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Estado de Minas

Nem arrocho do governo segura onda de consumo

Pesquisa do BC mostra que juro do cheque especial chega a 178% ao ano em abril, o maior desde 2003, e inadimplência a 6,1%. Apesar disso, volume de crédito cresce e soma R$ 1,77 tri


postado em 31/05/2011 06:00 / atualizado em 31/05/2011 06:01

 

"Nunca vou ficar livre de empréstimos. Gosto de ir renovando as prestações, uma atrás da outra", Joaquina Beatriz Gomes, aposentada (foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press)

 

O aperto do Banco Central (BC) para conter o consumo não está segurando o ímpeto do brasileiro, que quer mais é ir às compras. Mesmo com a taxa do cheque especial atingindo 178% ao ano – a maior desde 2003 – e o crédito pessoal somando quase 50% em doze meses, o consumidor não se intimida. Com emprego e dinheiro no bolso ele aquece a economia e pressiona o custo de vida. Além de elevar a taxa básica, a contenção do crédito também não foi suficiente para desacelerar as prestações. Apesar de crescer com menos fôlego, o crédito somou R$ 1,77 trilhão em abril, crescimento de 1,3% ao mês e 3,7% no trimestre. Nos 12 meses encerrados em abril, a expansão do crédito já soma 21%. Com o resultado, o volume de empréstimos no Brasil passou de 46,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em março para 46,6% em abril.

Para especialistas, em tempos de emprego formal em alta, conter o consumo se tornou um dos grandes desafios do BC para manter a inflação dentro da meta. O termômetro do varejo dá uma prévia do que vem pela frente. Segundo levantamento da Serasa Experian, o consumidor está confiante, disposto a comprar e a expectativa é de que o Dia dos Namorados, data comemorativa do comércio, seja o melhor dos últimos cinco anos. “O brasileiro só deixará de consumir se sentir que o seu emprego está ameaçado, se deixar de acreditar no crescimento da economia, mas não é isso que ele está vendo”, diz José Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).

Como a pressão da demanda, o governo tem elevado as taxas de juros, além de ter dificultado o crédito, encolhendo o prazo para as prestações. A despeito disso, especialistas apontam que a inadimplência das pessoas físicas medida pelo BC aumentou de 6% em março para 6,1% em abril. Embora revele uma maior dificuldade dos brasileiros em honrar seus compromissos e leve o sistema financeiro a ficar mais criterioso na oferta do crédito, mas não  o suficiente para desestimular o consumo. “Neste mesmo período, a inadimplência no ano passado estava em 6,8%”, diz Oliveira.

Nas ruas, o brasileiro, apesar de preocupado com a inflação, não dá mostras de querer deixar de lado o velho hábito de comprar a prestação. “Nunca vou ficar livre de empréstimos. Gosto de ir renovando as prestações, uma atrás da outra”, confessa a pensionista federal Joaquina Beatriz Gomes Soares, de 61 anos, que se diz viciada em tomar empréstimos. Ela calcula ter em torno de 10 empréstimos em seis bancos diferentes, a maioria deles especializados na concessão de crédito consignado. “Este ano, tirei um valor mais alto (R$ 4 mil) no Banco do Brasil para comprar dois colchões”, diz ela, que usou o mesmo instrumento para adquirir este ano uma televisão de 32 polegadas e um DVD. Nessa segunda-feira, a pensionista fechou novo contrato de R$ 120 no Banco BMG, com pagamento previsto em três meses. “Já está perto do fim do mês e fiquei sem dinheiro para esperar até o dia do pagamento”, explica.

Desafio

Esfriar o consumo deve ser o grande desafio do governo para manter a inflação dentro da meta, na opinião de Luiz Rabi, analista da Serasa Experian que considera bastante forte o nível do consumo no país. “O varejo está bastante aquecido e o aperto nos financiamentos não está fazendo com que as pessoas parem de comprar.” Ele aposta em uma política de elevação da taxa básica. Segundo o BC, a taxa média dos juros bancários fechou abril em 39,8% ao ano, a maior em 48 meses. O custo do crédito ao consumidor já cresceu 20% desde que o governo começou a elevar a taxa básica de juros, restringiu prazos de financiamento e aumentou o imposto sobre empréstimos a partir de dezembro.

Em épocas de forte elevação das commodities e dos combustíveis, o especialista em finanças públicas Amir Khair aponta que o consumo não é o único vilão. Ele defende o crescimento da economia como remédio para combater o encarecimento do custo de vida. “A inflação deve ser combatida com aumento da oferta.” Para atingir o alvo, ele prefere as medidas macroprudenciais. “O único efeito da elevação da Selic é no câmbio, além de um estrago nas contas públicas.” Um aumento de 0,25 ponto percentual na Selic elevaria um cheque especial para o consumidor de 7% ao mês, para 7,02%. Já segundo o especialista, a redução dos prazos de financiamento inibe o consumo e o calote. “Quanto mais longos os prazos, maior a inadimplência.” O especialista aponta que 40% da composição da inflação acontece no primeiro quadrimestre do ano e que a tendência é que o governo atinja a meta, mesmo com o consumo em alta.

Ajustar a dose correta para aliviar o sintoma é o principal desafio do Banco Central, na opinião do professor do MBA em economia empresarial da FGV/IBS, Mauro Rochlin. Para ele, o Banco Central está sendo observador e cauteloso e as altas na Selic estão proporcionais à necessidade do país. “Ao mesmo tempo que não incentiva o consumo, o BC não pode desestimular os investimentos, impedindo a economia de crescer."


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