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Estado de Minas MADOFFS MINEIROS

Itabirito sofre com golpes financeiros

Como os "forasteiros" Altino Dantas e Thales Maioline desembarcaram em Itabirito e atraíram centenas de moradores para suas pirâmides financeiras


postado em 02/04/2011 07:49

Trezentos anos depois de dois bandeirantes – o capitão-mor Francisco Del Rey e o piloto da nau Nossa Senhora da Boa Viagem, Luiz de Figueiredo Monterroyo – chegarem a Itabirito em busca de pepitas de ouro, outros dois forasteiros despertaram uma nova febre na cidade, que, assim como acontecia na corrida do ouro, motivou muitos moradores a perderem o juízo em busca de dinheiro. O garimpo da vez é virtual e acontece na aplicação em títulos no mercado mobiliário. De Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, veio Thales Maioline, dono da Firv Consultoria, acusado de aplicar o golpe da pirâmide em 2 mil pessoas, causando prejuízo de R$ 100 milhões. De Natal (RN), veio o mentor de Thales, Altino de Medeiros Dantas, controlador do Club Plus Investimentos e suspeito de praticar o mesmo crime em cerca de 300 mineiros, podendo ter se apoderado de uma quantia que chega a R$ 20 milhões, conforme estimam suas vítimas.

Os dois, que viraram tema de conversas por quase todo o município, se conheceram quando trabalharam em uma mina de ouro da antiga Mineração Serras do Oeste (Msol), atualmente parte do grupo canadense Jaguar Minning, no distrito de Acuraí, em Itabirito. Em comum, a dupla também tinha o método de trabalho: a pirâmide financeira, por meio da qual o retorno dos investidores antigos é pago com os repasses dos novos “clientes”, sempre estimulados a atraírem mais pessoas, ávidas por lucros.

Os primeiros sinais de que Altino estaria usando um esquema semelhante ao de Thales chegaram em depoimentos de duas vítimas à delegacia de polícia de Itabirito, em setembro do ano passado. As queixas surgiram pouco mais de um mês depois de Thales ser declarado foragido pela polícia. Porém, só na quarta-feira, quando a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) comunicou que proibiu a atuação de Altino e de seu clube, de qualquer atividade no mercado mobiliário o procedimento se tornou público.

Nesse intervalo de quase seis meses, o inquérito passou das mãos da delegacia local para o Departamento de Investigação de Crimes contra o Patrimônio. De acordo com o delegado chefe, Islande Batista, 12 pessoas prestaram depoimento e foi possível constatar que a forma de atuação é a mesma de Thales. “Quando o golpe do Maioline ruiu, algumas pessoas que investiam com Altino ficaram alertas e procuraram a polícia”, conta Batista.

Mestre e aluno

Os dois esquemas, que juntos podem ter lesado 2,3 mil pessoas e causado um rombo de R$ 120 milhões, são iguais na origem. “Quem ensinou o Thales a investir foi o Altino”, afirma uma das vítimas do Club Plus de Investimentos, que tem a receber cerca de R$ 100 mil. A vítima, que também trabalha na Jaguar Minning e tinha contato direto com os dois, lembra que Altino aplicava dinheiro no mercado mobiliário de forma ousada, mas fazia somente para ele. Já Thales, quando aprendeu a lidar com os investimentos, teria passado a arrecadar dinheiro de conhecidos e colegas de empresa. Porém, em 2008, quando Thales saiu da empresa para se dedicar à Firv Consultoria e Administração muitos pressionaram Altino para que também aceitasse investir para outras pessoas. Depois do baque, os membros do clube estão abatidos, muitos endividados, que chegaram a vender carros e imóveis para investir e não aceitam revelar os nomes em entrevistas.

A relação de clientes e investidores se baseava na conversa de ambos, carismáticos e com grande espírito de liderança. “Muitos não confiavam no Thales, achavam que ele era muito ousado. Já o Altino passava uma sensação de responsabilidade maior”, detalha a vítima. “Não tinha como desconfiar. Ele foi promovido de coordenador para gerente da mina e era um líder”, complementa. A vítima não procurou a polícia e também não recorreu à Justiça, pois acha perda de tempo.

Fuga

Thales está preso desde dezembro, quando se entregou à Polícia Civil, depois de fugir para a Bolívia. Já Altino não se encontra mais no município, mas o controlador da Club Plus, que estaria trabalhando em uma mineradora do Paraná, é investigado pela polícia civil mineira e responde por 28 processos no Fórum Lafayette e oito no Juizado Especial da capital.

Da metodologia da pirâmide financeira surgiu o apelido de Madoff mineiro para Thales, uma alusão ao megainvestidor americano Bernard Madoff. “Trabalhei com ambos numa mineradora de Itabirito. Operaram juntos e, depois, se desentenderam”, diz uma moradora de BH, que entrou na Justiça para recuperar os R$ 20 mil que entregou a Altino.

Como eles agiam

>> Thales Maioline e Altino de Medeiros Dantas começaram a aplicar dinheiro quando trabalhavam na mesma empresa, em Itabirito, em 2006.

>> Thales, considerado mais ousado, conseguia dinheiro de outras pessoas para as aplicações e prometia rendimentos mensais de 5% sobre o montante aplicado e bônus semestrais de 30%.

>> Quando Thales saiu da mineradora para se dedicar à Firv, Altino também criou um fundo, o Club Plus de Investimentos.

>> Altino atraía investidores oferecendo 13% ao mês, sendo que 8% eram pagos mensalmente e os outros 5% a cada seis meses. Ou seja, em seis meses o rendimento também beirava 30%.

>> A Firv, de Thales, fazia contrato com os clientes; enquanto a Club Plus, de Altino recebia os cheques dos investidores como empréstimo e em um contrato que prometia juros muito acima da média de mercado.

>> Quando o caso de Thales estourou, em julho do ano passado, os investidores de Altino ficaram assustados e começaram a pedir o dinheiro, o que abalou a pirâmide.

>> Thales foi preso em dezembro e na semana passada declarado réu por estelionato, formação de quadrilha e falsificação de documentos. Altino está desaparecido desde que a pirâmide desmoronou e a polícia não tem pistas dele.


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