(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Brasileiros recorrem a poupança para cobrir despesas

Saques da caderneta em 2014 atingem R$ 1, 032 trilhão, o maior montante da história. Diferença entre depósitos e resgates, que era de R$ 4,6 bilhões em agosto de 2013, encolheu 89% este ano


postado em 05/09/2014 06:00 / atualizado em 05/09/2014 07:31

Os sinais de fraqueza da economia, que combina crescimento nulo e inflação elevada, já provocaram estragos até mesmo nos números da caderneta de poupança. Diante da escalada dos preços e dos juros ao consumidor, que estão no maior patamar em três anos, uma parte dos consumidores não está conseguindo pagar as contas do mês. Atolados em dívidas, a solução foi recorrer à poupança para não entrar no vermelho.


Apenas em 2014, o volume de saques da caderneta chegou a R$ 1,032 trilhão, o maior montante já resgatado da aplicação na história. Mesmo se comparado a 2013, que havia sido, até então, o ano com mais saques, os números impressionam. Em oito meses, os brasileiros retiraram da poupança nada menos que R$ 150,1 bilhões a mais que o registrado um ano antes. Não por acaso, o saldo da caderneta despencou.

Em agosto, a captação líquida (depósitos menos resgates) fechou no azul em apenas R$ 518,3 milhões. Um ano antes, essa conta estava positiva em R$ 4,6 bilhões, uma diferença de 89%. Os resultados do mês, divulgados ontem pelo Banco Central (BC), são os piores para agosto desde 2006, quando o saldo da poupança foi negativo em R$ 280,3 milhões.

E pode piorar. “A tendência, a curto prazo, não é de melhora, muito pelo contrário”, disse o economista Miguel de Oliveira, da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac). “Você tem um ambiente de inflação mais alta e juros no maior patamar em três anos. Esses fatores, combinados, produzem efeito perverso na renda das pessoas, porque acaba faltando salário no fim do mês”, explicou.

Quando isso ocorre, há, em geral, duas opções: reduzir despesas do dia a dia, o que nem sempre é possível, ou conseguir mais dinheiro, seja com parentes, via empréstimo bancário ou recorrendo aos saques da poupança, para quem tem recursos guardados na caderneta. As estatísticas do Banco Central dão uma dica do que possa ter ocorrido.

Até agosto deste ano, o saldo da caderneta encolheu quase R$ 30 bilhões quando comparado ao registrado entre janeiro e agosto do ano passado. No ano, a captação líquida está positiva em R$ 14,1 bilhões, o menor resultado para o período desde 2011, quando os depósitos superaram os saques em R$ 5,3 bilhões.

O que pode explicar parte desses resultados, dizem especialistas, é o baixo desempenho econômico. “Quando você tem um ambiente de maior dificuldade financeira, como o país vive hoje, isso tem um impacto direto na poupança”, emendou Oliveira.

Os números não deixam margem para dúvidas: à medida que o Produto Interno Bruto (PIB) perdeu força, o saldo da caderneta também encolheu. Até o ano passado, mesmo com o país crescendo menos do que em períodos recentes, a poupança ainda registrava resultados fortes. Entre janeiro e junho de 2013, os depósitos na poupança superaram as retiradas em R$ 28,3 bilhões. Este ano, já com o país em recessão, o saldo acumulado despencou para R$ 9,6 bilhões – uma diferença de 66%.

PREÇOS NAS ALTURAS A escalada da inflação também joga contra a caderneta, diz o professor Silvio Paixão, da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). “À medida que os preços sobem, piora ainda mais o cenário para a poupança”, assinalou. Apesar de isenta de Imposto de Renda (IR), a aplicação tem rendimento prefixado, estipulado em 0,5% ao mês (6,16% ao ano), mais a correção da Taxa Referencial (TR).

Enquanto isso, os preços sobem sem parar. Nos últimos 12 meses até julho, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 6,5%. “Quer dizer o seguinte: hoje, na média, a poupança apenas empata para a inflação. Mas, como os preços são voláteis, há períodos em que a caderneta nem mesmo corrige os valores depositados pelos poupadores”, observou.

O professor é enfático: “Na atual conjuntura econômica, quem tem dinheiro guardado na caderneta corre o risco de ver o patrimônio encolher”. A saída, ele disse, é pesquisar outras opções de aplicação, como fundos de investimento ou até mesmo a bolsa. Mas com cautela. “Antes de tomar qualquer decisão, é importante procurar um bom especialista”, recomendou. “A bolsa, mesmo tendo subido recentemente, é um território de riscos elevados.”

Já os fundos de investimento, que ganharam com a recente alta dos juros, também têm de ser bastante observados. Simulações feitas por especialistas mostram, por exemplo, fundos que cobram taxa de administração acima de 2% podem, em boa parte dos casos, entregar rendimento ainda menor que a poupança. “Para não perder dinheiro, é preciso fazer contas e pesquisar bastante. Porque a vida do investidor, hoje, no país, não está nada fácil”, sentencia Paixão.

 

Produção e vendas de veículos caem

 

 Apesar do esforço do governo para incentivar o consumo de veículos, ao reduzir a necessidade das instituições financeiras de manterem recursos retidos no Banco Central, deixando, com isso, mais dinheiro disponível para financiamentos, a indústria automobilística teve um agosto de retração de produção e vendas, e já começa a demitir.

Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o número de empregos caiu 0,9% no mês passado em relação a julho, para 128.739. Nos primeiros oito meses do ano, as montadoras demitiram 8,1 mil trabalhadores. Em 12 meses, houve um total de 8,7 dispensas. Essa é a sétima queda seguida no número de vagas, e o pior resultado desde maio de 2012.

Com a demanda em baixa, os fabricantes foram obrigados a adequar a produção à demanda do mercado. Adotaram suspensões temporárias de contrato (os layoffs) e férias coletivas. De acordo com a Anfavea, 1,3 mil funcionários estavam em layoff em agosto e ficarão sem trabalhar até janeiro de 2015. Outros 7,5 mil receberam férias coletivas ou folgas em razão de paradas técnicas.

Desde 2010 não havia tantos trabalhadores nessa situação. Naquele ano, 20 mil empregados fizeram layoff. A CLT determina que o período máximo de layoff é de cinco meses e o empregado que participa, deve ficar pelo menos 16 meses sem que seu contrato seja suspenso novamente. O trabalhador recebe bolsa de R$ 1,3 mil do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Os gastos do FAT foram de quase R$ 37 milhões nos primeiros sete meses de 2014.

PRODUÇÃO No mês passado, foram fabricados 265,9 mil veículos, uma queda de 22,4% na produção quando comparada a igual período de 2013, e de 5,3% em relação a julho. No acumulado do ano, foram produzidos 2,1 milhões de unidades entre automóveis, comerciais leves, ônibus e caminhões, um recuo de 18% na comparação com os oito primeiros meses do ano passado. O tombo nas vendas foi um pouco menor, 17,2% em relação ao mesmo período de 2013.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)