Jornal Estado de Minas

CINEMA

'A farsa', com ótimo elenco, tem paixão, golpes e crime na Riviera Francesa


Tome cuidado com quem você se apaixona – o amor e, principalmente, a paixão, nos faz baixar a guarda e fazer tolices. É esse basicamente o pano de fundo da comédia dramática francesa “A farsa”, de Nicolas Bedos, que chega aos cinemas nesta quinta (22/12). Engenhosa – e com grandes atuações de nomes igualmente grandes –, a narrativa acompanha um grupo de pessoas na Riviera Francesa.





Há os ricos de verdade, os que ostentam mais riqueza do que realmente têm e os que não têm um tostão e querem entrar para o time dos privilegiados.
 
Adrien Saillard (Pierre Niney) faz parte desse último grupo. Jovem dançarino em ascensão cuja carreira foi encerrada após um acidente, vive como michê de senhoras endinheiradas.

Sua última conquista é Martha Duval (Isabelle Adjani), atriz importante no passado que ensaia continuamente o retorno aos palcos. Enquanto o momento não chega, ela vive de aparências em sua mansão de frente para o mar – o dinheiro já foi mais farto, Martha consegue entreter os amigos com festas custeadas pela venda de algumas obras de arte.
 

 

Sexo e humilhação

Martha despreza Adrien, o mantém como mais um empregado em seu séquito – mesmo que o obrigue a passar algumas noites na cama dela. A terceira personagem dessa história é Margot Hansen (Marine Vacth), jovem, belíssima e vivendo de golpes em homens mais velhos.





Quando seu caminho se cruza com o de Adrien – em cena antológica de masturbação em um carro de luxo e um lago no meio –, a atração é imediata. Os dois iniciam tórrido caso de amor, no apartamento caindo aos pedaços de Margot.

Jovens, bonitos e sem dinheiro, planejam um golpe. A vítima é Simon Laurenti (François Cluzet), proprietário de importante corretora de imóveis da região. Rico, mas não milionário – bem-casado, mas facilmente manipulável. Cai como um pato na história inventada pela dupla.

O filme é aberto com uma citação do escritor britânico Somerset Maugham, que diz que a Riviera Francesa (onde ele próprio morou boa parte da vida) é um “lugar ensolarado para pessoas obscuras”. Na sequência inicial, vemos Adrien e Margot se disfarçando em um quarto de hotel de luxo. De repente, alguém bate à porta. Simon, enfurecido, puxa uma arma e atira em Margot.





A partir desse incidente, o filme transcorre em flashback. Acompanhamos, em cenas curtas, o julgamento de Simon, com depoimentos de todo o grupo de pessoas que o cercam, e os acontecimentos que levaram ao tiro.

“A farsa” é claramente inspirado na Hollywood clássica, com lances de humor e algum suspense. Sempre com cenários incríveis, despreocupação com a vida real e desprezo pelo que é comum.

O filme traz um enredo vertiginoso – em dado momento, o espectador não sabe o que é realmente emoção genuína ou pura falsidade. Margot investe pesado em Simon, e ele está tão apaixonado que ela não pode ser totalmente imune à relação. Ou pode?

Depois de humilhações públicas, Adrien volta com vigor renovado para cima de Martha, que finalmente parece baixar a guarda. Em meio aos planos maquiavélicos do jovem casal com seus pares mais velhos, vemos faíscas – mas o equilíbrio entre eles é tênue.





A trama elegante e exuberante já valeria pelo elenco principal. Mas coadjuvantes têm seus momentos, como Laura Morante, como Giulia, a antiga proprietária de um hotel de luxo com sede de vingança, e Emmanuel Devos, como Carole, a mulher de Simon. Ninguém é de todo inocente – e os verdadeiros culpados só serão revelados no final, que chega a surpreender. 

“A FARSA”

(França, 2022, 132min, de Nicolas Bedos, com Pierre Niney, Marine Vacth, Isabelle Adjani e François Cluzet) – Estreia no Ponteio 4, às 15h50, 18h35 e 21h20 (sábado somente a primeira sessão) e no UNA Cine Belas Artes 1, às 15h30, 18h e 20h30 (sábado não haverá sessões)