(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Dilma defende rodízio no poder financeiro

Presidentes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul cobram reformas, participação no comando e, por tabela, a inclusão de suas moedas nas cestas do FMI e Banco Mundial


postado em 15/04/2011 06:00 / atualizado em 15/04/2011 07:53

"Em política externa, não se improvisa.", frase dita pela presidente por diversas vezes no encontro (foto: Roberto Stuckert Filho/PR )
Sanya – Na paradisíaca Ilha de Hainan, os Brics emitiram declaração conjunta amena nos pontos sem consenso entre os integrantes do grupo e recheada de críticas aos países desenvolvidos em vários campos: do político ao econômico. Nas entrelinhas, o comunicado de 12 páginas assinado pelos presidentes dos cinco integrantes do grupo –Brasil, Rússia, Índia, China e, desde ontem, a África do Sul – condena, por exemplo, os ataques à Líbia e reclama da lentidão com que os países desenvolvidos vêm tratando das reformas do sistema financeiro internacional.

O encontro privado entre os presidentes da China, Hu Jintao; Brasil, Dilma Rousseff; Rússia, Dmitri Medmedev; Índia, Mohhonag Singh; e África Sul, Jacob Zuma, foi mais contundente do que o texto divulgado ao final do evento. Na reunião, eles pregaram um rodízio no comando das instituições financeiras internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Os chefes de Estado dos Brics estão convencidos de que uma das formas de acelerar as mudanças – e, por tabela, incluir pelo menos parte de suas moedas na cesta usada pelo FMI – é por intermédio da inclusão de países em desenvolvimento no comando desses fóruns.

O conflito na Líbia foi citado por todos os chefes de Estado em suas falas na reunião privada. Embora não tenha havido debates, foi possível perceber a existência de um consenso em torno das saídas diplomáticas e, conforme antecipou o Estado de Minas , o texto rejeitou o uso da força: “Partilhamos do princípio que o uso da força deve ser evitado”, diz o documento no que se refere à situação na Líbia. Embora não peça o imediato cessar-fogo de forma categórica – apenas o presidente da China, Hu Jintao, defendeu essa posição durante o encontro fechado dos chefes de Estado – o documento prega o diálogo como a principal alternativa. “O apelo ao cessar-fogo já existe desde a adoção da resolução 1.973. Ela inclui esse objetivo. Não há necessidade de que seja reiterado”, explicou o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota.

No quesito econômico, o texto é mais direto ao cobrar a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI) e, consequentemente, da ampliação da cesta de moedas que a instituição utiliza, de forma a não ficar restrita ao dólar e ao Euro. Há algum tempo, a China tem pedido a inclusão do Yuan nesse grupo. Em sua estreia num fórum internacional multilateral, a presidente Dilma Rousseff seguiu o protocolo (leia detalhes nesta edição), mas não deixou de dar seu recado ao defender mais espaço aos países em desenvolvimento.

No pronunciamento que fez com os demais chefes de Estado, Dilma ressaltou que “o (grupo dos) Brics não se organiza contra nenhum grupo de países. Na verdade, trabalha por mecanismos de cooperação e governança global sintonizados com o século 21”. Mais adiante, concluiu que a agenda dos Brics não é de oposição a nenhuma outra.

Os Brics aproveitaram a reunião em Sanya para, em meio às conversas, ressaltar a necessidade de parcerias na questão ambiental e energia limpa. “Nossa agenda é rica e ambiciosa”, relatou o primeiro-ministro indiano, ao garantir que não há margem para a acomodação e que a intenção é atuar em várias frentes, com ênfase no comércio e na reforma da governança dos organismo internacionais.

Comércio Em relação ao comércio, os presidentes de bancos de desenvolvimento dos cinco países membros assinaram ontem um acordo para a promoção de financiamentos de projetos em moeda local. Hoje, qualquer empresa que deseje se instalar no Brasil e gerar empregos, pode pleitear financiamento do BNDES. A ideia é que isso ocorra em todo os países”, disse o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. A forma como isso será feito não está fechada. “Uma das propostas é justamente financiar exportações de valor agregado e projetos relacionados à energia limpa”, completou Coutinho.

Sem improviso fora de casa

“Em política externa, não se improvisa.” A presidente Dilma Rousseff repetiu incansavelmente essa frase nas conversas que manteve com seus ministros e assessores nos trajetos que percorreu até agora na China. No seu début nos fóruns internacionai, ela manteve contatos com vários chefes de Estado. Ontem, por exemplo, além de participar da 3ª reunião de cúpula dos Brics, Dilma teve três encontros bilaterais: com o presidente russo, Dmitri Medvedev; com o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, e com o primeiro-ministro da Ucrânia, Mikola Azarov, país que divide com o Brasil o projeto CycloneSpace.

“Foi uma oportunidade de a presidente ter contatos com um grupo expressivo de líderes mundiais. Esse grupo também tinha interesse em estabelecer contato com a nova chefe de Estado brasileira e procurar formas de desenvolver agendas bilaterais”, comentou o  ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, que considerou o balanço da viagem melhor do que o esperado.

Patriota e os demais ministros presentes na viagem acompanharam todos os encontros bilaterais. A presença do chanceler é normal. As dos demais ministros, nem sempre.

Nessas conversas, que levaram cerca de uma hora cada uma, Dilma não saiu do script. Também não demonstra muita intimidade com o interlocutor, o que por si só já aponta um estilo diferente daquele adotado pelo ex-presidente Lula, que costumava chamar os demais chefes de Estado de “companheiro”.

Todos os discursos que Dilma fez até agora foram exaustivamente estudados por ela. Ainda assim, talvez pelo nervosismo da estreia, ela tropeçou em algumas palavras. Quanto à apresentação pessoal – roupa, cabelo, maquiagem – a única mulher à mesa dos Brics também se cercou de cuidados. Logo depois do almoço, trocou de roupa para os encontros bilaterais.

Apesar da diferença de fuso –11 horas  –, Dilma não pediu nem um dia de descanso. Na Cidade Proibida, em Pequim, permitiu que os jornalistas acompanhassem sua visita, como costumava fazer o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mais uma diferença em relação a Lula que, em 2004, despistou  jornalistas para um almoço com d. Marisa numa churrascaria em Pequim.

Dilma somente divulga a agenda no último minuto, como fez ao avisar ontem, no final do dia, que voltará ao Brasil dia 17. Ela desembarca em Brasília no dia 18 para retomar a rotina palaciana, depois de uma semana de imersão na política externa, o que muitos diplomatas consideraram um teste em que ela passou com boas notas.

Nesta sexta-feira, a presidente Dilma segue para Boal, também na Ilha de Hainan, onde fará discurso de oito minutos, no fórum econômico da Ásia. Será a primeira vez que o Brasil terá participação no evento. À tarde, Dilma segue para Xian, última etapa da viagem, na qual visitará uma fábrica de componentes eletrônicos da ZTE e o Exército de terracota, coleção de 8 mil figuras de guerreiros e cavalos em tamanho natural, encontradas próximas do mausoléu do primeiro imperador da China. Antes de seguir para Brasília, ela fará uma escala em Praga. (D.R.)


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)