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Estado de Minas

Cadastros de clientes são baseados na confiança

Praticamente não há inadimplência no setor. Mas também existem regras legais para os bancos sociais


postado em 09/11/2008 08:06 / atualizado em 08/01/2010 04:04

(foto: Fotos: Beto Magalhães/EM/D. A Press - 20/10/08 )
(foto: Fotos: Beto Magalhães/EM/D. A Press - 20/10/08 )
Uberlândia – O 15 de setembro de 2008 já entrou para a história como o marco do maior crash internacional depois de 1929. Nesse dia, o mundo percebeu o alcance da quebradeira quando o Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimentos americano, pediu concordata. Não há risco de nada parecido ocorrer com nenhum dos 35 bancos comunitários brasileiros que, do dia para a noite, se tornaram as únicas instituições realmente sólidas no mercado. Só por um motivo: a garantia é de outra ordem, não-financeira. “Aqui não há como ocorrer o subprime americano (traduzido como distribuir empréstimos imobiliários a quem não tem condições de pagar). Antes de emprestar, o banco vai lá na casa dele e pergunta para o vizinho e para a sogra se o fulano é bom pagador, se ele costuma atrasar as contas. Com isso, consegue fazer uma avaliação de cadastro mais profunda do que o sistema internacional de crédito”, diz Peter Gandolf, da UFU.

Para Oswaldo Cetti, fundador da ONG Ação Moradia, nenhuma comunidade é tão pobre que não possa gerar sua própria riqueza
Para Oswaldo Cetti, fundador da ONG Ação Moradia, nenhuma comunidade é tão pobre que não possa gerar sua própria riqueza


Nos bancos sociais, a inadimplência acima de 60 dias é perto de zero. Em média, o atraso nas prestações não passa de 10 dias. “Quem ficou devendo dá um jeito de arranjar dinheiro, pega emprestado com parentes para não ficar inadimplente com o banco e nem sujar o nome. Ele sabe que atrasar no banco é coisa séria, pois o dinheiro é da comunidade, é dele”, explica o professor da UFU. Também o critério de cessão dos créditos é outro, proporcional à necessidade do tomador. “Os critérios são definidos por agentes de crédito escolhidos pela comunidade. Não é porque o mundo está caindo que o banco vai negar o financiamento de R$ 500 para o pipoqueiro que precisa comprar um novo carrinho para trabalhar. Se o dinheiro está mais curto e falta liquidez no mercado, ele terá preferência”, completa.

As comunidades também sofrem com as oscilações do real, porque as moedas sociais têm paridade com a moeda oficial. Para cada oração ou palma, o banco social tem um real guardado em caixa. Isso garante que as moedas sejam lastreadas em reais e mantém os bancos dentro da lei – que restringe a emissão de dinheiro ao Banco Central (BC).

Mas as regras comuns das notas de real caem por terra diante da realidade. “Se o tráfico matou três filhos de um correntista, caso verdadeiro que ocorreu em nosso banco, foi feita uma renegociação da dívida em mais prestações. No banco tradicional, ele passaria a ser um inadimplente. A decisão passou pelo crivo das pessoas da comunidade, que assumem o compromisso de manter o banco funcionando, de acordo com a disponibilidade de caixa”, informa Leonora Laiboissière Mol, presidente do Banco Bem, de Vitória, no Espírito Santo, o primeiro da Região Sudeste.

Valores

Em três anos, o modelo do Banco Bem já foi replicado no Banco Terra e Banco Verde Vida, em Vila Velha, e no Banco Sol, em Cariacica. A proposta de abrir um banco social chegou a ser apresentada em Uberlândia, mas não foi para frente. A entidade recusou também o projeto de instalar uma filial do Banco Popular do Brasil, subsidiária do Banco do Brasil voltado para o microcrédito. “O BB estava mais interessado em dar empréstimos aos moradores, a juros que variam de 1,5% a 3,5% ao mês. Não havia uma contrapartida”, reclama Oswaldo Cetti. Segundo ele, algumas vezes não adianta explicar a proposta da entidade. “Nessa altura da vida, o dinheiro além do necessário perde o sentido. De herança, quero deixar outros valores”, conclui.


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