São Roque de Minas, Três Marias (MG), Juazeiro (BA), Bom Jesus da Lapa (BA), Penedo (AL) e Piranhas (AL) – O engenheiro Nelson Vasconcelos, de 42 anos, viajou 493 quilômetros, de São José dos Campos (SP) a São Roque de Minas, para conhecer a nascente do Velho Chico. Luiz Orione, de 47, percorreu 397 quilômetros, de Uberlândia a Três Marias, para curtir a represa formada pelas águas do São Francisco. Ceciliane de Almeida, de 19, saiu de Serra do Romário (BA) para Bom Jesus da Lapa (BA), distante 50 quilômetros, para rezar no santuário de mesmo nome, terceiro destino religioso mais visitado do país depois de Aparecida (SP) e Juazeiro do Norte (CE). Os três turistas são exemplos de como roteiros na Bacia do Rio São Francisco começam a mostrar potencial.
Belezas naturais
O roteiro colonial do Velho Chico também é aposta da região. Em Penedo (AL), os visitantes se encantam com a Igreja de Nossa Senhora da Corrente, com detalhes arquitetônicos do barroco, rococó e neoclássico. Em Piranhas, uma lei municipal garante aos moradores que a prefeitura pinte a fachada dos imóveis históricos. A tinta é fornecida pelo município e cabe à família escolher a cor. A cidade também é rica em belezas naturais. Perto do município, o cânion do São Francisco, que começa na usina de Paulo Afonso, tem 60 quilômetros de extensão e é uma das atrações mais procuradas no rio. A 50 quilômetros da usina, praia em Canindé de São Francisco (SE) virou ponto de encontro de moradores e visitantes.
O potencial turístico do São Francisco tem atraído investimentos. Desde abril, visitantes podem navegar pelo rio com todo o conforto no primeiro iate-hotel de Minas. O empresário Aníbal Marques investiu R$ 4,2 milhões para construir o Mangaba, embarcação de 30 metros de comprimento, três andares e 12 camarotes com ar-condicionado que levou três anos para ficar pronta. “A demanda pelo turismo na região é grande”, justifica Marques. Viajar em um dos aposentos, com capacidade para quatro pessoas, custa entre R$ 800 e R$ 1,2 mil, dependendo do número de dias do passeio. O roteiro prevê viagem de ida e volta entre Abaeté, na Região Central de Minas, e a represa de Três Marias.
Além do Mangaba, outros barcos fazem passeios no Rio. O mais famoso deles é o Benjamim Guimarães, construído nos EUA em 1913 e que navegou pelo Rio Mississipi. Única embarcação a vapor do Brasil, ela faz passeios de Pirapora a cidades vizinhas. “Esse barco para mim é tudo. É dele que tiro o sustento da minha família”, diz o comandante do Benjamim Guimarães, Francisco Santos Rodrigues.
Assim como o turismo no Brasil, o setor enfrenta desafios na região. As estradas precárias e falta de divulgação ainda são entraves. “O Velho Chico é um ótimo nicho de mercado, mas ainda há muita coisa para mudar”, avalia Peter Mangabeira, vice-presidente da seção mineira da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav-MG). “A divulgação é um problema que precisa ser resolvido”, defende.
NAVEGANDO
Contraste a bordo
Três Marias (MG) e Juazeiro (BA)
Enquanto o Mangaba, primeiro iate-hotel de Minas, estreia nas águas do São Francisco, o Saldanha Marinho, primeiro vapor a navegar no rio, apodrece em uma praça de Juazeiro (BA). Construída no início do século passado em Sabará, na Grande BH, a embarcação de madeira está pichada. No segundo andar, onde há duas cabines, pedaços de madeira se soltaram pela ação do tempo. O secretário de Cultura de Juazeiro, Crisóstomo Lima, promete que o Saldanha Marinho será reformado este mês para se tornar um importante ponto turístico. “O investimento será de R$ 50 mil. Depois de pronto, o vapor continuará na praça, mas (numa espécie de plataforma) com água. O motor será ligado diariamente e o apito voltará a funcionar para que os turistas apreciem sua beleza. Haverá, ainda, guia turístico”, prometeu.