(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Custo de vida resiste em ceder e derruba a aprovação do governo Dilma

Alta também espalha pessimismo entre empresas e consumidores. Com baixo investimento, economia permanece desaquecida


postado em 01/04/2014 06:00 / atualizado em 01/04/2014 07:28

Para frear elevação dos preços, reunião do Copom que começa hoje deve subir taxa de juros para 11% ao ano(foto: Delza Fiuza/ABR)
Para frear elevação dos preços, reunião do Copom que começa hoje deve subir taxa de juros para 11% ao ano (foto: Delza Fiuza/ABR)
Brasília – A inflação voltou a ser motivo de preocupação para presidente Dilma Rousseff, que, diante da alta dos preços, tem assistido à queda da aprovação do seu governo na mesma intensidade com que aumenta o mau humor do eleitorado com os resultados da economia. Mesmo após oito elevações consecutivas nos juros básicos da economia, que sobem sem parar desde abril de 2013, o custo de vida resiste em ceder.

A última vez que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou no centro da meta de inflação, de 4,5% ao ano, foi em agosto de 2010. Nos últimos três anos, durante 20 meses o índice ficou acima de 6% ao ano. Para analistas, são esses resultados que ameaçam Dilma Rousseff na campanha pela reeleição.

Pior do que isso. Também os empresários, assustados com a alta dos preços, têm pisado no freio e engavetado projetos de investimentos. Sem as obras necessárias para destravar a infraestrutura e os gargalos logísticos do país, a economia empacou. A média de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no governo Dilma é de 2%, o pior desempenho em 20 anos.

Para 2014, a expectativa é um resultado ainda mais frustrante: 1,69%, segundo projeções da mais recente pesquisa Focus, divulgada ontem. “Infelizmente, o governo jogou o país n uma armadilha de baixo crescimento”, disse o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa. “Sem investimentos produtivos, nós ressuscitamos uma série de gargalos logísticos, o que afeta a competitividade das empresas”, assinalou.

Com vendas ameaçadas, e diante da escalada dos custos produtivos, os empresários renovam mês a mês o pessimismo com o país. Ontem, duas entidades divulgaram resultados recentes de pesquisas que atestam uma sensível piora das expectativas do setor produtivo.

Mau humor É esse mau humor, diz a economista Monica Baumgarten de Bolle, que pode afetar ainda mais as expectativas para a inflação. “Digamos que o padeiro esteja vendo tudo ficar mais caro, ainda que isso não afete diretamente os negócios dele hoje. Na dúvida, ele vai jogar os preços para cima, para tentar evitar perder dinheiro lá na frente”, explicou a professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro.

Se o presente não agrada, pior é o que reserva o futuro. O custo de vida medido em 12 meses deverá começar a subir a partir de abril, refletindo uma pressão mais forte dos preços de alimentos in natura. Nos cálculos de Monica, a inflação deve ultrapassar o teto da meta, 6,5% ao ano, entre junho e julho, após os jogos da Copa do Mundo.

Mesmo depois do torneio, quando os turistas forem embora e as festividades acabarem, os preços continuarão elevados. A expectativa do mercado financeiro é que o IPCA encerre o ano em 6,3%. Não por outro motivo, emenda o estrategista-chefe para o Brasil do banco japonês Mizuho, Luciano Rostagno, o Banco Central (BC) deverá seguir elevando os juros básicos da economia, de forma a tentar conter os preços e, por tabela, reduzir também as expectativas para a inflação.

Ele chamou a atenção para o comportamento de índices antecedentes, como o IPCA-15, que mostraram forte variação em março. Como consequência, a inflação acumulada em 12 meses saltou de 5,65%, em fevereiro, para 5,90%, no mês seguinte. “Considerando a alta esperada da inflação de serviços durante a Copa do Mundo, pode-se deduzir que são concretas as chances de a inflação romper o teto da meta ao longo do ano”, escreveu o estrategista, em análise a clientes.

