Jornal Estado de Minas

ARTES CÊNICAS

FIT volta às ruas em novembro, depois do cancelamento da edição de 2020

 
Um evento feito a várias mãos. Assim será o 15º Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte (FIT-BH), que ficará em cartaz de 5 a 11 de novembro. Depois da suspensão da última edição, em 2020, devido à pandemia do novo coronavírus, organizadores anunciam cerca de 30 atrações. A diversidade será o tema da nova edição.





“O FIT forma gerações”, afirma Andreia Duarte, atriz, diretora artística e uma das curadoras da edição deste ano. “Ele tem a capacidade de fazer com que as pessoas reformulem a própria vida”, garante.

Brasil e América Latina em foco

Andreia e os outros curadores, o professor e pesquisador Marcos Alexandre e a atriz, diretora e professora Yara de Novaes, definiram que os espetáculos do FIT-BH devem oferecer reflexões sobre as diversas faces do Brasil e da América Latina.

A ancestralidade indígena ganhará destaque. Sob essa perspectiva, foram selecionados os espetáculos “Xawara”, do potiguar Juão Nym, “Solilóquio”, do argentino Tiziano Cruz, e a videoperformance “Aiku’è (R-Existo) + Rito Pytuhem”, da maranhense Zahy Guajajara, nascida na reserva indígena Cana Brava.

“O Juão mescla a língua guarani e a linguagem performática para resgatar a memória dos povos indígenas do Rio Grande do Norte, estado que não conta com demarcação de terras indígenas, embora abrigue diferentes povos originários”, explica Andreia.




 
"Solilóquio", de Tiziano Cruz, questiona o genocídio indígena na Argentina (foto: Diego Astarita/divulgação)
 
“Solilóquio”, por sua vez, resgata a história dos indígenas da Argentina, vítimas de genocídio entre as décadas de 1860 e 1880.

Interesses econômicos motivaram a guerra aos povos originários, com o apoio do governo argentino. Caciques controlavam a maior parte do comércio na divisa com o Chile, extremamente importante para pecuaristas, o que levou as elites agrária e econômica a se juntarem aos militares, envergonhados por sucessivas derrotas em batalhas travadas com os indígenas.

O pretexto para o ataque deliberado aos nativos foi de que a Argentina, em nome da civilização, não poderia ser país mestiço e nem ter terras dominadas por indígenas. Quem não morreu no conflito padeceu durante a marcha até campos de prisioneiros, em meio ao inverno rigoroso.





“Uma de nossas preocupações foi trazer abordagens que resgatem a memória e a história de um povo, dialogando com os dias de hoje”, ressalta Andreia Duarte.

“No caso de ‘Solilóquio’, o Tiziano recupera a história do genocídio de indígenas argentinos, que muita gente nem sequer sabe que ocorreu”, observa.

 

Realismo fantástico marca a encenação de "Fuego rojo", do Coletivo Patagallina (foto: Cristian Vidal/divulgação)
 

Agenda plural 

Também estarão em cartaz no 15º FIT espetáculos sobre questões caras aos movimentos negro, feminista e LGBTQIA – voltado para lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais e assexuais –, oferecendo discussão estética e também política.

Com a preocupação de descentralizar as apresentações, o festival programou espetáculos para diferentes regiões de BH.
 
Espetáculo "Abena", da Cia. O Bando, se inspira em mito africano para discutir a importância do respeito a todas as culturas (foto: Pablo Bernardo/divulgação)
Entre os locais escolhidos estão os teatros do Sesc Palladium, Palácio das Artes e Viaduto Santa Tereza, no Centro; Teatro Raul Belém Machado, no Alípio de Melo, na Região da Pampulha; centros culturais de Venda Nova, na Região Norte, e do bairro Padre Eustáquio, na Região Noroeste; Kilombo Manzo e Praça do Cardoso, ambos no Aglomerado da Serra, na Região Centro-sul; além de sedes dos grupos Pierrot Lunar e Galpão Cine Horto, na Região Leste, e ZAP 18, na Região da Pampulha.





“Quando se faz um festival com recursos públicos, precisamos ter muito cuidado para atender as demandas da sociedade. Por isso, temos de pensar em atrações para os mais variados públicos e apresentações em diferentes locais da cidade”, explica Andreia.

Cerca de 30 atrações nacionais e internacionais se apresentarão. De Belo Horizonte, participam os grupos Teatro Negro e Atitude, com o espetáculo “À sombra da goiabeira”; Grupo Galpão, com “Nós”; Quatroloscinco, com “Tragédia”; Toda Deseo, com “Trilogia de traumas”; Grupo Oriundo de Teatro, com “Death Lay – na vida tem jeito pra tudo”; Divinas Tetas, com “Ladeira a Bausch”; e Oficcina Multimédia, com apresentações on-line de “Aldebaran” e “Maquinária”, peças que integram a “Trilogia da crueldade”.
 
 

Virão de outros estados os grupos Barca dos Corações Partidos (RJ) e Cia. Mungunzá de Teatro (SP), a atriz, diretora e dramaturga Renata de Carvalho (SP) e o ator Fábio Osório (BA), além do potiguar Juão Nym.





Entre as atrações internacionais, o FIT receberá representantes do Chile (grupo Kimvn), Argentina (Tiziano Cruz) e do México (grupo Lagartijas Tiradas al Sol).

 

Espetáculo "Abena", da Cia. O Bando, se inspira em mito africano para discutir a importância do respeito a todas as culturas (foto: Pablo Bernardo/divulgação)
 

Abertura e cortejo no Centro 

A 15ª edição do FIT-BH vai homenagear a escritora Conceição Evaristo, o escritor e líder indígena Ailton Krenak, o diretor de teatro e dramaturgo João das Neves (1935-2018), o cenógrafo e figurinista Raul Belém Machado (1942-2012) e o fotógrafo Guto Muniz.

Conceição e Ailton participarão de bate-papo sobre terras, humanidades, enfrentamento das opressões e a permanência da ancestralidade na produção de ambos.

"AnonimATO", da Cia. Mungunzá, aborda a importância do encontro neste momento em que o mundo se divide (foto: Pedro Garcia/divulgação)
João das Neves, por sua vez, vai inspirar ocupação com residência artística, que contará com acervo histórico de figurinos de Raul Belém Machado e exposição de fotos de Guto Muniz.
 
Na abertura do festival, haverá cortejo com a presença de Conceição Evaristo, Ailton Krenak, Maurício Tizumba, Marcelo Veronez, Grupo Tambor Mineiro, guardas de congado Nossa Senhora do Rosário e da Irmandade Estrela do Oriente, além de tradicionais blocos de carnaval da cidade. O desfile sairá da Praça Sete em direção ao baixio do Viaduto Santa Tereza.




Programação paralela

Além dos espetáculos, a programação traz oficinas e workshops voltados para escuta criativa, dança raiz, corporeidades negras, teatro e infância, entre outras temáticas. Durante rodada de negociações,  artistas farão contato com curadores de diferentes locais para criar networks.

“Será um evento muito robusto”, afirma a secretária municipal de Cultura, Eliane Parreiras, responsável pelo evento.

“Este ano, o FIT foi feito em menos tempo por causa da pandemia. No entanto, conseguimos um formato diferente, com ênfase no resgate e na celebração da história do teatro, descentralizando as apresentações de modo que as pessoas criem e fortaleçam vínculos com a cidade”, finaliza Eliane.

FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO PALCO & RUA DE BELO HORIZONTE

De 5 a 11 de novembro. Ingressos à venda em breve pelos sites Sympla e Eventim. Informações:http://portalbelohorizonte.com.br/fit