Jornal Estado de Minas

POLÍTICA CULTURAL

Secult defende sua conduta em relação a projeto de filme de Helvécio Ratton


A Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), por meio de seu subsecretário de Cultura, Igor Arci, procurou o Estado de Minas para oferecer mais informações a respeito do tema da reportagem “Ratton devolve R$ 549 mil ao estado e critica a Secult”, publicada na última terça-feira (5/7), na qual a pasta havia sido ouvida.





Em 18 de maio, a Quimera Filmes, empresa do cineasta Helvécio Ratton e da produtora Simone Matos, devolveu aos cofres públicos o valor de R$ 549 mil – referente ao projeto aprovado pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura “Não abuse”.

Seria um longa-metragem de ficção baseado em fatos sobre abuso sexual infantil – a maior parte do filme seria em live action, mas ele traria um trecho em animação.

A decisão de devolver o dinheiro foi tomada pelos próprios proponentes do projeto, algo inédito nesta gestão da Secult. Na justificativa para a devolução, Ratton e Simone, os signatários, elencaram uma série de dificuldades impostas pela própria Secult para a realização do projeto.

A secretaria, por seu lado, considerou que o mesmo “apresentava irregularidades, como não cumprimento de prazos legais, para readequação e alteração do projeto, conforme determina a lei”.

A verba foi recebida pela Quimera no final de 2018 – o valor correspondia a uma parte do orçamento do longa, de quase R$ 3 milhões. A partir de 2019, com o desmantelamento do setor de audiovisual em nível federal, e a pandemia iniciada em 2020, a produtora decidiu tentar uma readequação do mesmo para que ele não fosse interrompido.



A ideia inicial era realizar com a verba estadual a parte de animação. Caso não fosse possível fazer um longa, tal parte seria transformada em curta.


Objeto

“Ele queria que nós aceitássemos a execução de um objeto (o filme) que não era o que ele aprovou. O recurso que tinha sido aprovado era para um objeto X e ele queria um objeto Y. Por lei, não se pode fazer isso. E, com sinceridade, ainda bem que não pode. Imagina receber dinheiro de um patrocinador para executar um filme referente à história de Minas e, no meio do percurso, não consegue executá-lo e faz um filme sobre a história do Rio?”, afirmou Arci.

De acordo com o subsecretário, a lei é clara. “E serve para todos, tanto para o Ratton quanto para quem está começando agora. Ele captou para fazer um longa, pode ser até um quinto do longa, mas o objeto é o longa, não uma animação (em curta-metragem).” 

Arci afirma que tal questão foi explicada a Ratton e Simone em reuniões virtuais. “Ele fez reunião comigo duas vezes este ano e, no ano passado, uma vez com o (Maurício) Canguçu (subsecretário de Cultura até o fim de 2021).” 

O cineasta e a produtora contestam essa declaração. Afirmam que nunca se reuniram com Canguçu e que só tiveram um encontro on-line com Arci, em 15 de abril de 2021, quando ele era superintendente de fomento cultural, economia criativa e gastronomia da Secult. 

“No princípio, pensamos que não estaríamos mudando de objeto, mas de forma. Ao invés de um longa, seria um curta. Quando disseram (a Secult) que não poderia ser feito, dissemos que tudo bem. Faríamos a parte de animação dentro do longa, não mais como um curta”, afirma Ratton.





A partir da dita reunião on-line, a Quimera começou a fazer as readequações demandadas pela Secult para um longa, de acordo com a produtora. Houve duas diligências respondidas pelo órgão no período acordado mas, a partir da terceira, em junho de 2021, não houve mais respostas. 

A ausência de retorno, mais empecilhos burocráticos, fizeram com que a produtora desistisse do projeto e resolvesse devolver o dinheiro. “Abandonamos o projeto por cansaço e desgaste emocional com a Secult. No nosso entender, não existe na secretaria uma política de audiovisual”, diz Ratton.