Juros O consenso do mercado financeiro é que o Comitê de Política Monetária (Copom) decida por uma nova elevação de 0,25 pontos na Selic na reunião que começa hoje, e que chegará ao fim amanhã. Mas ninguém aposta que esse será o último ajuste nos juros em 2014. “Acreditamos que o Banco Central manterá a porta aberta para um novo e eventual ajuste de igual magnitude, 0,25 ponto, na reunião do Copom marcada para maio”, disse Rostagno.

 

Desconfiança só cresce

 

Brasília – Os consumidores e o comércio estão mais pessimistas em março, mostram duas pesquisas distintas, que apontam o aumento da inflação e o medo do desemprego como as principais razões para o aumento da desconfiança em relação aos rumos da economia em 2014.

O Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec), divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), atingiu 108,8 pontos em março, o menor nível desde julho de 2009. A deterioração foi geral. Pelo levantamento, quanto menores os índices de expectativa de inflação e de desemprego, maior é o pessimismo. Nos dois indicadores, houve queda: com 95,9 pontos, o de inflação caiu pelo quarto mês consecutivo, acumulando recuo de 12% no período, enquanto o do desemprego, com 113,7 pontos, caiu 14% e recuou pelo segundo mês.

Para Marcelo Azevedo, economista da CNI, os números mostram que as preocupações se intensificaram. “Sinal de que os consumidores colocaram o pé no freio”, avaliou. Houve recuo no índice sobre a situação financeira do consumidor, que, com 107,7 pontos, cedeu pelo segundo mês seguido – menos 5% no período. Também pioraram a expectativa de renda pessoal para os próximos seis meses e a percepção do endividamento em relação aos últimos três meses.

O único indicador positivo na pesquisa de março foi a quantidade de consumidores que pretendem gastar mais nas compras de bens de maior valor. Esse índice aumentou 5,6% sobre fevereiro. “Porém, com toda a série de preocupações crescentes a reboque, não dá para apostar que essa intenção de compra vá se concretizar”, alertou Azevedo.

O Índice de Confiança do Comércio (Icom), divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV), apresentou desempenho desfavorável no primeiro trimestre, com queda de 2,1% na comparação com o mesmo período do ano passado. O economista da FGV Aloísio Campelo destacou que a confiança do setor vem caindo gradualmente desde 2010, por conta da desaceleração do crescimento. “O comércio começou o ano crescendo em ritmo inferior à sua média de 2005 a 2010, que era acima de 8% ao ano. Agora, a expansão anual está em 4,5%”, analisou.

 

Bolsa avança 7,05% 

 

Brasília – Com recursos externos e queda da aprovação de Dilma, o Ibovespa tem melhor desempenho em dois anos. Duas semanas seguidas de alta levaram a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) a ter em março o primeiro ganho mensal desde outubro do ano passado e o melhor desempenho desde janeiro de 2012. O Ibovespa, indicador das ações mais negociadas, avançou 7,05% no mês, superando, com folga, a maioria das aplicações financeiras. Apenas na sessão de ontem o índice subiu 1,3%, alcançando 50.114 pontos.

Com esse resultado, a bolsa deixou para trás investimentos como os fundos de renda fixa, que tiveram ganho nominal de 0,91% em março e de 2,74% no ano, segundo estimativa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Ambima). Também ultrapassou de longe o rendimento da poupança (0,53% no mês passado e 1,7% no trimestre). Os piores desempenhos foram os do ouro (queda de 5,76% em março e alta de 1,74% em 2014) e do dólar (3,22% e 3,74%, respectivamente).

A valorização da bolsa paulista na última sessão do mês acompanhou a alta do mercado norte-americano, impulsionada após a presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) defender a manutenção da política monetária expansionista da instituição.

A entrada de recursos externos nas últimas semanas refletiu também no mercado de câmbio, porém, com efeito contrário. Embora tenha avançado ontem 0,44% ante o real, o dólar acumulou, no mês, uma queda de 3,22%, fechando a R$ 2, 269 para venda. 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)