Jornal Estado de Minas

CINEMA

'Depois do universo' bomba na Netflix na cola de 'A culpa é das estrelas'


Há uma subdivisão não oficial se consolidando entre os filmes que contam histórias de amor: o romance de hospital. É aquele tipo de filme em que a mocinha, o mocinho ou ambos têm uma doença que acaba atrapalhando a relação, muitas vezes com final trágico, mas ainda assim edificante.





Pode-se dizer que "A culpa é das estrelas" (2014) é o maior exemplo do gênero, mas o Brasil ganha um representante de peso. Trata-se de "Depois do universo", que já está disponível no catálogo da Netflix e está na lista  Top 10 global da plataforma de streaming.

"Eu adoro 'A culpa é das estrelas', acho um filmaço", admite o diretor Diego Freitas em bate-papo com a reportagem. "Sou um cara muito romântico. Comecei fazendo filme de terror, mas depois descobri o amor, descobri que a gente pode tratar a vida de um jeito mais leve. E uma grande história de amor sempre me impactou."

Na trama, a pianista Nina (Giulia Be) tem lúpus, doença autoimune em que o sistema imunológico ataca os tecidos e órgãos da própria pessoa. As complicações da doença fazem com que ela precise fazer hemodiálise até conseguir um doador compatível de rim. Nas idas e vindas ao hospital, ela se apaixona pelo jovem residente Gabriel (Henrique Zaga). 




 

 

O diretor diz que ficará feliz se as pessoas assistirem ao filme com lencinho para enxugar as lágrimas. "Se a história emocionar, é porque acessou as pessoas em algum lugar. O desejo do diretor é que o público se conecte com o filme."

Porém, ele diz acreditar que os espectadores não pensarão em doença ou morte na maior parte do tempo. "Não é um filme triste nem trágico", defende. "Acho que, no final, a gente pode ter um novo olhar sobre a vida e refletir sobre esses anjos que aparecem quando a gente acha que vai dar tudo errado."
 

 

Reflexões na pandemia

Diego Freitas, que também assina o roteiro ao lado de Ana Reber, conta que teve a ideia por volta de 2020, quando boa parte do mundo estava trancado dentro de casa por causa da pandemia.




 
"Comecei a refletir bastante sobre essa coisa da morte próxima e sobre o que é estar vivo", lembra. "E cruzei com várias pessoas, amigos próximos e familiares, que viveram questões parecidas do filme."

Ele revela que a mãe, Durvalina, estava na fila do transplante durante todo o período de produção do filme, acometida por um câncer de fígado. "Ela não conseguiu chegar aqui para ver o filme pronto, mas vivi isso de perto, na pele", lamenta. "Eu saía da filmagem e ia no hospital ficar com a minha mãe."

Com a trama, ele viu a oportunidade de não só fazer um filme que pudesse fazer sucesso com o público, mas ajudar quem passa por esses problemas. "A hemodiálise ela é cercada de preconceitos, as pessoas acham que você está morto, mas é justamente o contrário: a hemodiálise é uma ferramenta que vai te manter vivo."





O mesmo ocorre com os portadores de lúpus. "Apesar de ser uma doença que várias pessoas têm – não é doença rara –, as pessoas não sabem o que é, acham que pode ser contagioso", conta.

Para viver a protagonista, o diretor diz que testou "várias atrizes ótimas". A profissional precisaria saber tocar piano, assim como a personagem, além de ter musicalidade e encarar com leveza a carga dramática da personagem. A escolhida acabou sendo a cantora Giulia Be, que faz sua estreia no mundo da interpretação.

Giulia e Jade Picon

O cineasta Diego Freitas diz ter conhecimento das críticas a não atores em produções nacionais, como é o caso de Jade Picon em "Travessia" (Globo), mas que Giulia já tinha vontade de se lançar na atuação e fez um teste excepcional. "Eu já trabalhei com vários atores não profissionais e é muito importante abrir para o ser humano a arte de atuar", minimiza. "Ela não é exclusiva de uma pessoa ou de outra, senão 'Cidade de Deus' não teria sido feito."





Animada com a experiência, a cantora diz que é algo que ela pretende continuar exercitando. "Tenho um amor e respeito incondicional pela arte em todas as suas formas, acredito ser uma das ferramentas de cura mais potentes que existe", diz ela.

"A oportunidade de viver a história da Nina neste filme foi um passo fundamental para entender como seguir traçando a minha trajetória da maneira mais autêntica possível daqui pra frente", avalia. "Continuarei me desafiando a alçar novos voos e desafios, seja através da música, da escrita ou nas telas, quero que as pessoas conheçam a minha essência."

