Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Embaixador do Brasil no Egito lança segundo disco com codinome artístico


O ano de 2013 foi muito marcante para o diplomata Antonio Patriota. Então chanceler do governo Dilma Rousseff, ele deixou Brasília para se tornar representante permanente do Brasil junto à Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. E foi justamente neste período de transição que se deu conta de uma questão muito simples: poderia gravar músicas no telefone celular. 





“Foi uma espécie de achado para mim, pois antigamente eu criava melodias e costumava esquecê-las, já que a memória musical vai embora caso você não a registre”, afirma. Neste momento, nasceu Tonio de Aguiar, o nome que o diplomata de 68 anos adota em sua produção musical – em casa, com a família e os amigos, ele sempre foi Tonio, vale dizer. 

Hoje, comenta ele, seu smartphone traz pelo menos uma centena de músicas, compostas ao longo deste período. Seu segundo álbum, “Estuário”, recém-chegado às plataformas digitais, reúne os mundos de Antonio Patriota e Tonio de Aguiar, compositor e pianista.

Desde 2019 embaixador do Brasil no Egito, e com passagens recentes pelas embaixadas da Itália (2016-2019) e dos Estados Unidos (2006-2009), ele apresenta no álbum temas instrumentais e canções que evocam elementos destes lugares. “Estuário” foi gravado em fevereiro, em seu Rio de Janeiro natal, com produção e direção artística de Léo Gandelman.




 
“Os lugares onde vivi acabam tendo influência, pois é impossível você desfazer sua experiência de vida em cidades como Roma e Cairo. Mas claro que isto passa por um filtro diferente na criação musical”, comenta. 

Foi em seu último dia no Palazzo Pamphili que Patriota, acompanhado do Steinway que pertence à embaixada na capital italiana, teve a ideia para a instrumental “O arco”, que abre o álbum – o piano aqui é acompanhado por um quarteto de cordas.

Criação coletiva

Também vem de solo italiano a canção “Portami con Te”, gravada por Paula Morelenbaum. “Tudo o que aconteceu neste disco é uma espécie de processo coletivo. Me lembrei que a Paula tinha cantado em italiano em um disco ao vivo com o Jaques Morelenbaum. Achava muito bonito e comentei com o Léo. Ele mandou para ela, que gostou. Mas me disse que não sabia se ela gostaria de cantar no tom que eu havia composto a música. E ela quis, o que para mim foi uma coisa mágica.”




 
 
A temporada norte-americana encontra ecos em “Farofa blues” e em “The bartender”, em que ele, além do piano, também canta. “Em meu primeiro disco (‘Geografia do sentimento’, de 2018), tentei cantar, mas não gostei do resultado. Neste, já me sentindo mais à vontade, fui encorajado pelo Léo. A primeira música que cantei foi ‘Grief-stricken’, meio pop. E achei que deu certo”, acrescenta.

Patriota não deixou de lado as raízes. Interpretado por João Cavalcanti, o samba “Carnaval do ano que vem” foi inspirado em “Quando o carnaval chegar”, de Chico Buarque (citado nominalmente na letra). Foi composto durante a pandemia, o que fica claro por meio dos versos “O triste despenhadeiro/deste longo tempo de baixo astral/não vai calar meu pandeiro/e impedir que eu curta meu carnaval”.

Lockdown criativo

A crise sanitária, por sinal, foi muito produtiva. “No Cairo, durante a pandemia, fiquei muito limitado e sem muitas obrigações sociais. Passei a me sentar mais ao piano e reunir o novo material. O lockdown estimulou em mim uma criatividade que eu nem sabia que estava lá.”





O piano, por sinal, faz parte da vida de Patriota desde a infância. Estudou piano clássico a partir dos 8 anos. Músico diletante por toda a vida, conheceu Gandelman no período em que viveu em Washington.
 
“Depois do show conversamos um pouco. Alguns anos depois, quando eu já tinha acumulado uma produção, tomei coragem e fui falar com o Léo. Para minha surpresa, ele me disse que eu fazia coisas bonitas e resolvemos trabalhar juntos. A primeira experiência foi como um experimento, porque eu realmente nunca tinha tocado em estúdio.”

Com “Estuário”, ele admite ter tido uma experiência mais completa, pois já estava familiarizado com o universo. Falta agora apresentar-se ao vivo. “Precisaria de mais tempo para ensaiar. Mas gostaria, em algum momento, de fazer um show, talvez em um formato pocket, para um grupo menor”, afirma.

(foto: Reprodução)
“ESTUÁRIO”

• Tonio de Aguiar
• Tratore (11 faixas)
• Disponível nas plataformas digitais