Jornal Estado de Minas

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A volta de "Borgen" é um presente para fãs de tramas políticas inteligentes


O título “Borgen: O reino, o poder e a glória” dá a entender que se trata de uma nova série da Netflix. Mas não, é “apenas” a quarta temporada do drama político dinamarquês de 10 anos atrás, que a plataforma lançou no Brasil há dois, fazendo dele um hit, como já havia ocorrido em boa parte do mundo. 





As três temporadas originais, produzidas entre 2010 e 2013 pela Danmarks Radio, estão disponíveis com o título “Borgen”. Esta nova, cria da Netflix, é que vem com o subtítulo.

Preciosismos à parte, o que importa aqui é que este retorno é uma bola dentro. Série inteligente, adulta, contemporânea, reflete muito sobre o mundo de hoje. Há algo de podre no reino da Dinamarca, uma das frases antológicas de “Hamlet”, vale também para resumir a atmosfera desta temporada de retorno.

“Borgen” acompanha Birgitte Nyborg (Sidse Babett Knudsen), que na trama original havia se tornado a primeira mulher a comandar a Dinamarca. Dez anos depois, ela continua na ativa – com menos poder e mais liberdade de atuação. Ela é ministra das Relações Exteriores no governo comandado por outra mulher, Signe Kragh (Johanne Louise Schmidt). 




PARTIDO

Birgitte, que formou um novo partido, o Novos Democratas, não se cansa de lembrar que a atual primeira-ministra, além de líder do Partido Trabalhista, é quase 10 anos mais nova que ela. E não perde a oportunidade de postar nas redes sociais a hashtag politicamente correta #OFuturoÉFeminino.

Fica claro que as duas não se bicam, mas uma tem que engolir a outra. Pessoalmente, Birgitte, curada de um câncer de mama, está divorciada, mas se dá superbem com o ex e a nova mulher dele, que está grávida. Tudo muito civilizado. 

Os filhos cresceram e não moram mais com ela. Mas Magnus (Lucas Lynggaard Tonnesen), agora com 21 anos, virou um fundamentalista verde – de soltar porcos que acabam tendo que ser sacrificados diante da atitude dele. Em meio a uma vida pessoal solitária, Birgitte tem como companhia os calores insuportáveis da menopausa.





Pois bem, diante desse cenário, a Dinamarca é abalada com a descoberta de petróleo na Groenlândia. Como assim? Então, o território gelado habitado por menos de 60 mil pessoas, a maioria inuits (os povos nativos da região), é uma ex-colônia dinamarquesa? Atualmente, é uma região autônoma da Dinamarca, cuja autonomia, na verdade, é relativa.

A descoberta pode mudar totalmente a vida da população local, que sofre com desemprego, vício em drogas e pouca educação. O cálculo é que a exploração renderia US$ 285 bilhões em um período de 30 anos.

Mas não, diz Birgitte, tal exploração contraria o Acordo de Paris, em que a Dinamarca prometeu se tornar um país carbono neutro até 2050. Mas então ainda teríamos 28 anos para explorar até chegar a esse ponto, contra-ataca a primeira-ministra. A história vai longe, já que grandes potências – EUA e China – disputam influência.





E sempre com um pé no real – a série cita tanto a pandemia quanto a invasão da Ucrânia pela Rússia, Birgitte não tarda em descobrir que os russos estão na jogada. Um magnata, íntimo de Putin, teria comprado uma parte da participação da empresa canadense que está perfurando petróleo. Como o governo dinamarquês vai autorizar um projeto no momento em que várias nações estão fazendo sanções à Rússia por causa da Ucrânia? E mais: com um possível mafioso por trás de tudo?.

Tem até a CIA no meio, a imprensa em cima, e Birgitte, como sempre, não tarda a meter os pés pelas mãos. Mas também dá um jeito em tudo. As maquinações são geniais – e a briga entre mulheres, irresistível.

“BORGEN: O REINO, O PODER E A GLÓRIA”

• A quarta temporada da série, com oito episódios, está disponível na Netflix