(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Sites que agem à margem da lei causam prejuízo aos consumidores

Páginas chinesas e até brasileiras que oferecem mercadoria sem impostos, a preços predatórios, agem à margem da fiscalização e não garantem direitos básicos a quem efetua a compra


postado em 08/08/2011 06:33 / atualizado em 08/08/2011 08:08

Sites brasileiros como o Armazém Chinês ou chineses como o Deal XTreme oferecem produtos eletrônicos que funcionam como genéricos das grandes marcas do mercado formal(foto: Reprodução)
Sites brasileiros como o Armazém Chinês ou chineses como o Deal XTreme oferecem produtos eletrônicos que funcionam como genéricos das grandes marcas do mercado formal (foto: Reprodução)
Como se não bastassem os já banalizados, embora controversos, sites chineses que prometem preços de banana para eletrônicos, roupas, brinquedos e sapatos, agora páginas nacionais já crescem o olho no esquema da importação que dá um olé na Receita. O que parece ser um legítimo negócio da China esconde meandros que muitos desconhecem. Do lado de cá da tela do computador, os consumidores não têm noção de que a compra virtual em um desses endereços pode significar passar o recibo para o contrabando – que, aliás, passa longe de recibos, cupons fiscais, tributos, ou quaisquer dessas “formalidades”.

Quem pode pagar o pato é o consumidor, que, ao efetuar a compra nos endereços do tipo, corre o risco de não receber o produto exatamente da maneira como foi anunciado. Nenhuma das páginas analisadas pelo Estado de Minas, como o gigante Deal XTreme ou mesmo as nacionais Armazém Chinês e MPFix, deixa claro que os produtos estão sujeitos a tributação quando chegam no país. Também pecam ao não detalhar fielmente aspectos descritivos do que vendem, gerando obscuridade que passa quase despercebida diante dos preços incrivelmente tentadores.

“Recebemos muitas reclamações de gente que comprou nesses sites chineses. A mais comum é quando o produto fica retido na Receita, que tem posto nos Correios, e a pessoa não entende por quê”, conta Marcelo Barbosa, do Programa de Defesa do Consumidor (Procon) da Assembleia de Minas. Falta de detalhes quanto ao funcionamento, garantia ou manuais em português dos produtos são outras agressões ao Código de Defesa do Consumidor brasileiro comuns nessas compras.

Apostar no negócio é risco que os brasileiros compram com prazer. O próprio blog do Deal XTreme, publicou, em inglês, recadinho especial para o público brazuca, frisando que o site “conhece o jeitinho brasileiro”. E não para por aí: “Onde mais você poderia obter (...) frete mundial grátis com preços baixos?”. O site surpreende, vendendo, por exemplo, câmeras filmadoras HD por US$ 81,50. A marca do objeto? Impossível detectar. No genérico, são os chamados ching-lings, aqueles de procedência mais que duvidosa.

O empresário Daniel de Nardi é dos que compram o risco. Consumidor convicto dos sites chineses, ele compra de tudo, mas reclama que, quando os produtos estragam (o que não demora a ocorrer) ou quando não fica satisfeito, o negócio é se conformar com o prejuízo. “Tem muita propaganda enganosa. Eles mentem até mesmo quanto à dimensão dos produtos”, diz o dono de pet shop que comprou um letreiro luminoso para colocar na loja e descobriu que o artefato era muito pequeno para o propósito que ele tinha somente quando recebeu a encomenda. Detalhe: entre o pedido e a entrega passaram-se três meses.

Para Barbosa, do Procon, o consumidor precisa estar ciente de que, ao comprar em sites estrangeiros, a compra estará regulada pelas legislações dos países que abrigam as sedes dos endereços eletrônicos: “Se tiver algum problema, o cara vai ter que demandar a solução lá na China”. O especialista lembra que é importante que o comprador se informe sobre a cadeia de produção (quem é o importador, quem é o distribuidor) para não se tornar refém da falta de informação, no caso de
O empresário Daniel de Nardi admite que já arriscou várias compras em sites como o chinês Deal Xtreme e, quando se dá mal, assume o prejuízo
O empresário Daniel de Nardi admite que já arriscou várias compras em sites como o chinês Deal Xtreme e, quando se dá mal, assume o prejuízo
insistir em comprar nos sites internacionais. “O melhor é evitar, esquecer os preços e aparentes facilidades e comprar pensando na segurança do negócio.~

No Brasil

O filão chama a atenção quando sites em português fazem a intermediação e, mesmo assim, não deixam muito claros os caminhos do produto até chegar ao consumidor. São comuns também referências a produtos já conhecidos do público, que são, na verdade, bastante diferentes dos oferecidos.

O MPFix, por exemplo, declara que tem por missão garantir “a diceminação (sic) de produtos chineses no Brasil”. Tem curiosa seção especialmente voltada para os chamados “Hiphones”, espécie genérica de iPhone, com telefones a partir de R$ 20,45 em 12 vezes. O Armazém Chinês é outro que divulga, na capa, a venda de um tal “iPad Tablet” a partir de R$ 229.

É o próprio responsável pelo site Armazém Chinês, Wildison Diniz, quem atende o telefone do serviço de atendimento ao consumidor disponível na página. Ele explicou à reportagem que a ideia é se comunicar com o público das classes C e D, que não fala inglês e não tem cartão de crédito internacional, habilidade ou disponibilidade para compras em sites estrangeiros.

“É uma segurança comprar em site brasileiro, mesmo que sejam produtos importados, porque o cliente sabe a quem recorrer se der uma bronca”, diz. O site foi criado depois que Diniz, que trabalhava com brinquedos, percebeu que não poderia concorrer com os chineses. As entregas não costumam demorar mais de 15 dias. “Se isso ocorre, é porque deu algum problema na Receita Federal”, admite. De acordo com ele, “caso o produto seja tributado quando chegar ao país, o site paga o tributo”.

Prudência é sempre bom

José Augusto de Castro, Presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB)

A questão dos sites chineses que entregam os produtos nas casas dos consumidores é subfaturamento descarado. Muitas vezes, não passam pelo controle do governo e não existem licenças de importação. É como se fosse um porta a porta. Sem falar no subsídio do governo chinês, que é predatório. Para o consumidor, teoricamente, pode soar como bom negócio, mas é claramente uma distorção que prejudica a indústria nacional. Quem, aqui no Brasil, teria condição de pensar em produzir dessa forma? Como bom mineiro, fico sempre com os dois pés atrás.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)