Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Alegria do público foi a grande estrela do festival Planeta Brasil


Se o Planeta Brasil – que prometeu fazer sua “maior edição de todos os tempos” – deu um show de desorganização logo na abertura, no sábado (24/9), o público que enfrentou filas, atraso de apresentações e sol quente foi o espetáculo à parte do festival, encerrado no domingo (25/9) já com os problemas equacionados.





Caso as estimativas da organização se confirmem, cerca de 100 mil pessoas foram à Esplanada do Mineirão no último fim de semana. Com entusiasmo contagiante, o público viu o astro preferido de perto e cantou com ele, depois da “distância forçada” imposta pela pandemia.
 
Fã entusiasmada acompanha o show de Filipe Ret (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
 

Sem fotos de Lauryn

O festival foi encerrado, na noite de domingo, pela cantora americana Lauryn Hill, lenda feminina do rap, com apresentação vigorosa. O show, que começou com meia hora de atraso, viu o público aumentar gradativamente. Fotógrafos e jornalistas foram proibidos de entrar no espaço em frente ao palco para trabalhar.


A plateia de Lauryn foi menor do que a de 50 Cent, astro do hip-hop dos EUA da mesma geração dela, que cantou na noite de sábado (24/9), atraindo verdadeira multidão.

Fã se emociona durante show de Baco Exu do Blues no Mineirão (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Baco e DV Tribo ovacionados

Coube a Baco Exú do Blues entregar, no Palco Sul, possivelmente o melhor show do Planeta Brasil. Ontem, o baiano regeu o público de maneira digna de Mano Brown. A plateia pulava, cantava e erguia os braços, conforme a batuta de Baco.



Outro momento impressionante da reta final domingueira do Planeta foi a adesão do público ao show do coletivo DV Tribo, no Palco Urban.

 

Baco Exu do Blues foi ovacionado no domingo à noite (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
 


No começo da noite, durante apresentação de FBC e Vhoor, o coletivo de rap – com Djonga e Oreia ao microfone – fez show, retomando o pique dos bons tempos.


O grupo, que acabou em 2018, reunia Djonga, FBC, Oreia, Clara Lima e Hot Apocalypse, entre outros artistas. Foi ali que surgiu as bases do rap de BH que vem chamando a atenção do Brasil.


O espaço em frente ao palco, bastante amplo, ficou pequeno para os fãs, e as rampas de acesso ao local estavam lotadas.
Baile funk no Mineirão


Animada domingueira funk foi convocada pelo mineiro Vhoor, que mandou para a pista a colagem de samplers de sucessos do miami bass das antigas. Seu parceiro FBC brilhou no palco, cantando as faixas de “Baile”, disco da dupla que estourou nas redes sociais. O pancadão apimentado de Mac Júlia veio a seguir.





“Ficava na porta desses eventos olhando carro, e agora tô aqui no palco”, disse FBC em dado momento, sob os aplausos da plateia.

 

FBC exibe o São Jorge protetor para o público que dançou funk e curtiu o DV Tribo durante seu show (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
 


Um pouco mais cedo, o rapper carioca Filipe Rett foi ovacionado pelos fãs, reunindo público comparável ao de 50 Cent, no fim da noite de sábado.


Em outro palco domingueiro, encontro emocionado reuniu o anfitrião Black Alien e o convidado Marcelo D2, velhos conhecidos dos primórdios da banda Planet Hemp.


Além de músicas das respectivas carreiras solo, Alien e D2 relembraram sucessos do Planet. D2 prestou tributo ao amigo, falando dos 30 anos de parceria e também lembrando outros nomes seminais em sua trajetória: Speed Freaks, Skunk (ambos falecidos) e BNegão.

 

Abraço emocionado de Marcelo D2 e Black Alien (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
 

Clima de eleição e vaias para Bolsonaro

A uma semana da eleição presidencial, a política compareceu à Esplanada do Mineirão. O grupo Gilsons, formado por filhos e netos de Gilberto Gil, comandou o coro de “Lula lá” durante seu show. Na apresentação de Criolo, a plateia xingou o presidente Jair Bolsonaro e fez o “L” com as mãos. Marcelo D2 puxou coro contra o governador de Minas, Romeu Zema.





Criolo deu seu recado contra o racismo. “Rap, samba, funk: música preta! Só pra lembrar, porque depois que faz sucesso, querem embranquecer”, disse ele, aludindo à marcante presença de artistas negros no Planeta Brasil.

