Resistência. Essa palavra perpassa toda a 13ª edição do Verão Arte Contemporânea (VAC), em cartaz até 17 de fevereiro, em Belo Horizonte. Organizado pelo coletivo Oficcina Multimédia, o festival se propõe a oferecer espaços de afirmação das liberdades de expressão e existência.
Política e poética se cruzam na peça O atormentador, da Cia. Absurda, atração do fim de semana. A partir de livros do jornalista uruguaio Eduardo Galeano, a montagem traça um panorama da história da América Latina – da colonização espanhola e guerrilhas dos anos 1970 à contemporaneidade.
“Baseamo-nos em fragmentos do Galeano, a partir de pílulas que ele constrói em seus livros, guiado pela história não oficial, a partir do olhar e da oralidade do povo”, explica o diretor e dramaturgo Eid Ribeiro. “É uma obra com muitos eixos poéticos, baseada em lendas dos povos indígenas e em poéticas próprias do autor, que nascem de sua existência e de sua relação com a humanidade.”
Com referências ao cinema mudo e à arte clown, os atores Glauce Guima Rães e Nino Batista se distanciam da proposta naturalista. Não há diálogo entre eles. A narrativa se dá com os espectadores.
A Cia. Absurda adota o “teatro de guerrilha”, de acordo com seu diretor. Com poucos aparatos cênicos, os atores se apresentam em ruas, pátios de colégios e pequenas salas. “É a nossa maneira de sobreviver com um teatro criativo, poético e com profundidade. Não queremos exibir um simples discurso político. A política entra no espetáculo como reflexão, não como discurso definido e fechado em si”, assinala Eid.
AFETO “Minha forma de resistir é cozinhar”, diz o chef Carlos Normando, representante da gastronomia na programação do VAC.
Nesta sexta-feira (25), ele apresenta seu Jantar Secreto no Centro de Referência da Juventude (CRJ), com entrada, prato principal e sobremesa. Desde 2016, o chef desenvolve a ação por meio do Projeto Gororoba – levado ao festival no ano passado, pela primeira vez. O próprio nome expressa a proposta de desmitificar a gastronomia e torná-la mais acessível.
“Tento ressignificar os alimentos e reativar memórias por meio da comida. Uso ingredientes simples do nosso dia a dia, como abóbora, quiabo e peixinho, colocando-os em outro patamar”, explica Normando. O jantar é para apenas 30 pessoas e os ingressos costumam acabar rapidamente. A expectativa é de que nos próximos VACs o projeto ganhe mais edições.
Normando faz questão de manter segredo sobre o prato de hoje à noite. Mas dá uma dica: “Posso adiantar que será um menu típico, bem mineiro e brasileiro.”
URBANO No fim de semana, é possível conferir a exposição Ganho secundário, com obras do artista plástico Daniel Jack, atração do Projeto Parede, no Sesc Palladium.
“Minha pesquisa envolve elementos efêmeros que aparecem nas cidades, como as pichações, que logo são apagadas”, conta Daniel Jack. “Meu trabalho busca reorientar o olhar do espectador para o ambiente urbano. Muitas vezes, certas imagens passam despercebidas por não levarmos em conta a beleza que existe nelas.”.