também tem atraído a atenção de economistas de variadas tendências. "Isso é de enorme interesse. O amor ao dinheiro deve ser abandonado em favor da fruição. Temos de ter tempo de apreciar as obras de arte. Todo mundo está percebendo que a competição desenfreada destrói as pessoas", afirma Luiz Gonzaga Belluzzo, professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Distribuição de renda

Uma contribuição que não é nova para a compreensão do bem-estar econômico é a teoria da utilidade marginal decrescente. Cada dólar, cada real que alguém recebe tem importância menor que o anterior. Assim, torna-se necessário ganhar cada vez mais para conseguir uma satisfação no mínimo semelhante à de antes.


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