 

Criolo falou contra o racismo, dizendo que tentam ''embranquecer'' os negros depois que eles fazem sucesso (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
 


A presença feminina do hip-hop foi marcada pela presença de MC Carol no palco de Criolo,no sábado. Ela fez questão de se apresentar, apesar de o atraso do show mineiro pôr em risco sua agenda em São Paulo, mais tarde.


Nas redes sociais, a artista afirmou que seu respeito por Criolo é maior do que “qualquer contratante”, e observou: “Mesmo estando no meu total direito de simplesmente não subir ao palco quando o combinado não é cumprido”.





50 Cent mandou bem, apesar do empurra-empurra

Fechando o sábado, 50 Cent, referência do hip-hop americano, cantou os sucessos de sua carreira. Não poupou citações a Dr. Dre e Eminem. Entregou o show tão esperado e mostrou que é um dos maiores do rap, aos 47 anos.


Amparado por imensa estrutura, com a qual os outros artistas não contaram – um palco foi montado sobre o palco –, 50 Cent atraiu o público mais numeroso da abertura do festival. Porém, houve empurra-empurra antes da apresentação, quando seguranças tiraram as pessoas que estavam à frente do palco, onde foram ver o show do americano Ty Dolla $ign.


Por exigência de 50 Cent, ninguém mais poderia ficar naquele espaço, nem os jornalistas, assim como ocorreu com Lauryn Hill. A impressão era de que todo o esquema armado em torno do astro reverberava a equação antipática de ego e megalomania. Para se ter uma ideia, enquanto ele estava no camarote, a circulação de vários acessos nas proximidades foi interrompida.





 

50 Cent apresentou sucessos de sua carreira e atraiu o maior público de sábado (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
 

Sem Poze do Rodo

A plateia fez a festa nos shows de Duda Beat, Marina Sena, Vanessa da Mata, Iza, Anavitória, Natiruts, Jão, Sidoka, Lagum e Chico Chico. Cerca de 100 artistas foram anunciados para os seis palcos. Problemas de organização no primeiro dia levaram ao cancelamento de artistas ligados à produtora Manistream, entre eles o MC Poze do Rodo, destaque da nova geração do funk e do rap.

O gramado do estádio, coberto por placas, se transformou em gigantesca rave, onde tocaram KVSH, Cat Dealers, Chemical Surf e Gui Boratto, entre muitos outros.


Destacaram-se também atrações internacionais como Sticky Fingers, que fez show animado no sábado, Julian Marley e o rapper americano Ty Dolla $ign.

 

Estrela do pop nacional, a mineira Marina Sena abriu o domingo no Planeta Brasil (foto: Planeta Brasil/divulgação)
 

Fila na orla da lagoa

Apesar dos perrengues de sábado, Matheus Vinícius, desenvolvedor de sistemas, afirmou que o festival “foi show”.





“Estava meio cheio no Djonga, então a gente desceu para dar uma respirada para depois ir curtir os outros. Planet Hemp curti demais, achei muito bom. Criolo não deu para ver porque o horário não batia. Só a questão da entrada é que deixou muito a desejar. Cheguei cedo, prometeram abrir o portão ao meio-dia, a gente foi entrar quase 15h. Ficamos numa fila que estava chegando na orla da Pampulha”, contou ele.

A funcionária pública Renata Batista lamentou ter perdido o show do Planet Hemp, no sábado à tarde. “Eles tocaram mais cedo do que estava previsto. Tinham avisado que poderia haver mudança de horários, mas isso deveria ter sido comunicado de modo mais claro”, disse.

A agrônoma Karine Silva veio do interior só para ver os shows, sobretudo o de 50 Cent. “Estou apaixonada pelo Planeta Brasil, é minha primeira vez. Sou apaixonada pelo 50 Cent, também sou encantada com Criolo, encantada com Djonga”, revelou.





 

Duda Beat abriu o festival no sábado (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
 

Vendas casadas

O festival chegou à 10ª edição com estrutura impressionante e boa qualidade de som. Os problemas marcaram o sábado, mas ontem o público pôde aproveitar com tranquilidade os shows. Porém, teve de pagar caro pela comida e pela bebida, o que não é surpresa em eventos do gênero.

Para adquirir cerveja a R$ 15, por exemplo, era necessário comprar o copo a R$ 10, apesar da proibição da venda casada de produtos.