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Estado de Minas EUA X BRASIL

Agronegócio norte-americano ameaça produtores brasileiros

Com infraestrutura eficiente, produtor dos EUA tem vantagem, apesar da oferta maior de áreas tupiniquins


postado em 28/09/2014 07:00 / atualizado em 28/09/2014 07:34

Soja brasileira perde no escoamento, quando são necessários 70 caminhões para levar o volume que uma barcaça transporta pelo Rio Mississipi (EUA)(foto: HELIO RIZZO/ESP.CB-D.A PRESS - 19/4/12 / SERGIO ZACCHI/DIVULGAÇÃO)
Soja brasileira perde no escoamento, quando são necessários 70 caminhões para levar o volume que uma barcaça transporta pelo Rio Mississipi (EUA) (foto: HELIO RIZZO/ESP.CB-D.A PRESS - 19/4/12 / SERGIO ZACCHI/DIVULGAÇÃO)


Chicago (EUA) — O poderio agrícola norte-americano ameaça a rentabilidade dos produtores brasileiros na próxima safra. Após sucessivas perdas nas lavouras nos últimos anos, causadas por secas e invernos rigorosos, os Estados Unidos devem registrar colheitas recordes até 2015. Levantamentos do Departamento norte-americano de Agricultura estima que serão colhidas 106,5 milhões de toneladas de soja, 17 milhões a mais do que no ciclo passado, e 366 milhões de toneladas de milho, o que representará um incremento de 9 milhões toneladas.


Toda essa pujança e potencial de recuperação se devem a uma série de fatores que fazem inveja ao produtor brasileiro. Os EUA contam com 200 mil quilômetros de ferrovias e 40 mil quilômetros de hidrovias navegáveis. Enquanto uma única barcaça transporta 1,75 mil tonelada de grãos pelo Rio Mississipi ou 16 vagões percorrem parte da malha ferroviária norte-americana, no Brasil, são necessários 70 caminhões para fazer o mesmo por estradas de péssima qualidade. Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento para o setor também mostram vantagem competitiva.

Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam que, em 2007, os norte-americanos destinaram 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) - a soma da produção de bens e serviços do país - para trabalhos científicos em lavouras. Em terras tupiniquins, o índice é de apenas 1,1%, e até 60% do investimento público se concentram na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Outro destaque nos EUA é o sistema de armazenagem. Lá, os agricultores podem estocar toda a safra em silos. No Brasil, mais de 45 milhões de toneladas ficam expostas às intempéries, por falta de espaço adequado.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou a oitava estimativa da safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas, que totalizou 193,6 milhões de toneladas, número 2,8% superior à obtida em 2013 (188,2 milhões de toneladas). A produção de soja em grãos, de 86,6 milhões de toneladas, deverá crescer 6% frente a de 2013. Para o milho, a expectativa é de que as lavouras produzam 77,5 milhões de toneladas, com queda de 3,7% na mesma base de comparação.

Oportunidades Para o presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABPT), Wilen Manteli, o uso de hidrovias para escoar a produção traz ganhos de produtividade aos produtores norte-americanos, reduz custos e diminui a emissão de gases poluentes. “No Brasil, temos 30 mil quilômetros de rios navegáveis e o investimento para o uso comercial é muito menor do que para construir ferrovias ou manter estradas. Temos a oportunidade de nos igualar aos Estados Unidos nesse quesito”, diz.

Na avaliação de Pedro Dejneka, sócio-diretor da corretora AGR Brasil, sediada em Chicago, além de dispor de melhor infraestrutura para escoar a produção, o agronegócio dos EUA não sofre com excesso de burocracia. “Os norte-americanos também utilizam ferramentas de proteção por meio de contratos nas bolsas de mercadorias. Isso dá a eles maior flexibilidade na hora da comercialização das safras”, destaca, reconhecendo, porém, que, mesmo com tudo jogando contra, o Brasil tem grande importância no mercado mundial de grãos e muito espaço para crescer.

Diretor de Marketing da Case IH para a América Latina, Rafael Miotto ressalta que a carga tributária brasileira é muito alta em comparação aquela dos EUA. “Isso barateia os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias. Além disso, nos Estados Unidos transportamos todos os nossos equipamentos por ferrovias. Aqui somente pelas estradas. Mesmo com esses obstáculos, o Brasil é um mercado importante e está enfrentando esses problemas”, afirma.

Produtividade se destaca da porteira para dentro

Saint Louis (EUA) — A despeito dos gargalos logísticos e de uma carga tributária pesada, a projeção de plantio no Brasil de uma safra recorde de aproximadamente 200 milhões de toneladas de grãos desperta o interesse de diversas empresas em fazer negócios com os agricultores brasileiros. Isso porque, em nenhum outro lugar do mundo, há espaço para crescimento da área de produção como aqui. Além disso, o país é reconhecido pela excelência dentro das fazendas.

De olho nas oportunidades, o vice-presidente global de assuntos corporativos da Monsanto , multinacional da área de agricultura e biotecnologia, Jesus Madrazo, afirma que a companhia tem promovido uma série de encontros entre o governo e empresas interessadas em investir em infraestrutura no país. Ele diz que é papel do setor fomentar discussões que contribuam para o desenvolvimento do agronegócio, de forma que o Brasil assuma um papel ainda maior no protagonismo mundial da produção de alimentos.

O interesse da Monsanto não é por acaso. O Brasil é o segundo mercado da companhia, atrás apenas dos Estados Unidos. Do faturamento global de US$ 14,9 bilhões em 2013, a unidade brasileira contribuiu com pelo menos 10%. “O Brasil é o primeiro país no qual desenvolvemos uma variedade específica de soja. Queremos que os agricultores tenham todo o apoio e possam acelerar a produção”, afirma, ressaltando que o apetite da companhia não se resume à soja. A cada 10 pepinos consumidos nos lares brasileiros, seis têm tecnologia da Monsanto. No caso dos tomates, três em cada 10, e no da couve, a empresa responde por metade do mercado.

O presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Maurício Antônio Lopes, explica que todo o potencial do país decorre da possibilidade de se dobrar a área total plantada, de 56,9 milhões de hectares para 113,8 milhões de ha com a incorporação de pastagens degradadas. “Esse processo passa pelas nossas pesquisas de desenvolvimento de variedades que se adaptam ao clima e o solo, além de ganhos de produtividade. Já temos regime de chuva e luz interessante”, afirma.

Lopes alerta que, nos próximos anos, o país enfrentará desafios climáticos e terá de reduzir os níveis de perdas dos alimentos — atualmente em 30% de tudo o que é produzido —, e de energia — 38% do total gerado. “Temos 400 pesquisadores envolvidos em estudos de variadas de plantas resistentes a eventos extremos e com menor emissão de carbono”, conta.

Para o vice-presidente de Proteção de Cultivos da DuPont do Brasil, Mario Tenerelli, o Brasil é um mercado estratégico. Por isso, investirá em um centro de pesquisa e desenvolvimento em Paulínia (SP) similar aos melhores laboratórios que a companhia tem nos EUA, na França e no Japão. Do faturamento global de US$ 32 bilhões em 2013, US$ 2,6bilhões são decorrentes de negócios fechados com agricultores brasileiros. A expectativa é de que as operações dobrem nos próximos anos. (AT)

*O repórter viajou a convite da Monsanto

 

 


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