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Estado de Minas

Fusões e incorporações devem bater recorde neste ano


postado em 25/07/2011 09:08 / atualizado em 25/07/2011 10:05

Clique aqui para visualizar o infográfico(foto: Animação CB)
Clique aqui para visualizar o infográfico (foto: Animação CB)
A abertura da economia à concorrência global, iniciada em 1990 no governo do presidente Fernando Collor, modernizou a produção nacional e diversificou o consumo do brasileiro. Duas décadas depois, esse saldo positivo contrasta com a crescente concentração do mercado doméstico em poucos grupos empresariais, verificada nos últimos anos, além da oferta de produtos e serviços entre os mais caros do mundo. “Essas distorções só não foram maiores devido à própria abertura, que garante a presença de competidores externos, representados por artigos importados”, comenta o norte-americano Werner Baer, professor do Departamento de Economia da Universidade de Illinois (EUA).

Em parceria com o colega britânico Edmund Amann, o brasilianista pesquisou 19 setores do país e constatou uma forte concentração em 14 deles, nos quais as quatro principais empresas detêm mais de 60% do mercado (veja tabela). O ramo com menos competição é o petroquímico, com um índice de 91%. Em seguida, vêm o setor automotivo (85%), o comércio atacadista (80%), a mineração (79%) e alimentos e bebidas (76%). Especialistas afirmam que esse poder desproporcional permite uma elevação de valores acima do padrão, o que fica claro em um caso: desde a edição do real, em 1994, a inflação oficial ficou em 286%, mas os preços dos combustíveis aumentaram 790,36%.

Outro exemplo é a indústria de carnes. Apesar de se caracterizar por milhares de empresas de pequeno porte com alcance regional, o segmento representou um dos lances de consolidação que mais intrigaram especialistas. Operações como a fusão dos frigoríficos JBS e Bertin — ocorrida em 2008 e apoiada diretamente pelo governo — reforçaram a tendência de aumento dos lucros das líderes do setor, avalia Rafaela Nogueira, professora da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ).

Estudo realizado por ela e pelo colega Antônio José Maristrello Porto deixou claro um descompasso: os preços pagos pelo consumidor final, entre dezembro de 1999 e julho de 2010, foram até três vezes superiores aos recebidos pelo produtor de carne. “Os lucros dos frigoríficos subiram acima do normal e podem significar apropriação da renda na cadeia da carne”, analisa. Para Baer, entretanto, a consolidação empresarial não é ruim em si, mas um fato natural. Isso não exime o governo de ser vigilante em relação a eventuais abusos do poder econômico, como a fixação arbitrária de preços.

Alexandre Pierantoni, sócio da consultoria PwC, calcula que fusões e aquisições de empresas no mercado brasileiro devem bater recorde em 2011. Mesmo com todos os processos sendo, no geral, submetidos ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), os movimentos vão continuar tão acelerados quanto no ano passado, que registrou o número histórico de 796 transações. Em 2002, foram apenas 337. Neste ano, passarão de 800. Ele ressalta que o apetite de investidores nacionais e estrangeiros não escolhe setores, indo da tecnologia ao comércio geral, dos serviços à educação básica.

Amann e Baer encontraram respostas sobre as razões da brutal concentração de mercado no país na comparação entre o processo de privatização brasileiro com o liderado pela então primeira-ministra Margareth Thatcher no Reino Unido, de 1979 a 1990. “Por falta de uma cultura de investimento popular em mercados de capitais, a desestatização no Brasil transferiu ativos para poucos competidores privados, sem pulverizar o capital”, sublinha Baer, ex-professor do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.

Participação estatal

O fim do monopólio estatal em vários ramos da economia não impediu que o governo continuasse sendo o maior responsável pelo aumento de preços domésticos. Após 17 anos de circulação do real, completados este mês, a moeda acumulou inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 286,36%. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram justamente preços regulados pelo Estado os que lideraram as altas no período, como combustíveis (790,36%), comunicação (700,7%) e aluguel (634,17%).

Setores mais expostos à concorrência externa tiveram reajustes bem menores ou até negativos, casos do vestuário e dos eletrônicos. No geral, o Brasil tem hoje produtos e serviços bem mais caros em dólar do que no ano de lançamento do real. Pegar táxi ou encher o tanque do carro, por exemplo, custa mais em São Paulo do que em Nova York. Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a cesta básica custava US$ 67 em julho de 1994 e chegou a US$ 167 em maio último, num aumento de 150%.

Após 20 anos de cortes nas tarifas de importação, privatização de setores importantes como mineração e siderurgia e abertura do capital de várias empresas, o capitalismo brasileiro continuou orientado por uma rede restrita de relacionamentos. Em 1996, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) detinha participação, direta ou indireta, em 30 grandes empresas brasileiras. Em 2009, esse número triplicou e chegou a 90.

Reforço

Se incluídos os fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa Econômica Federal), o governo estava presente em 119 empresas privadas no ano passado. Também aumentou a participação direta, com a criação de estatais, caso da Telebrás, ressuscitada para tocar o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). O reforço do papel do Estado na economia era uma das principais bandeiras nos oito anos de governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sua sucessora, Dilma Rousseff, diz ter o mesmo ideário. (SR)


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