Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Na ópera "Amor azul', Gilberto Gil canta a esperança no Brasil

 

Gilberto Gil afirma que tem dois motivos para celebrar sua nova obra, a ópera "Amor azul": a persistência do sentimento amoroso a da volta da esperança política no Brasil.


"São muitas emoções, nunca havia tocado com um conjunto assim", declarou à AFP o cantor e compositor, no Auditório da Rádio France, em Paris. Aos 80 anos, Gil maneja seu violão com tranquilidade diante de 150 músicos do Coro e Orquestra da Rádio France.



"Amor azul" é uma criação operística com influências musicais brasileiras, composta em dois atos em colaboração com o maestro italiano Aldo Brizzi, grande amigo de Gil.

"A hospitalidade da Rádio France e a possibilidade de começar aqui, em Paris, para depois interpretá-la na Europa e em outros lugares dá muita solidez ao projeto", explica o tropicalista baiano.


O libreto é inspirado em poemas hindus e divindades como Krishna. É algo que não surpreende em Gilberto Gil, estudioso da espiritualidade indiana, que o ajudou como refúgio espiritual durante sua detenção no fim dos anos 1960 durante a ditadura militar.

A partir dessas fontes, Gilberto Gil medita musicalmente sobre alguns de seus temas favoritos, com destaque para o amor.

"O amor é tudo, o amor é mais importante que a morte", declara, com um sorriso.

The Who e Tommy

Percussionistas, cantores de ópera da Bahia e dançarinos indianos acompanham a Orquestra Filarmônica no palco. Aldo Brizzi, maestro italiano que já morou no Brasil, não se considera intimidado com a mistura de estilos.



"Agora mesmo, sentado neste palco, com todos esses músicos, pensei no The Who, que também tocou há muito tempo com um conjunto sinfônico", afirma Gil.

O grupo de rock britânico fez história nos anos 1970 com a ópera-rock "Tommy".

"Amor azul" tem ambição mais universal. Gil cita "influências europeias, da Itália, Portugal, França e Espanha, elementos muito presentes na música do Brasil, e outros ingredientes orientais".

O astro é acompanhado pelo filho, Bem Gil. "É natural que esteja aqui. É um músico veterano, já fez muitos projetos comigo. E para ele é um desafio muito importante a oportunidade de tocar com um conjunto destas dimensões", explica.





Modernidade e extrema direita

Transmitir sua mensagem é essencial para o ex-ministro da Cultura.

"Eu estava em um Ministério da Cultura voltado para a modernidade", observa Gil, que ocupou a pasta durante o primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, agora eleito para o terceiro mandato.

"Vivemos um período difícil com a chegada da extrema direita", afirma.

 

"Para (Jair) Bolsonaro, tudo era sobre negócios, capitalismo, lucro, Não tinha a a compreensão mais profunda do significado da palavra progresso, da redistribuição da riqueza", diz o compositor.

"O retorno de Lula, com sua experiência, seu caráter, sua justiça, é o retorno da esperança", conclui Gilberto Gil.