Jornal Estado de Minas

REVISÃO HISTÓRICA

Documentário sobre santo trans terá narração do padre Júlio Lancellotti


Mini documentário "São Marino", que abordará a história de Santa Marina como uma pessoa trans, terá a narração do padre Júlio Lancellotti. O curta de 20 minutos, ainda sem data de lançamento, contará com encenações, reflexões e interações de um grupo de pessoas trans masculinas. A produção tem como objetivo promover discussões contemporâneas sobre a transgeneridade e o respeito ao nome social.



O documentário é dirigido por Leide Jacob e viabilizado por meio do Programa de Ação Cultural (ProAC), do Governo de São Paulo. A produção ocorreu na Igreja Santa Marina, na Zona Leste da cidade, e conta com a participação de Ariel Nobre, Daniel Veiga, Gabriel Lodi, Leo Moreira Sá, Omo Afefe e Rosa Caldeira.

Quem foi Santa Marina

Santa Marina nasceu no Líbano, no século 6, e viveu como monge a maior parte de sua vida (foto: Reprodução/ Arquidiocese de São Paulo)
Segundo a tradição católica, Marina nasceu no Líbano no século 6 e perdeu a mãe ainda criança, sendo educada por seu pai, um cristão fervoroso. Quando Marina ainda era jovem, seu pai decidiu se tornar monge e viver em um mosteiro, vendendo todos os seus bens e dando aos pobres.

Uma vez que no mosteiro era proibida a entrada de mulheres, Marina então decidiu cortar os cabelos e vestir-se como homem para viver com o pai, adotando então a forma masculina de seu nome, Marino. 


Marino então viveu uma austera vida religiosa sem levantar suspeitas, praticando jejuns e sacrifícios regularmente, mesmo após a morte de seu pai, que ocorreu pouco tempo depois. Um dia, em uma incursão para angariar fundos angariar fundos o mosteiro, Marino e outros três monges passaram a noite em uma hospedaria. Na mesma época, a filha do dono da hospedaria ficou grávida e acusou Marino de a ter estuprado naquela noite. 



Por sua vez, Marino não se defendeu, para não correr o risco de expor seu segredo, e foi expulso do monastério, passando a viver de esmolas e caridade. Vendo a retidão e sofrimento de Marino, o abade responsável pelo monastério aceitou sua volta, mas impôs serviços pesados e humilhantes a ela. Debilitado e exausto, Marino faleceu pouco tempo depois. 

Durante a preparação do corpo para o sepultamento, foi descoberto que Marino era uma mulher e, consequentemente, inocente do estupro. Marino então foi canonizado como Santa Marina e é conhecida por interceder em grandes provações, nas doenças e nas calúnias. Em 1230, seus restos mortais foram levados para Veneza, onde são venerados até hoje na Igreja Santa Marina Formosa.
 

Posicionamento da Arquidiocese de São Paulo

A Arquidiocese de São Paulo emitiu uma nota a respeito da produção do documentário "São Marino", na qual afirma que tal narrativa não condiz com a realidade sobre a vida de Santa Marina, venerada pelos católicos. 



"É importante ressaltar, ainda, que a história dos santos católicos deve ser melhor conhecida, e não pode ser interpretada à luz de ideologias que em nada correspondem com o contexto em que viveram, tampouco com os valores e virtudes por eles testemunhados ao longo de suas vidas", afirma a nota.

A nota segue afirmando que Marina progrediu nas virtudes, na vida e oração, penitencia e caridade em sua vida como monge, e que sua humildade, obediência, espírito de sacrifício e abnegação a destacavam entre os membros daquele mosteiro.

"Um grande exemplo de sua alma virtuosa é percebido quando a Santa foi falsamente acusada de ter engravidado uma jovem. Podendo defender-se, revelando que, na verdade, era uma mulher, ela silenciou, suportando a provação da calúnia e humilhações, unindo-as aos sofrimentos de Cristo. Seu segredo, assim como a verdade sobre sua inocência, só foi descoberto quando ela faleceu", segue a nota.