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Estado de Minas

Negócio próprio cresce e prospera no Brasil

Estudo do governo mostra evolução da formalização e seus reflexos na renda de empregados e empregadores em 10 anos


postado em 30/04/2013 06:00 / atualizado em 30/04/2013 06:52

 Reprovado numa matéria no curso de engenharia, Guilherme Lima, de 25 anos, foi impedido pelos pais de viajar com a família para o exterior. O castigo, porém, foi um passo importante para que o rapaz se tornasse um empresário responsável: como queria muito passear fora do país, ele começou a vender travessas de pão de queijo feitas pela mãe. O negócio prosperou e lhe rendeu dinheiro suficiente para conhecer a Austrália. De volta ao Brasil, decidiu abrir o próprio negócio, mas formalizado. “Convidei alguns amigos e, em dezembro de 2010, compramos uma pequena fábrica de pão de queijo. De lá para cá, multiplicamos a produção por 10. O número de colaboradores subiu de dois para nove.”

Da venda informal da iguaria preparada pela mãe à comercialização em grande escala em sua empresa formalizada, Guilherme ilustra bem um relatório divulgado ontem pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da União. A pesquisa “Vozes da nova classe média” mostrou que a taxa de formalização do pequeno empreendedor – quem emprega no máximo 10 pessoas ou trabalha por conta própria – e de seus empregados subiu de 20%, em 2001, para 28% em 2011. A melhor notícia, no entanto, está na evolução da remuneração: o estudo apurou que a formalização permite tanto ao empregador quanto ao empregado um salário maior que o dos informais.

Os pequenos empreendedores formais ganham em média R$ 2.615,00 por mês. Já os informais, menos da metade:
R$ 1.028,00. Da mesma forma, os empregados contratados por pequenos empreendedores formais recebem mais do que os trabalhadores informais: R$ 1.035,00 contra R$ 691. A formalização traz ainda outros benefícios, como maior possibilidade de alcançar novos mercados. Guilherme e seus sócios – Felipe Dolabela e Thiago Marques, ambos de 25 anos – já vendem parte da produção do pão de queijo Seu Ninico para o Rio de Janeiro. E eles estão em busca de outras praças.

“Até o fim do ano, queremos elevar a produção, das atuais 16 toneladas por mês, para 32 toneladas mensais”, conta Guilherme. Provavelmente, eles terão de contratar mais empregados. Aliás, o estudo “Vozes da nova classe média” revelou que 6 milhões dos 15 milhões de postos de trabalho abertos no país, de 2001 a 2011, foram gerados por pequenos empreendedores. A categoria, atualmente, emprega 40% dos trabalhadores brasileiros (37 milhões de um total de 92 milhões) e paga o correspondente a 39% da massa salarial do país.

Esse índice representa uma cifra anual de R$ 500 bilhões (US$ 282 bilhões ) – maior do que o Produto Interno Bruto (PIB) de alguns países, como o do Chile (US$ 248 bilhões), cuja economia é a que mais cresce na América do Sul. Os pequenos empreendedores e seus empregados ajudaram na queda da desigualdade da renda no Brasil. Para se ter ideia, a pesquisa constatou que o salário dos empregadores teve um crescimento anual, de 2001 a 2011, de 0,6%, enquanto a remuneração de seus empregados e a dos trabalhadores por conta própria subiu a uma taxa acima de 2% em cada exercício.

“Não por acaso a procentagem de empregados dos pequenos empreendedores que pertencia à classe baixa foi reduzida à metade de sua posição inicial, passando de 36% em 2001 para 17% em 2011. O resultado disso é que, hoje, quase dois terços dos empregados dos pequenos empreendedores já integram a classe média”, informou o relatório do governo. Mais do que reduzir a desigualdade de renda, os pequenos empreendedores ajudaram no avanço da chamada nova classe média brasileira. Hoje, 49% dos pequenos empreendedores pertencem à classe média, um aumento de oito pontos percentuais em relação a 2001.

A expansão da classe média só não foi mais acentuada porque parte dela migrou para a classe alta, cuja participação entre pequenos empreendedores subiu de 20% para 30%. Em decorrência desses dois resultados, a classe baixa caiu 18 pontos percentuais, de 39% para 21%. Apenas a título de esclarecimento, a SAE considera integrantes da classe baixa as pessoas em domicílio com renda per capita inferior a R$ 291. Desse total até R$ 1.019,00, como classe média. Acima disso, classe alta.

A jovem Jade Ananda Ribeiro, de 27, também contribuiu para a alteração na pirâmide de renda do país. Há dois anos e meio, ela abriu duas lojas especializadas na venda de flores e empregou cinco pessoas. Seu faturamento vai bem: “Esperamos crescer 12% em 2013, mais 15% em 2014 e outros 18% em 2015. Mas é preciso ter perfil de ir para frente e fazer acontecer. Tem de ter tino. Do contrário, é melhor ser empregado.”

É bom ressaltar, porém, que o crescimento do total de postos de trabalho no mercado de pequenos empreendedores (6 milhões de vagas) ocorreu mais em razão do salto no número de empregados por empreendimento, cuja média passou de 4,8 funcionários, em 2001, para 6,4 em 2011, do que pela abertura de firmas. Para se ter ideia, foram 4 milhões de empregados a mais ao longo da década passada. Os outros 2 milhões são pessoas que passaram a trabalhar por conta própria, o que leva à conclusão de que houve queda entre os empregadores com até 10 funcionários. Esse recuo foi de 2,8 milhões para 2,68 milhões de pessoas.

Queda

Diante disso, o relatório constatou que a participação dos pequenos empreendedores na chamada força de trabalho brasileira declinou de 26%, em 2001, para 24% em 2011. Por sua vez, os 4 milhões de novos empregados em pequenos empreendimentos elevaram a participação desse universo na força de trabalho de 14% para 16% no mesmo período. A redução no número de empregadores em pequenos empreendimentos não prejudicou o Brasil no ranking mundial de empreendedorismo. No restante do mundo, 3,9% da força de trabalho é formada por empregadores. No Brasil, esse índice é de 4,3%. Já os trabalhadores por conta própria correspondem a 19,5% no restante do planeta. No Brasil, são 20,5%.
O ex-comerciante Reginaldo Costa Silva, 38 anos, faz parte dessa estatística. Em 2010, ele decidiu fechar sua empresa, que empregava quase uma dezena de pessoas, e passou a trabalhar por conta própria. “Meu lucro cresceu 50%. Mas o que me levou a fazer isso foi a qualidade de vida. Hoje, minha carga de trabalho é bem menor, o que me permite mais tempo junto à minha filha.”


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