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Estado de Minas FARRA DO REAL

Valorização da moeda frente ao dólar promove enxurrada de turistas brasileiros na Flórida


postado em 03/07/2011 07:13

Miami e Brasília – Os norte-americanos comparam com uma “nuvem de gafanhotos”. Já os imigrantes latinos chamam de “a nova onda do real”. A presença de turistas brasileiros na charmosa Lincoln Road, onde ficam as butiques mais badaladas de Miami Beach, realmente se tornou uma atração, sobretudo para os comerciantes. Cartazes nas lojas informam sobre os idiomas falados: inglês, espanhol e português. Seja atrás de iPads, iPhones ou iPods da Apple ou de roupas populares ou de marcas como Diesel, Osklen, Gucci e Prada, a nova enxurrada de visitantes brasileiros no Sul da Flórida virou uma importante arma para a economia local driblar os efeitos da crise financeira desencadeada em setembro de 2008. Só no ano passado, os brasileiros despejaram US$ 1 bilhão na Flórida, o estado mais meridional dos Estados Unidos.

Responsáveis pelo aquecimento do mercado imobiliário da região de Miami, ainda mais nos arredores da badalada South Beach, os brasileiros levam dinheiro e prosperidade à região. Pesquisas feitas pela Convention Miami Visitors & Bureau mostram que a cada 83 vistos concedidos a brasileiros um emprego é criado na Flórida. Além disso, os estudos comerciais da região apontam que uma família de quatro pessoas gasta em média US$ 20 mil a cada 15 dias de viagem aos EUA.

A principal explicação para a “invasão brasileira” é a forte valorização do real. Estudos mostram que, desde o começo de 2009, a moeda brasileira apresentou a maior alta frente ao dólar entre 25 países emergentes. Em 4 de janeiro daquele ano, o dólar estava cotado a R$ 2,27. Na última sexta-feira, pelo câmbio oficial do Banco Central (BC), a moeda norte-americana era equivalente a R$ 1,55 — o menor dos últimos 12 anos. Ou seja, uma valorização do real de 43,7% em dois anos e meio. “Só tinha visto uma presença tão grande de brasileiros assim entre a criação do real, em 1994, e a desvalorização da moeda (em janeiro de 1999), só que agora desembarcaram com tudo por aqui e gastam mesmo em várias frentes, como imóveis, roupas e eletrônicos”, comenta José Augusto Nunes Pereira, dono da imobiliária Algebra Realty, especializada na venda de apartamentos para brasileiros, e que mora nos EUA desde 1986.

VISTO A sede tupiniquim por produtos norte-americanos é tão grande que a imprensa do Estados Unidos abriu um importante debate em junho sobre a necessidade de se discutir a liberação do visto de entrada dos brasileiros no país. Em reportagem de três páginas, a influente revista Time mostrou como o real está ajudando a salvar a economia local da crise financeira mundial e como o desempenho poderia ser ainda melhor caso o visto não fosse necessário para brasileiros — atualmente 36 países estão dispensados, a maioria deles europeu e nenhum da América Latina. “Todos deveriam amar os turistas brasileiros. Eles gastam mais per capita do que qualquer outra nacionalidade”, destaca a publicação.

“O poder aquisitivo do brasileiro aumentou e, como há uma oferta maior de voos entre os EUA e o Brasil, isso ajuda, e muito, a aumentar o fluxo desses turistas. Eles estão invadindo tudo e comprando muitos imóveis. O mercado nunca esteve tão aquecido”, comemora Fabiana Pimenta, corretora da Fortune International Realty, uma das maiores imobiliárias de Miami. Atualmente, saem do Brasil 22 voos diários para Miami.

Apetite pelo iPad parece insaciável

Um dos endereços que mais atraem brasileiros em Miami é o número 738 da Lincoln Road. É onde fica a Apple Store, loja da fabricante dos equipamentos eletrônicos. A venda de iPads, tablet mais famoso do mercado, impressiona até os funcionários. Diariamente, são vendidos cerca de 280 equipamentos, de 150 a 180 para brasileiros. Às 14h, é praticamente impossível encontrar um iPad para venda.

Normalmente, os vendedores fazem reserva, que pode levar de um dia a duas semanas para ser entregue. “Gostaria de saber porque os brasileiros compram tanto iPad. São nossos melhores clientes”, afirma um vendedor que pede para não ser identificado, por questões de hierarquia.

Na tarde de terça-feira, depois de cinco dias de espera, a estudante paulista Yasmin Pinto, de 25 anos, conseguiu comprar o seu iPad 2. Pagou US$ 780 (incluídos os 7% de imposto local) pelo modelo com 32 gigabytes de memória, mais conexão sem fio e 3G com a internet. "Vale a pena levar. Daqui a pouco será igual a celular", compara a aluna de administração de empresas. (RF)

O lucro no crime fiscal

Miami – Eles estão por todos os lados. Percorrem tanto as lojas mais caras quanto as mais baratas. E têm um comportamento parecido: vão direto para o fundo do estabelecimento, atrás das promoções, que podem chegar a 80% de desconto sobre o preço original. “É onde vale a pena. Dá para comprar camisetas de marcas famosas por US$ 5, o que daria na faixa de R$ 8,50, e revendê-la por R$ 45 no Brasil sem dificuldade alguma”, afirma A.M.F., de 34 anos, morador de Goiânia, que já esteve em Miami em quatro oportunidades nos últimos 12 meses.

A.M.F. é o típico sacoleiro brasileiro nos Estados Unidos. Faz viagens curtas, com no máximo seis dias de duração, e leva apenas uma mala — todas as outras são compradas lá. Em Miami, tira o dia para percorrer os shoppings com preços mais populares em busca das pechinchas. “Levo US$ 4,5 mil no máximo em cada viagem, a maioria em cartões pré-pagos (travel money) porque não dá para ficar gastando no cartão de crédito no exterior sem chamar a atenção da Receita Federal e também para fugir do imposto de mais de 6%”, completa. O tributo ao qual o sacoleiro se refere é o Imposto sobre Operações de Financeiras (IOF), que teve a alíquota aumentada de 2,38% para 6,38% pela presidente Dilma Rousseff com a finalidade de conter a alta dos gastos no exterior.

Em alguns shoppings, como o Sawgrass Mills, tênis de corrida que são vendidos a R$ 599 nas principais lojas esportivas do Brasil podem ser encontrados por US$ 80. “Basta ter a disposição para procurar e conhecer um pouco o que está em alta lá no Brasil. Assim, dá para ganhar um bom dinheiro na revenda”, avalia A.M.F.

O tal do “bom dinheiro na revenda” citado pelo sacoleiro, trata-se de um crime fiscal. Para entrar no Brasil com as roupas e tênis para revender, eles omitem da Receita a compra das mercadorias, arrancam a etiqueta com o preço e torcem para não cair na fiscalização. Adotam também estratégia de evitar entrar no país pelos aeroportos com menos voos internacionais, como Belo Horizonte ou Brasília. “A fiscalização é mais apertada, os voos chegam cedo e o risco de cair nas mãos de fiscal é maior”, completa A.M.F.


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