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Estado de Minas

Lojas que anunciam parcelamento de produtos embutem custo do crédito no valor final

Lojas que anunciam produtos em até 10 vezes isentos de qualquer tipo de taxa embutem o custo do crédito no valor final. O ideal é guardar o dinheiro para pagar à vista e ter desconto de até 12%


postado em 29/09/2013 06:00 / atualizado em 29/09/2013 08:37

A operadora de caixa Maria Adilma optou por juntar dinheiro em um cofrinho para fazer compras à vista(foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
A operadora de caixa Maria Adilma optou por juntar dinheiro em um cofrinho para fazer compras à vista (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)


Por trás de uma boa oferta de compra, com parcelamento em até 10 vezes sem juros, pode estar uma perigosa armadilha. Especialistas em finanças pessoais explicam que, embora seja recorrente a promessa de juro zero, ela não pode ser cumprida à risca pelas empresas. Isso porque elas não conseguem manter o preço praticado à vista nas compras parceladas por quase um ano. Ou seja, não podem emprestar um montante a alguém e não cobrar nada por isso. Sendo assim, todos os consumidores pagam juros embutidos no preço parcelado, que chegam a 4% ao mês.

A conta é simples: com base no preço do produto as empresas planejam a taxa de juro para 10 meses e, depois disso, dividem o valor final pelas 10 parcelas. Fato é que comprar “sem juros” é tão atrativo que o número de consumidores que dividem os gastos vem aumentando. De acordo com pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), em 2012 o percentual da população que dividia as compras em mais de 10 vezes para parcelar móveis, eletrodomésticos e aparelhos eletrônicos era de 10%, 11% e 10%, respectivamente. Já neste ano, esses percentuais aumentaram para 15%, 50% e 47%. O problema é que 72% desconhecem os juros cobrados pelo uso do crédito.

Embora a armadilha do juro zero ainda atraia alguns desavisados, a lógica que dinheiro custa dinheiro ajuda a entender que nada vem de graça para o consumidor. O professor de finanças da faculdade m de negógicos da Fundação Getulio Vargas FGV/IBS Milcíades Moraes, assegura que todo parcelamento tem juros, por mais que isso não seja dito pelos lojistas. “No Brasil não existe compra parcelada sem juros, vivemos em uma país inflacionário, com taxa de juros de 9% ao ano”, justifica. “Se o produto é vendido em 10 vezes sem juros e as lojas bancam isso, elas buscam capital de giro com os bancos, pagando juros, e têm de repassá-los”, acrescenta.

Clique para ampliar(foto: Arte/EM)
Clique para ampliar (foto: Arte/EM)
Ainda de acordo com ele, as taxas variam de acordo com o risco do negócio, podendo variar de 1% a 4%. Segundo Milcíades Moraes, essa variação depende da situação financeira da loja. “Cobra mais quem precisa de mais. As lojas que atuam com capital próprio, geralmente, têm condições de cobrar juros menores”, diz. “Em lojas do interior, por exemplo, o ganho é no parcelamento e não no produto”, reforça. A lógica também é válida para compras de automóveis e bens de maior valor agregado. “As concessionárias vendem com 50% de entrada e o restante sem juros, mas na prática aumentam o preço final”, lembra.

De acordo com o economista Samy Dana, autor do livro 10 x sem juros, ir às compras requer cuidado, já que “existem várias formas de enganar o consumidor”. “A mais comum é inflar o preço para que ele seja vendido em 10 vezes. Não menos comum é chamarem de desconto o que na verdade são juros”, pondera. Dana explica que isso ocorre toda vez que o cliente se recusa a pagar o produto à vista. “Ao negociar na loja o valor à vista, ou pagar por boleto em compras na internet, o consumidor consegue um preço menor, mas parcelando o valor volta a ser o primeiro dado pela loja. Essa diferença representa os juros”, lembra. Ainda de acordo com o especialista, os juros também são cobrados do consumidor por meio de taxas e seguros estendidos oferecidos pelas lojas. “Muitos oferecem mais desconto caso comprem mais produtos ou um seguro”, afirma.

A dica, segundo Dana, é sempre pesquisar o preço à vista. “Mesmo que você não vá comprar à vista é preciso saber quanto o produto custa sem os juros. Assim você saberá o quanto está pagando ao optar pelo parcelamento.” De acordo com Morais, negociar o valor à vista pode resultar em uma economia de 3% a 12%. Outra dica importante é não olhar apenas o valor das prestações, mas principalmente o valor total da dívida. “Os juros podem ser zero, mas podem existir outras taxas embutidas que vão inflar o preço final”, analisa o professor.

VOCÊ É O BANCO

Como alternativa para os juros embutidos, o educador financeiro e fundador da Academia do Dinheiro, Mauro Calil, sugere o financiamento inverso , ou autofinanciamento, no qual em vez de pagar juros, o consumidor recebe os juros. “Ou seja, se quiser comprar um fogão novo para a sua casa, vá até a loja, veja qual é a parcela. Se forem 24 meses de R$ 83, sugiro a economia e o depósito desse valor em uma caderneta de poupança pelo mesmo período para depois comprar à vista e, provavelmente, por um preço menor. Assim você estará financiando da mesma forma, mas está sendo seu próprio banco.” A dica, segundo ele, vale para a compra de roupas e outros itens.

Para evitar o superendividamento, boa parte dos consumidores tem optado pelo pagamento de suas compras à vista. A operadora de caixa Maria Adilma da Silva Pereira sempre dá preferência ao pagamento em uma única parcela, mas na compra de bens de maior valor acaba aceitando um número maior de pretações.“O brasileiro sabe que está pagando juros e que o conforto de parcelar nos custa alguns reais a mais, mas só enxerga pelo valor da parcela”, diz. Para não perder dinheiro, Adilma conta que tem juntado dinheiro em um cofrinho e que recentemente comprou uma penteadeira e uma mesa para computador à vista, com as moedas que economizou.

O corretor de seguros Júnio Ribeiro Silva e Câmara também prefere comprar à vista, mas confessa que é difícil poupar para isso. “Não é fácil guardar dinheiro para adquirir um bem maior. O salário geralmente é o suficiente para as despesas do mês”, garante. Sendo assim, resta a ele parcelar nos casos em que a renda não é suficiente para pagar à vista. Mas, para isso, ele conta que sempre calcula os juros para saber quanto está pagando. “Sei que existem os juros embutidos e eu até arco com eles, se forem baixos, mas pesquiso e procuro saber quanto estou pagando para não ser surpreendido”, afirma.


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