Jornal Estado de Minas

DA DOR À ARTE

Beyond Walls: artista francês Saype realiza obra em homenagem a Brumadinho


Há três anos e meio o rompimento da barragem da mineradora Vale matou 272 pessoas em Brumadinho, na Grande BH, e muitas famílias vivenciaram não apenas a extrema dor da perda repentina, mas a dura incerteza do que poderia ter acontecido com o pai, a mãe, o filho, o irmão. Logo, corpos começaram a ser encontrados após dias, meses ou anos. Sob esse pano de fundo, o artista francês Guillaume Legros realizou uma pintura gigantesca, com tinta biodegradável, no campo de futebol do bairro Córrego do Feijão - utilizado em 2019 para o pouso de helicópteros e o depósito dos cadáveres das vítimas.




Agora, braços interlaçados pintados pelo artista plástico, que atende pelo nome Saype, formam uma “corrente” humana e buscam resignificar um ambiente que passou a evocar, nas lembranças dos moradores, os traumas de uma tragédia que entrou para a história do país. Para além do simbólico, Saype promoveu neste domingo (24/7) um abraço coletivo junto à comunidade.

 

Praia de Copacabana, no Rio, foi o primeiro local a receber a intervenção artística de Saype no Brasil (foto: Saype/Divulgação)
Com a iniciativa, Brumadinho entrou para o rol das 30 cidades ao redor do mundo escolhidas pelo artista para deixar sua marca com o projeto “Beyond Walls” (Além dos Muros), iniciado em 2019 e a ser concluído em 2023. A Praia de Copacabana, no Rio, foi o primeiro local a receber a intervenção no Brasil na última quarta-feira (20/7).



Outra obra, de mesma temática, foi feita no Instituto Heitor Carrilho, que integra a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária, ao lado do Morro do Zinco, Região Central do Rio. Lá, o artista também jogou bola com moradores.





Conexão humana


Conforme Saype, o objetivo do projeto é criar um “símbolo de maior conexão humana e fazer com que as pessoas mais importantes do mundo achem uma solução global para os problemas que a humanidade tem”.

 

Saype usa tinta biodegradável para realizar pintura no campo de fubebol do bairro Córrego do Feijão (foto: Saype/Divulgação)


“Estou aqui porque em 2019 teve um desastre em que 272 pessoas morreram, pois uma mina se rompeu, e eu acho que é muito difícil para as pessoas pensarem em um futuro neste tipo de situação. Como um artista, você quer ‘aumentar o coro’ para apoiar a luta deles. Essa é a primeira razão”.


O artista reconhece a importância das minas, mas, por outro lado, enfatiza a preocupação com as pautas ambientais. “Precisamos de sinergia para oferecermos aos trabalhadores um ambiente seguro de trabalho e, ao mesmo tempo, respeitarmos o meio ambiente e à ecologia”.





Sobre o artista


Saype, contração de say peace em inglês, é o nome artístico do francês Guillaume Legros, de 33 anos. Autodidata e dedicado a realizar pinturas gigantes ao ar livre, o artista plástico teve seu nome listado pela Forbes europeia como um dos jovens mais influentes na área cultural no mundo, em 2019. Nesse mesmo ano, ele foi o único artista franco-suíço a participar das comemorações da queda do Muro de Berlim.

No rol de lugares grandiosos onde Saype já expôs seus trabalhos estão a sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque; o Champ de Mars, uma das maiores áreas verdes em Paris; e a Bienal de Veneza.