(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Inflação alta leva brasileiros a mudarem hábitos para reduzir despesas

Com IPCA de março em 0,92%, o maior para o mês em 11 anos, índice acumulado em 12 meses chega a 6,15%. Resultados reduzem poder de compra da população


postado em 10/04/2014 06:00 / atualizado em 10/04/2014 07:11

Os corretores de imóveis, Denio Caldas e Ana Carolina, mudaram o hábito de vida devido a inflação, curtindo mais a vida caseira(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Os corretores de imóveis, Denio Caldas e Ana Carolina, mudaram o hábito de vida devido a inflação, curtindo mais a vida caseira (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Namorados e consultores imobiliários em Belo Horizonte, Dênio Caldas e Ana Carolina Freitas se assustaram tanto com os sucessivos aumentos dos preços de produtos e serviços em diferentes setores da capital mineira que em março mudaram alguns hábitos. “Costumávamos ir ao cinema de um shopping três vezes ao mês. Gastávamos aproximadamente R$ 100 com ingressos, pipoca e, depois, a cerveja. Passamos a assistir filmes em casa. Compramos pipoca e a bebida em supermercados”, conta Dênio. O casal mudou o hábito justamente no mês em que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, registrou avanço de 0,92%, o maior para um mês de março dos últimos 11 anos – o indicador em 2003 foi de 1,23%.

O IPCA do último mês, divulgado nessa quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), superou o de fevereiro (0,69%) e foi quase o dobro do registrado em março de 2013 (0,47%). O indicador também é o maior, juntamente com o apurado em dezembro de 2013, dos últimos 10 anos. No acumulado de 12 meses, a alta é de 6,15%. O índice se distanciou do centro da meta estimada pela equipe econômica do Palácio do Planalto (4,5%) e se aproximou do teto estipulado pelo governo: 6,5%. No ano, 2,18%. Em Belo Horizonte, o IPCA fechou março com avanço de 0,78%, acima do apurado em fevereiro (0,73%) e do registrado em igual mês do último exercício (0,63%). No ano, a alta é de 2,18%. Já no acumulado dos últimos 12 meses, 5,72%.

“Os consumidores estão perde ndo o poder de compra. Hoje, o trabalhador não consegue comprar a mesma quantidade de produtos (que levava para casa) há um ano atrás”, avaliou a economista Thaís Martins, da Fundação Ipead/UFMG. O grupo alimentação e bebidas, aliás, registrou alta de 1,58%, o segundo maior percentual entre os nove itens pesquisados – o primeiro foi artigos de residência (1,63%). Nos dois casos, o acumulado em 12 meses, de 7,14% e 7,29% respectivamente, estouram o teto da meta. Dênio, o funcionário da corretora, sentiu no bolso a subida do preço dos alimentos: “Almoço fora de casa todos os dias. Há dois meses, minha conta girava em torno de R$ 11. Atualmente pago cerca de R$ 15 (diferença de 36,36%)”. Segundo o IBGE, a inflação dos alimentos foi alavancada, sobretudo, pelos subgrupos cereais, leguminosas e oleaginosas, cujos percentual passou de -0,95%, em fevereiro, para 3,76% em março.

Na mesma toada, também subiram os valores do subgrupo tubérculos, raízes e legumes, de 7,58% para 17,31%, tendo como destaque a batata-inglesa (de 8,47% para 27,99%) e o tomate (de 14,01 % para 21,17%). Boa parte das altas é explicada pela entressafra de alguns produtos. Outra parte significativa é justificada pela estiagem que castiga o campo. A seca causa estragos em todo o país. Em nível nacional, diz Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú, “a pressão da alimentação vem refletindo o efeito do choque de preços agrícolas por problemas climáticos no início do ano (seca e calor excessivo)”.

Goldfajn acrescenta que “os preços livres subiram 1,20% em março, com a taxa em 12 meses atingindo 7% (6,3% no mês anterior), enquanto os preços administrados variaram -0,02%, com a taxa em 12 meses recuando para 3,4% (3,7% até fevereiro)”. É bom lembrar que a escassez de chuvas também é a causa do reajuste da energia elétrica em Minas, cujo percentual, da ordem de 14,24% para o consumidor residencial. “No grupo transportes, as maiores pressões (em março) vieram das passagens aéreas, que passaram de uma redução de 36,06% para um aumento de 31,40%, e dos combustíveis para veículos (de 0,30 para 0,81%), com o etanol passando de 0,74 para 4,45%”, informou Antônio Braz, analista do IBGE.

Escalada deixa BC encurralado

Brasília – A inflação de 0,92% registrada em março e o pessimismo do mercado forçarão o Banco Central (BC) a aumentar em 0,25 ponto percentual a Selic, o que levará a taxa básica de juros a passar de 11% para 11,25% ao ano. Na avaliação do estrategista-chefe fo Banco Mizuho, Luciano Rostagno, a surpresa negativa com o resultado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) traz uma perspectiva desfavorável para os números de abril que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará referentes a carestia de produtos e serviços.

Para Rostagno, esse cenário de aceleração de preços mostra que a inflação deve romper o teto da meta de 6,5%, no acumulado em 12 meses, a partir de julho e permanecer nesse patamar até novembro. “Com esse cenário e outro resultado acima das expectativas do mercado em abril, mesmo tendo sinalizado que não pretende subir a taxa de juros, o Banco Central será obrigado a fazer isso para melhorar o cenário da economia brasileira”, explicou.

O estrategista-chefe também alertou que a elevação da Selic precisa vir acompanhada de um ajuste na política fiscal. Ele comentou que sem a diminuição nos gastos do governo o trabalho da autoridade monetária perde efeito. “Projetamos que a Selic voltará a subir a partir de 2015 para um patamar próximo a 12,5%. Ainda assim, uma taxa de juros como essa será insuficiente se o Executivo não parar de gastar”, alertou.

Pressão

Na opinião do diretor de gestão de recursos da Vetorial Asset, Pedro Paulo Silveira, a inflação que já incomodava o mercado, os consumidores e o governo, se transformou em um problema para o Banco Central. Conforme ele, esses aumentos transitórios que provocam altas fora da curva de análise e deveriam ser ignorados pela autoridade monetária, se transformaram em uma realidade. “O preço dos alimentos sobe ao longo dos anos e isso não é sazonal. Temos um problema climático mais sério do que se imaginava a quatro meses e a pressão continuará a ser maior porque ainda temos a conta da energia que vai bater nos bolsos dos brasileiros”, disse.

Silveira acredita que o BC deve aumentar a taxa de juros pelo menos mais uma vez, mas acredita que as pressões inflacionarias continuarão em alta. “O salário dos trabalhadores continua a aumentar em um momento de fraca atividade econômica e isso gera uma demanda que faz disparar a carestia. É preciso ter muita cautela porque os próximos meses trarão novas surpresas”, finalizou.
 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)