Aliás, apesar de ter a música como um fator de aproximação, ela afirma ser bem diferente da personagem. No começo do filme, Nina é mostrada como uma pessoa pessimista, sendo definida por Gabriel como "copinho meio vazio".





"Eu tenho muitas semelhanças com a Nina, mas, quando me conhecem, logo percebem que essa parte da personalidade não é uma delas", diz Giulia. "Eu me identifico mais como uma pessoa que vê, ou pelo menos tenta ver, o copo sempre meio cheio --procuro me manter o mais otimista possível perante as situações difíceis. Faço meditação todo dia, exercícios que me ajudam a cultivar a gratidão e a leveza. Cresci ouvindo isso dos meus pais e tento me espelhar nessa positividade."
 
A cantora e compositora Giulia Be, de 23 anos, já foi indicada ao Grammy Latino e namora o americano Conor, de 28, sobrinho-neto de John Kennedy, ex-presidente dos EUA (foto: Youtube/reprodução)
 
Por sua vez, Henrique Zaga, cujo personagem é o "copinho meio cheio" da relação, diz ver isso como um fator de aproximação entre os dois.
 
"Certamente tenho essa semelhança com o Gabriel, mas ele ainda consegue ir além", compara. "Ele ajuda pacientes terminais a curtirem o tempo restante que ainda têm, ele vive intensamente com escaladas e passeios de bike pela cidade. Eu acho que o Gabriel chega a ser um pouco mais radical que eu. Ele muda muito com a Nina, acho que um pega um pouco das cores, da energia do outro, e é isso que faz a nossa história funcionar tão bem."





Conhecido por papéis em séries americanas como "Teen wolf" e "13 reasons why", além do filme "Novos Mutantes" (2020), esta é a primeira vez que o brasileiro está atuando em sua língua materna. Ele chegou à produção a convite do diretor, que sondou o interesse do morador de Los Angeles em fazer sua estreia em produções brasileiras.

Sai Henry, entra Henrique

"A grande diferença é poder trabalhar com uma equipe de casa, que tem um jeito mais caloroso, mais parecido com o meu em termos de personalidade", conta. "Eu já gravei no Canadá, nos EUA e no Brasil. O mais gratificante para mim foi poder fazer cenas em português, e ter essa troca no meu idioma materno, o idioma que eu cresci falando. Em termos de produção, cada projeto é um bicho diferente, até mesmo dentro do mesmo país."

Antes conhecido como Henry Zaga, ele até está estreando o novo nome profissional nos créditos da produção. "Eu voltei ao meu nome por fazer mais sentido para mim, de forma pessoal", comenta. "Sempre fui o Henrique para todos meus amigos e familiares."





"Tive certa insegurança, algo mais do que normal quando se é jovem e começa-se uma carreira tão difícil de dar certo, fora do meu país de origem", lembra.
 
"Adotei o nome de Henry por achar que cabia dentro do meu nome, e me dar um certo passe de entrada no mercado americano. Mal eu sabia que aquilo não era verdade... Quanto mais autêntico você é, mais ferramentas e lados interessantes da sua personalidade você consegue usar para construir um personagem. Por isso, voltar a ser quem nunca deixei de ser foi tão importante para mim."

Série à vista?

A química dos atores deve encantar jovens adultos no Brasil e chegará a outros países onde a Netflix está presente, mas será que poderia virar franquia, como ocorreu com romances como "A barraca do beijo" e "Para todos os garotos que já amei", entre outros? "A gente não falou ainda sobre uma possível continuação, mas talvez eu tenha ideias", despista o diretor Diego Freitas. 

Caio Castro vive o rapaz folgado que arruma esposa de aluguel (Thati Lopes) para não ser excluído do testamento da mãe (Patricya Travassos) (foto: Netflix/divulgação)

Dois brasucas no Top 10 da Netflix

Além do drama “Depois do universo”, que estreou em 27 de outubro e teve mais de 12 milhões de horas assistidas com apenas uma semana de estreia, a comédia "Esposa de aluguel" acumulou mais de 45 milhões de horas desde sua estreia em 13 de outubro.




 
Com isso, os dois filmes brasileiros entraram para o Top 10 global da Netflix de filmes de língua não inglesa mais vistos nesta semana. "Esposa de aluguel", estrelado por Caio Castro e Thati Lopes, aparece no ranking de mais vistos pela terceira semana consecutiva.
 

 
 
A comédia romântica conta a história do solteirão Luiz (Caio) que nunca se envolveu seriamente com uma mulher. Ele contrata uma esposa de aluguel para não ficar de fora do testamento da mãe (Patricya Travassos). Thati Lopes vive a atriz que se passa por noiva do bonitão, que vive às custas da mamãe.