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Memória fragmentada

Natureza morta é inspirada na obra do pintor Farnese de Andrade, %u2018barroco%u2019 na essência


postado em 10/05/2019 05:06

João Paulo Gross e Daniel Calvet estão em cena, no espetáculo que mescla coreografia e representação (foto: Carol Arcanjo/Divulgação)
João Paulo Gross e Daniel Calvet estão em cena, no espetáculo que mescla coreografia e representação (foto: Carol Arcanjo/Divulgação)


Pela primeira vez em Belo Horizonte, o espetáculo de dança-teatro Natureza morta estará em cartaz nesta sexta-feira (10) e sábado (11), às 20h, no Teatro Espanca. A entrada é gratuita. Os espectadores são convidados a participar da campanha de doação de livros, levando um exemplar usado ou novo para trocar por um ingresso nos dias das apresentações. As obras serão doadas para a Guarda de Congo e Moçambique de Nossa Senhora do Rosário e Sagrado Coração de Jesus – Irmandade Os Carolinos.

Natureza morta é uma criação do Ateliê do gesto, grupo do coreógrafo mineiro, nascido em Governador Valadares e radicado em Goiânia, João Paulo Gross, e do dançarino Daniel Calvet, que estão em cena. A peça é inspirada na obra do pintor, escultor, desenhista, gravador, ilustrador mineiro Farnese de Andrade (1926-1996), de Araguari, Triângulo Mineiro. Ele viveu boa parte de sua vida no Rio de Janeiro e, embora seja um artista premiado, era pouco conhecido do grande público.

O espetáculo aproxima dois gestos artísticos: a dança e as artes plásticas. “Com uma poética pautada no inconsciente, Farnese criou uma série de obras com materiais descartados, coletados nas praias e nos aterros, além de materiais típicos da religiosidade, como os oratórios. O nosso interesse é dialogar com outros gestos artísticos, o que é uma das marcas do nosso trabalho de pesquisa”, ressalta João Paulo, que já se apresentou em BH, em 2017, com o espetáculo O crivo, inspirado na obra Primeiras estórias, do escritor mineiro Guimarães Rosa.

Natureza morta foi concebido em 2009. “Inspirado por uma visita a uma exposição de Farnese, seguida de um aprofundamento em sua história de vida e de seu fazer artístico. O espetáculo investiga questões próprias da essência humana, trazendo o pensamento barroco e sua riqueza de linguagem para a contemporaneidade junto à história e obra dele”, enfatiza João Paulo.

“Embora a obra de Farnese não seja originalmente barroca,  uma escola ou movimento, o fato de seu trabalho ter origem na tradicional família mineira, cercada de conservadorismo, cerimônia e dogmas religiosos, o torna um artista contemporâneo por excelência e barroco na  essência. O espetáculo busca a memória fragmentada que Farnese guardava em caixas e oratórios, representada em forma de pedaços de bonecas e santos, ex-votos”, esclarece o diretor, formado em dança pela UFRJ, com passagem pela Cia. de Dança Quasar, de Goiânia.

INDIVIDUALISMO


Um olhar sobre o individualismo está presente na montagem. “Usamos a obra de Farnese como inspiração para construir essas relações entre dois corpos em cena. Para questionar esse lugar do estar presente. Embora as pessoas estejam conectadas hoje, vivem um mundo individual. Temos esta interface da internet que nos conecta, mas que, infelizmente, também deixa de exercitar a presença”, lamenta o artista.

NATUREZA MORTA


Sexta-feira (10) e sábado (11), 20h. Teatro Espanca, Rua Aarão Reis, 542, Centro, (31) 3657-7349. Entrada franca, com retirada de ingressos na bilheteria do espaço uma hora antes da apresentação. 14 anos.


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