Jornal Estado de Minas

GARIMPO PELO MUNDO

Bar abre as portas para vinhos pouco conhecidos de pequenos produtores

 

Amigas de longa data, Ana Borges e Gabriela Dias abriram um bar com objetivos em comum. Além de tirar toda a “pompa e circunstância” que envolve o consumo dos vinhos, as sommelières desenvolvem um trabalho de garimpo em busca de produtos artesanais. Aconchegante como a sala de uma casa, A Casa da Uva, no Bairro Anchieta, privilegia rótulos de pequenos produtores.





 

 

Ana e Gabi se conheceram há 11 anos, quando trabalhavam em uma importadora de vinhos e contam que foi “paixão à primeira vista”. Durante a pandemia, tornaram-se vizinhas e ficaram ainda mais próximas. Nas conversas diárias, que não duravam menos de uma hora, elas descobriram que os interesses em comum iam além do vinho. Ambas tinham vontade de abrir um bar.


Gabi é quem comanda o salão. Já trabalhou em alguns restaurantes e vem de uma longa experiência com atendimento. “Falo que vinho não se resume a homem de gravata e harmonização. Venho de outra escola”, aponta.

 

Podemos dizer que é a “escola” da simpatia. Ela recebe os clientes com um sorriso largo e quer que todos se sintam à vontade. Trata do mesmo jeito a vizinhança. Cumprimenta todo mundo (inclusive os cachorros) que passa pela porta pelo nome.





Ana assina a carta de vinhos e personifica a missão didática do bar, que passou a ser a sede da sua escola, a UVA Escola Etílica (daí o nome). A partir do mês que vem, ela vai oferecer aulas às terças, quando a casa está fechada para o público.

 

O vinho está na taça e no preparo de pratos como o arroz de pato (foto: Paula Cavalcanti/Divulgação )
 

Formada em gastronomia, Ana brinca que também dá alguns palpites na cozinha. Mais uma curiosidade: ela está cultivando uvas em Moeda (deve começar a produzir vinhos em três anos) e trouxe de lá duas videiras que ficam na porta do bar.


Para que consigam mostrar um lado mais descontraído do consumo de vinhos, as sócias apostam em um ambiente nada formal. A parte interna, com bancos cheios de almofadas e plantas, tem o aconchego da sala de uma casa. Tomadas ficam disponíveis para quem quiser trabalhar de lá, ao som de uma playlist 100% brasileira. Assim como os vinhos, os vasos das prateleiras estão à venda.





Do lado de fora, o bar ocupa uma ampla calçada, onde dá para espalhar muitas mesas. Esse ponto foi escolhido a dedo, justamente porque elas sabem que o mineiro gosta de se sentar na rua.

 

“Por mais que tenhamos taças de cristal e servimos vinhos que podem ter um valor agregado maior, você está sentado numa calçada comendo comida de buteco”, aponta Ana, que se lembra de como era interessante, na Espanha, onde fez mestrado de enologia, o hábito de pedir um PF com um copo de vinho.


A carta privilegia rótulos não industriais. Alguns são naturais, outros seguem a linha da mínima intervenção, mas todos são de pequenos produtores. “Quanto menor a operação, mais se consegue o controle para não usar aditivos químicos”, justifica Ana.

Do branco ao tinto

Saiba que essa decisão não limita o alcance das compras. O bar trabalha hoje com quase 60 rótulos, de vários países e variados tipos de uvas, dos brancos aos tintos, passando pelos espumantes aos fortificados (jerez).





 

Tem desde clássicos como o da Borgonha, região da França, aos mais modernos do Sul do Brasil. Destaque para os pet-náts, que são os espumantes naturais.

 

Os vasos de planta também estão à venda (foto: Paula Cavalcanti/Divulgação )
 

Até agora, o mais vendido é um vinho laranja (branco vinificado com as cascas da uva) de Santa Catarina. Com sabor que lembra o da laranja kinkan, é refrescante e fácil de beber.


O trabalho é de garimpo. As sócias fogem das distribuidoras e buscam preciosidades direto com os produtores. De vez em quando, aparecem lotes únicos fora da carta.

 

“Quando os clientes falam que quase não conhecem nenhum rótulo, isso para mim é um elogio”, comenta Ana, que quer tirar as pessoas da “zona de conforto” e incentivá-las a experimentar sabores diferentes.


A comida também valoriza o trabalho de pequenos produtores. Não deixe de experimentar a combinação de pão de queijo (receita da Ana) com bacon artesanal, trancinha de queijo e mel. O copa lombo defumado com molho barbecue e pão de fermentação natural é outra escolha certa entre os petiscos.





 

Se quiser algo mais reforçado, peça o sanduíche de brioche com cupim defumado, molho de mostarda da casa e requeijão de raspa. Para jantar, a sugestão é o ravioli de queijo brie com parma.


Os vinhos não estão só nas taças. Aparecem também nas receitas dos pratos. Por exemplo, a barriga de porco curada por oito dias é servida com molho de vinho tinto e limão capeta colhido no vinhedo de Ana. Já o queijo camembert mineiro da Serra das Antas ganha um adocicado com a calda de vinho.

 

A bebida também entra no preparo dos arrozes, oferecidos aos fins de semana, durante o dia. Já passaram pelo cardápio do almoço pato, polvo, frutos do mar e costelão.


De sobremesa, tem o sorvete de cumaru com calda de vinho jerez feito com uvas passificadas (secas e com uma concentração maior de açúcar).

Serviço

A Casa da Uva

Rua Francisco Deslandes, 718, Anchieta
(31) 98221-0679