Jornal Estado de Minas

ÍCONE LGBTQIA

'Não sou homem nem mulher', diz Ed Marte que retoma performances em BH


Edmar Pereira da Cruz, de 54 anos, se apresenta publicamente como Ed Marte. Seja no Carnaval, na Gaymada ou em performances artísticas pelas ruas de Belo Horizonte, ele desafia quem o quer colocar em caixinhas.
 
Com o isolamento social devido à pandemia da COVID-19, Ed estava distante dos espaços públicos da cidade. Mas ele voltou. Participa nesta sexta-feira (29/4), às 19h, do Chá das primas, evento promovido pela Companhia Toda Deseo, no Centro Cultural São Geraldo, no Bairro São Geraldo, na Região Leste de Belo Horizonte.





"Não curto esse rótulo de masculino e feminino. Sou uma pessoa trans não-binária. Não me identifico com gênero masculino e femino,transito entre os dois, e não quero esse rótulo", afirma.  Ele também lembra que não é mulher trans nem travesti.
 
Quem esteve nos blocos de Carnaval na capital mineira, que saíram no fim de semana em que foram realizados os desfiles de escolas de samba em São Paulo e no Rio de Janeiro, encontrou o artista como nos tempos de antes da pandemia. Sempre sorridente, de maiô, maquiado e com muito brilho.
 
Como a retomada dos bloquinhos às ruas de BH, o chá demarca essa retomada da vida quase normal, quando a pandemia está um pouco mais sob controle.
 
"Vai ser uma conversa descontraída, tomando chá e falando sobre teatro, performance, a dificuldade que foi para os coletivos duranete a pandemia. Também vamos falar de como está sendo o retorno e um pouco da história dos coletivos", adianta Ed.




 
Ed é uma pessoa livre que encarna bem o espírito de muitos coletivos e artistas que passaram a atuar na cidade a partir da Praia da Estação, evento de caráter contestatório, que teve início em 2010, quando o ex-prefeito Márcio Lacerda baixou um decreto proibindo eventos nos espaços públicos da cidade.  
 
 "Foi uma coisa que veio com a arte. A identidade surgiu com meu trabalho. Meu trabalho é arte e vida, tudo misturado... Dede o início da Praia da Estação em 2010", reocrda-se. Ele já atuava, mas, publicamente, foi nessa época que assumiu a identidde de gênero de pessoa trans não-binária.
 
Ed integra o coletivo Academia Transliterária, criado há cinco anos, para desenvolver intervenções no campo das artes, como peças de teatro, permoncanes e ações de formação para o público LGBTQIA. A academia surgiu de um sarau realizado no Viaduto Santa Tereza. Ed nasceu em Martinho Campos em 3 de abril de 1968, e mudou-se para BH aos 17 anos. Foi candidato a vereador nas eleições de 2016 e 2020.

Nossa senhora das travestis

Ed Marte assumiu publicamente a identidade de pessoa trans não-binária desde o início da Praia da Estação em 2010 (foto: Arquivo pessoal)
 

O coletivo Academia Transliterária aprovou uma performance para ser apresentada na Virada Cultural em 2019: a coroação da Nossa Senhora das Travestis, em que seria realizado um cortejo e depois a coroação de Nossa Senhora. "Na época, houve uma polêmica da direita ligada à Igreja Católica Começaram a pressionar, nas redes sociais, o prefeito", recorda-se. A performance foi cancelada na véspera da apresentação.




 
Em solidariedade ao coletivo, muitos artistas leram o "Oração da Nossa Senhora das Travestis", texto escrito para a performance.  Em 12 anos em que se apresenta publicamente como Ed Marte, o artista avalia que foram inúmeras conquistas na sociedade brasileira em relação ao reconhecimento social de pessoas trans.
 
"Houve um avanço muito grande, inclusive a gente vê na representatividade polítia e na vidisibildade", diz. No entanto, Ed pondera que o Brasil é o país que mais mata pessoas trans. Apesar de ter toda essa visibilidade ainda existe muita violência
Há avanços, mas Ed acredita que ainda é preciso melhorar as políticas públicas, como geração de emprego e renda para esse grupo social.
 
Enquanto não se alcança a completa equidade de direitos para as pessoas trans, Ed Marte segue desafiando os olhares que o desaprovam. "As pessoas estão colocando os corpos e corpas nas ruas, com enfrentamento e coragem", diz fazendo questão de flexionar no feminino o substantivo corpo.
 
Chá das primas
 
Convidadas: Academia Transliterária e Fanchecléticas  
29 de abril às 19h
Centro Cultural São Geraldo (rua Silva Alvarenga, 548 - bairro São Geraldo