Jornal Estado de Minas

EM ALTO-MAR

Chef italiano se lança ao mar em projeto de viagens pelo litoral brasileiro

Os 50 anos estão chegando. Às voltas com reflexões sobre a vida, trabalho e motivações (ou a falta delas), Massimo Battaglini buscava algo novo. Foi, então, que o chef italiano se lançou ao mar com o projeto Allegro & Travesso, em que organiza aventuras exploratórias pelo litoral brasileiro. Na primeira viagem, ele passou 30 dias navegando entre Rio de Janeiro e São Paulo. “É uma satisfação vivenciar uma grande experiência e conhecer mais da gastronomia através da história e da cultura de um lugar.”




Há 25 anos, Massimo escolheu viver em Belo Horizonte e se considera mineiro de coração. Mas sempre quis estar mais perto do litoral.

“Sou de Veneza e uma das coisas que mais sinto falta é a praia. Por isso, sempre gostei de trabalhar com peixes e frutos do mar. Com a comida, me sinto mais perto do mar”, comenta o italiano, que ficou famoso na cidade com a Osteria Mattiazzi (fechada na pandemia) e atualmente comanda as cozinhas do restaurante Outland e do bufê Club do Chef.

Nesta primeira aventura, o chef embarcou com Guilherme Resende (arquiteto, urbanista e aventureiro), Juliano Bolzani (capitão e morador do barco, de nome Reset) e Túlio Cipó (cinegrafista).

Os exploradores zarparam no primeiro dia de maio. De Paraty, desceram rumo a Ilhabela. Depois seguiram para o Rio de Janeiro. Levaram nove horas em uma única travessia e enfrentaram o mar “bravo” em alguns momentos. Entre um ponto e outro, pisaram em terra firme em busca de pessoas e ingredientes.



No barco, o chef preparou várias receitas com frutos do mar frescos, entre elas vieiras com caviar de esturjão, alga e cebola (foto: Bruno Bicalho/Divulgação)

“A grande descoberta foi saber que ainda temos lugares intocáveis a 90 quilômetros de São Paulo, que não têm acesso via terra e onde moram comunidades caiçaras. Tinha ido várias vezes para Ilhabela, mas não conhecia essas praias. É o paraíso, gente.”

Massimo visitou fazendas marinhas de vieira, lula, mexilhão e ostra. Fora a qualidade e o frescor dos frutos do mar, o chef conta que uma das coisas mais legais que encontrou foi a alga comestível kappaphycus, que vem das Filipinas.

Quem cultiva é um pernambucano que se mudou para Ilhabela com planos de criar o peixe beijupirá e acabou focando sua produção em três moluscos e a alga.

A kappaphycus chama a atenção pelos tons de verde, volume e brilho. Parece até que é de plástico. Já na primeira mordida, surpreende pelo sabor e pela textura. “Essa alga é crocante e salgadinha como a água do mar. Grelhamos na brasa para servir com salada e a usamos para salgar vários pratos, como as vieiras com caviar de esturjão e cebola”, descreve o chef.



Inesquecíveis também são os atuns pescados em alto-mar, bem longe da costa. Eles eram pequenos, mas tinham bastante gordura e sabor de mel de tão doces. “Em que dia que vou comer em BH um peixe que saiu do mar no mesmo dia? Quando comemos algo fresco, o sabor e a textura são outros.”

Massimo ficou tão encantado com a qualidade da carne que nem inventou moda. Serviu como sashimi, no máximo um tartar. Segundo ele, não havia necessidade de acrescentar nada, nem molho shoyu.
Sem descanso
O chef não teve nem um dia de descanso. Cozinhava de duas a três vezes por dia. Na hora de mexer com as panelas, o barco tinha que parar em um ponto de mar “calmo”.

Na busca por ingredientes, surgiram histórias divertidas, como a troca com um barco de pescadores. Eles jogaram carne angus e receberam camarão de volta. Outro caso curioso é que Massimo recebeu a bordo uma caixa com 15 quilos de funghi porcini fresco que havia encomendado de um caçador de Caxias do Sul (RS).



Abastecido com carne vermelha, o italiano 'brincou' de criar pratos que misturam terra e mar (foto: Allegro & Travesso/Divulgação)

Abastecido com carne vermelha, o italiano “brincou” de criar pratos que misturam terra e mar. “Quis abrir essa janela marinha para o churrasco, de poder misturar produtos mais frescos, afinal estamos em um país quente”, aponta.

Entre as receitas, carpaccio de wagyu com olhete e bottarga de atum; rosbife de dever com cabeça de lula crua e molho de ostra; tartar de camarão com alga nori, gema crua de ovo e vinagre de balsâmico e camarão com baby beef, farofa, funghi porcini fresco.

O grupo conheceu vários personagens interessantes, entre pescadores, ativistas ambientais e pessoas que escolheram morar naquele litoral. Massimo destaca o encontro com o armador naval de Amyr Klink. Thierry Stump é holandês, mora em Ilhabela e virou escultor de peças de metal (não mais barco).



“O primeiro barco que ele construiu era de cimento e tela de galinheiro e atravessou o Atlântico. Depois foi vendido na Espanha. Já o último, é para um amigo que vai viajar para o Polo Norte”, conta.

A próxima aventura em alto-mar está programada para outubro no litoral baiano. O chef se prepara para fazer a travessia entre Caraíva e Salvador, visitando comunidades indígenas. Antes disso, ele quer trazer para Belo Horizonte produtores e produtos que descobriu nesta primeira viagem, incluindo a tão falada alga. Em agosto, terá um festival dedicado a eles no Outland.
Serviço
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