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Estado de Minas

Faltas ao trabalho disparam no país

Estimativa da indústria mostra que ausência de trabalhadores responde por 25% das perdas nas fábricas. Na construção civil, o absenteísmo triplicou em apenas dois anos


postado em 14/11/2011 07:03 / atualizado em 14/11/2011 13:00

O mercado de trabalho aquecido e a escassez de mão de obra estão alimentando a indústria do chamado absenteísmo ou das faltas ao trabalho, que freia a produção e explode como uma bomba nos custos das empresas brasileiras. No país, a cada R$ 100 que se perde na produção, R$ 25 são atribuídos às faltas ao trabalho, segundo estimativas do Serviço Social da Indústria (Sesi) nacional. A queixa de empresários é que nos últimos cinco anos as ausências têm se tornado cada vez mais comuns nas empresas. E muitas vezes a ausência é justificada com atestados médicos falsos, o que agrava o problema.

O custo para o país do não comparecimento ao trabalho não é medido pelas estatísticas oficiais, mas como aponta Fernando Coelho, gerente executivo de saúde do Sesi Nacional, os últimos números disponíveis que analisam o afastamento pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) dão uma ideia de como o problema merece ser melhor acompanhado por toda a cadeia, desde a fiscalização pública, passando pelas empresas até os trabalhadores.

Os dados do INSS mostram que a licença médica por mais de 15 dias, quando convertida em dias de trabalho, corresponde a uma razão de quatro faltas por ano por trabalhador da indústria. A soma, considerando o total de trabalhadores no setor e as horas trabalhadas, surpreende e assusta: o país perde perto de 35,6 milhões de dias por ano. Isso sem considerar as faltas, justificadas ou não, de até duas semanas, que não entram nessa conta.

Em setores da economia como a construção civil, o “absenteísmo” chega ao maior percentual da década, variando de 8% até 12%, um golpe na produção. “Haja planejamento, engenharia e administração para lidar com um percentual de faltas/mês que na média chega a 10%”, comenta Bruno Vinícius Magalhães, vice-presidente de Política, Relações Trabalhistas e Recursos Humanos do Sinduscon-MG (Sindicato da Indústria da Construção Civil). Magalhães ressalta que apesar de ainda não existirem estatísticas refinadas sobre a falta ao trabalho, esse é um ponto que o setor já tem atacado e planeja acompanhar de perto, devido ao surpreendente crescimento observado nos últimos dois anos. “Antes (há dois anos) esse índice era de aproximadamente 3%.”

Presença premiada Empresas de Minas estão premiando trabalhadores que não faltam ao trabalho com cestas básicas e gratificações em dinheiro no fim da semana ou no fim do mês. A estratégia não tem sortido 100% o efeito esperado, mas segundo empresários é uma forma de estimular o trabalhador a comparecer. Este é o caso da empresária Mara Fróis, da empresa Green Pet. Ela atua no setor de reciclagem e tem cerca de 45 funcionários entre as usinas de Belo Horizonte e Contagem. “Já cheguei a perder 30% da produção devido ao desfalque no quadro de funcionários. Em vez de 20 toneladas, já teve semana de a produção cair para 14 toneladas na indústria”, afirma.

No contra-ataque, a empresária diz que o funcionário que passa um mês inteiro sem faltas recebe uma cesta básica, R$ 100 em dinheiro e assim que atinge sua meta de trabalho do dia é dispensado, chegando a ganhar mais de duas horas em seu dia de produção. Segundo Fróis, ainda assim o absenteísmo é um desafio. “Principalmente nas segundas-feiras”, pondera.

Motivação melhora a frequência


Especialista em relações do trabalho e negociação, o professor João Bonomo alerta que na maior parte das vezes a falta ao trabalho está relacionado a questões motivacionais. O especialista afirma que em grande parte dos casos um simples ajuste de pontos, como a cobertura social, pode melhorar a motivação e a frequência ao trabalho. Antenado nas questões atuais, o professor ressalta que muitas vezes o trabalhador não sabe como argumentar. “Existe um mercado de atestados médicos por aí. Muitas vezes vale mais ir ao Centro, fazer a compra do documento e pegar um bico neste dia do que conversar.”

Bonomo define a ação como “autofágica”. “Não é ilegítimo que o trabalhador queira acumular uma renda maior, mas a longo prazo ele está destruindo o seu mercado quando usa de práticas como a falta.” Por outro lado, ele lembra que é papel das empresas estarem atentas a questões que mantenham o trabalhador mais disposto para desempenhar suas funções.

Cristiano da Matta Machado, presidente do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais, alerta que o adoecimento está muito alto entre a população e aponta que as empresas, em muitos casos, negligenciam a saúde no trabalhador. “Cumprem apenas o que está na legislação.” Ele explica que o excesso de trabalho em turnos longos acaba sendo um dos responsáveis pelo afastamento por doenças.

Bruno Magalhães, do Sinduscon, aponta que a mesma estratégia tem sido usada nos canteiros. Mas a atitude não está só na indústria, ela chega também ao comércio e até aos domicílios. Bruno Falcci, presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL-BH), diz que no comércio o problema é comum a grandes e pequenos empresários e programas de bonificação são armas usadas no setor. A dona de casa Ana Paula Silva afirma que implementou em sua casa um programa de premiação. “Como nossa empregada doméstica é uma boa profissional mas falta muito, resolvemos que no fim do mês se ela não faltar leva um bônus no salário, previamente combinado. A medida tem resolvido um pouco o problema.”

 


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