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Estado de Minas

Quem emprega mais tem desconto menor

Redução nas tarifas em setores com maior participação no Produto Interno Bruto e na criação de vagas no mercado de trabalho fica longe dos cortes feitos nas contas dos eletrointensivos


postado em 25/02/2013 06:00 / atualizado em 25/02/2013 07:28

Setores industriais que estão entre os que mais empregam e geram riquezas no Brasil foram menos beneficiados com o desconto nas tarifas de energia do que os eletrointensivos, que possuem faturamento menor e geram um número mais tímido de empregos. A soma de riquezas gerada pelas indústrias metalúrgicas, química e de papel e celulose no país, nas quais estão inseridas as empresas que mais consomem energia, que obtiveram maior redução nas tarifas, é de R$ 90,3 bilhões, o que representava 4,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2010. Por outro lado, setores com mais representatividade individual no PIB e na geração de emprego, ganharam menos porque a parcela da energia em seu custo de produção e no custo final é bem menor.

É o caso da produção de produtos alimentícios (12,1% do PIB), na qual o peso da energia é de 2% no custo final das mercadorias e da fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (9,9% do PIB), no qual a energia responde por 1% do custo. Sozinha, a indústria de alimentos ocupou o topo do PIB industrial brasileiro em 2010, com R$ 72,3 bilhões de faturamento, e os fabricantes de veículos automotores, reboques e carrrocerias faturam R$ 59,5 bilhões. Por outro lado, juntos, os eletrointensivos empregaram, em média, 703,6 mil pessoas e registraram gastos salariais da ordem de R$ 25,7 bilhões em 2010, levando em conta o pagamento do pessoal assalariado e do não assalariado.

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“A redução da tarifa seguiu um procedimento. O setor no qual a tarifa vai cair mais será a indústria, a redução será principalmente para os grandes consumidores. São aqueles nos quais o insumo energia pesa mais no custo total”, diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). São cinco os segmentos da indústria que mais se beneficiarão com o desconto. O setor de produção alumínio, no qual o insumo responde por 40% dos custos totais, o segmento de cloro e soda, que também tem na energia um peso de 40% nos gastos operacionais e administrativos, o de papel e celulose (25%), a siderurgia (20%) e a metalurgia (18%). Os dados são da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

Parte das empresas que integram esses setores, que atuam no mercado livre (consumidores A1), contarão com redução tarifária de 32%. Dentro do segmento eletrointensivo, indústrias como a de cimento, vidros e produtos cerâmicos também sofrem com o peso da energia em seus custos. Na produção de cimentos, o peso é de 12% do custo total, na de vidros, é de 10,8%, e na de produtos cerâmicos, de 15,2%. Pires explica que não existe uma relação direta entre valor do PIB e geração de empregos com a necessidade de redução dos preços de energia.

“Esses setores são importantes porque fabricam produtos de alto valor agregado ou empregam muito. Mas o que se levou em conta para estabelecer um patamar maior de redução nas tarifas foram os segmentos nos quais o custo de energia é mais elevado”, diz Pires. É o caso do setor de alumínio, que segundo a Associação Brasileira do alumínio (Abal) responde pela geração de 452 mil empregos (202 mil empregos diretos e indiretos, mais 250 pessoas envolvidas com a atividade de reciclagem) e faturou de US$ 18,4 bilhões em 2011, participando com 3,2% do PIB industrial do país. “Qualquer queda no preço da energia significa redução dos custos da produção de alumínio na veia.”

IMPACTO POSITIVO A importância da redução de um percentual maior na conta de energia para os setores eletrointensivos pode ser explicada pelo que se denomina efeito em cadeia. Segundo Tatiana Lauria, especialista de Competitividade Industrial e Investimentos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), esses segmentos compõem setores de base da indústria, que fornecem matérias-primas para outros setores. “A redução da tarifa de energia, que é um fator de produção importante para essas empresas, trará impactos positivos para toda a economia”, sustenta.

Paulo Richel, diretor financeiro da Rivelli Alimentos, que abate 100 mil aves por dia em Barbacena, na Zona da Mata mineira, explica que com uma queda de 18% na tarifa de energia, a economia no frigorífico será de R$ 54 mil ao mês. “Se a gente excluir os custos da matéria-prima, considerando apenas o operacional, a energia representa cerca de 10% no custo da nossa operação”, calcula. No comando financeiro de uma empresa que conta com 1.450 funcionários, ele acredita que o desconto na conta de luz vai significar uma economia de 0,27% no custo total. “Qualquer redução vale a pena, sempre é positiva. Mas acreditamos que isso não vai resolver todos os problemas da indústria nacional“, pondera.

Melhoria na competitividade


A redução nas contas de luz dos brasileiros derrubou a tarifa de energia cobrada no país de uma média de R$ 329 por megawatt/hora (MWh) para 263,2 MWh. Até agora, a tarifa praticada no país era quase 50% superior à média de R$ 215,5 MWh encontrada para um conjunto de 27 países que possuem dados disponíveis na Agência Internacional de Energia. O desconto começou a ser aplicado no fim de janeiro, mas ainda vai demorar para que as indústrias eletrointensivas em energia elétrica, as mais beneficiadas pela medida, possam sentir o alívio nas contas de luz.

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Para a especialista de Competitividade Industrial e Investimentos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Tatiana Lauria, a redução do preço do insumo já era esperada pelo setor produtivo e veio em boa hora, uma vez que o atual cenário energético – com todas as usinas térmicas ligadas devido ao baixo nível dos reservatórios – vai jogar para cima o preço da energia no decorrer do ano. “O aumento na tarifa devido ao acionamento das térmicas é conjuntural e a queda do preço advinda da redução dos encargos e da renovação das concessões permanecerá, então espera-se que no médio prazo os consumidores industriais possam sentir o benefício dessa queda.”

A redução média de 20% no custo da energia para a indústria é um avanço significativo rumo à melhoria da competitividade no país. “Até pouco tempo, o Brasil possuía uma das tarifas mais caras do mundo e a tarifa de energia é um dos fatores que afeta diretamente a competitividade da indústria brasileira, principalmente daquelas intensivas em energia elétrica, como as de alumínio, siderúrgicas e metalúrgicas”, explica.

Antes do desconto, a tarifa de energia elétrica industrial no Brasil era 134% maior do que a média das tarifas de China, Índia e Rússia (Brics), de R$ 140,7/MWh. Segundo a Firjan, as indústrias instaladas no país pagavam, cerca de 259% a mais do que na Rússia; 131% acima do custo médio verificado na China e 75% a mais do que na Índia para fabricar os seus produtos. Mas a queda de 20% na tarifa industrial ainda nãos será suficiente para igualar a tarifa brasileira às internacionais. “Para que a tarifa industrial de energia elétrica alcançasse os patamares internacionais de competitividade, esse percentual teria que ser da ordem de 35%. Ainda não estamos em pé de igualdade com o mundo no que diz respeito ao custo da energia elétrica para a indústria, ou seja, ainda há muito o que fazer”, pondera Tatiana Lauria. (ZF)


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